Seleção sub-17 que se sagrou campeã europeia na Albânia, no regresso a Portugal com o troféu (Miguel Nunes)

Sub-17: equipa «sem estrelas» domou a rebeldia e ganhou o brilho do sonho

Campeões europeus voltaram, nesta terça-feira, a Portugal com o troféu e o direito a sonhar. No início do percurso desta geração a trabalhar com Bino houve rebeldia e indisciplina, mas um ano depois o rumo parece ter sido encontrado

Sem a bola nos pés, é difícil arrancar um sorriso ao melhor jogador do Europeu de sub-17 que Portugal conquistou no domingo. A timidez de Rafael Quintas ganha contornos ainda mais vincados quando tem mais de 10 câmaras e microfones apontados a si.

E talvez seja sintomático que, na chegada dos novos campeões europeus a Lisboa, o momento em que se viu um sorriso a Quintas tenha sido quando lhe perguntaram se este é um grupo fácil de capitanear. «Não é fácil, mas é muito bom ser capitão desta equipa porque são pessoas incríveis e ajudam-me sempre», atirou, sucinto, quase que a passar despercebido como faz no campo, onde é um monstro-sombra cujo papel principal parece tantas vezes ser o de roubar o brilho dos adversários.

Se no momento de elogiar o médio formado no Benfica uma das principais características que lhe apontam é a liderança, torna-se fácil perceber a razão para Bino lhe ter dado a braçadeira de capitão, numa equipa que o selecionador assume ter tido de ‘domar’ e que agora conduziu ao terceiro título europeu de sub-17 da história de Portugal.

«Foi um percurso tão imperfeito no início que acabou tão bem», lembrou, num suspiro, recordando a rebeldia que teve de enfrentar há um ano, no início do trajeto junto desta geração que revelou alguns problemas disciplinares. «Os sub-16 são o escalão mais difícil de treinar porque eles estão sujeitos a uma série de mudanças, estão em desenvolvimento, a emancipar-se e a querem impor-se. Há muita coisa que é preciso saber gerir. Nós tivemos alguns problemas, como acontece com todas as famílias, mas fomos crescendo e chegámos ao ponto decisivo com uma maturidade excelente dos nossos jogadores que deram este resultado», sublinhou.

Da Albânia, além do troféu e da prova clara de maturidade, os novos campeões europeus trazem também o direito a sonhar. Ainda que, como notam o capitão e o selecionador, um título, mesmo que Europeu, nos sub-17, não é garantia de nada. «Espero que eles tenham um futuro risonho. Conquistar o campeonato da Europa de sub-17 não lhes garante nada, mas mostra às pessoas que há qualidade e que têm de estar atentas para os ajudar a continuar a crescer. Porque o trajeto deles só está a começar», defende Bino.

Uma ideia partilhada por aquele que foi considerado o melhor jogador da prova. «É muito cedo para antecipar como vai ser a minha carreira. Tenho muito jogo e muito futebol pela frente. É incrível, vai ajudar-nos a dar um bom salto, mas temos de continuar humildes e a trabalhar porque sem isso não chegamos longe», nota Quintas.

O abraço que «disse tudo»
O que se diz a um miúdo de 17 anos que acaba de se tornar campeão europeu e é eleito o melhor jogador da competição? Para o comum dos mortais, essa questão não se coloca. Mas João teve de lidar com essa situação em Tirana, no domingo, partilhou com A BOLA aquilo que (afinal) não se diz. «Não lhe disse nada. Abracei-o, simplesmente. Acho que lhe disse tudo com isso», confidencia, instantes depois de ter voltado a abraçar o filho, no regresso deste a Portugal. Ainda assim, para aquele que foi um dos mais efusivos na chegada da comitiva lusa, ontem, no aeroporto Humberto Delgado, o prémio ganho pelo filho, além de natural orgulho, traz um sentimento de justiça. «O Rafael merece muito. Ele é um miúdo muito humilde, muito esforçado, tecnicamente não é um suprassumo, mas estas conquistas são mérito do trabalho dele», realça. «A distinção é o reconhecimento daquele trabalho que não se vê. Estamos habituados a ver os goleadores a ganhar estes prémios e não tanto um médio. Mas para ele é o consagrar de todo o esforço», acrescentou, antes de apontar o que tem de se seguir no caminho de Rafael. «É manter os pés no chão, desfrutar disto porque nunca se sabe o dia de amanhã, e continuar a trabalhar», resume.

Um espírito que parece estar bem enraizado em todos, como se percebe também nas palavras de Bernardo Lima quando descreve a equipa. «Em comparação com o ano passado [Portugal foi finalista vencido], sabemos que a nossa equipa não tem tantas estrelas. Aquela geração tinha o Geovany Quenda e o Rodrigo Mora. Mas o facto de sermos assim até é melhor para nós, porque somos todos iguais. Ninguém está acima do outro, somos tratados da mesma forma e isso no final torna-se melhor. Temos sempre de dar o máximo por cada um, sem vedetismos», finaliza o também médio.