Sub-17: equipa «sem estrelas» domou a rebeldia e ganhou o brilho do sonho
Sem a bola nos pés, é difícil arrancar um sorriso ao melhor jogador do Europeu de sub-17 que Portugal conquistou no domingo. A timidez de Rafael Quintas ganha contornos ainda mais vincados quando tem mais de 10 câmaras e microfones apontados a si.
E talvez seja sintomático que, na chegada dos novos campeões europeus a Lisboa, o momento em que se viu um sorriso a Quintas tenha sido quando lhe perguntaram se este é um grupo fácil de capitanear. «Não é fácil, mas é muito bom ser capitão desta equipa porque são pessoas incríveis e ajudam-me sempre», atirou, sucinto, quase que a passar despercebido como faz no campo, onde é um monstro-sombra cujo papel principal parece tantas vezes ser o de roubar o brilho dos adversários.
Se no momento de elogiar o médio formado no Benfica uma das principais características que lhe apontam é a liderança, torna-se fácil perceber a razão para Bino lhe ter dado a braçadeira de capitão, numa equipa que o selecionador assume ter tido de ‘domar’ e que agora conduziu ao terceiro título europeu de sub-17 da história de Portugal.
«Foi um percurso tão imperfeito no início que acabou tão bem», lembrou, num suspiro, recordando a rebeldia que teve de enfrentar há um ano, no início do trajeto junto desta geração que revelou alguns problemas disciplinares. «Os sub-16 são o escalão mais difícil de treinar porque eles estão sujeitos a uma série de mudanças, estão em desenvolvimento, a emancipar-se e a querem impor-se. Há muita coisa que é preciso saber gerir. Nós tivemos alguns problemas, como acontece com todas as famílias, mas fomos crescendo e chegámos ao ponto decisivo com uma maturidade excelente dos nossos jogadores que deram este resultado», sublinhou.
Da Albânia, além do troféu e da prova clara de maturidade, os novos campeões europeus trazem também o direito a sonhar. Ainda que, como notam o capitão e o selecionador, um título, mesmo que Europeu, nos sub-17, não é garantia de nada. «Espero que eles tenham um futuro risonho. Conquistar o campeonato da Europa de sub-17 não lhes garante nada, mas mostra às pessoas que há qualidade e que têm de estar atentas para os ajudar a continuar a crescer. Porque o trajeto deles só está a começar», defende Bino.
Uma ideia partilhada por aquele que foi considerado o melhor jogador da prova. «É muito cedo para antecipar como vai ser a minha carreira. Tenho muito jogo e muito futebol pela frente. É incrível, vai ajudar-nos a dar um bom salto, mas temos de continuar humildes e a trabalhar porque sem isso não chegamos longe», nota Quintas.
Um espírito que parece estar bem enraizado em todos, como se percebe também nas palavras de Bernardo Lima quando descreve a equipa. «Em comparação com o ano passado [Portugal foi finalista vencido], sabemos que a nossa equipa não tem tantas estrelas. Aquela geração tinha o Geovany Quenda e o Rodrigo Mora. Mas o facto de sermos assim até é melhor para nós, porque somos todos iguais. Ninguém está acima do outro, somos tratados da mesma forma e isso no final torna-se melhor. Temos sempre de dar o máximo por cada um, sem vedetismos», finaliza o também médio.