O diretor geral do futebol leonino, Bernardo Morais Palmeiro, com o presidente Frederico Varandas (SPORTING CP)

Sporting confidencial: toda a verdade sobre o último dia do mercado

A negociação com excêntrico milionário grego e o motivo por que Jota Silva não foi inscrito a tempo (por um minuto). A brecha que meteu Kevin no radar. Harder inscrito mesmo à queima e com o agente de Gyokeres metido ao barulho na transferência para o RB Leipzig. E ainda o que Clayton do Rio Ave teve a ver com o processo de Jota

Adivinhava-se agitado mas o último dia do mercado de verão do Sporting acabou mesmo por ser uma montanha-russa. Em Alvalade o dia começou cedo e com esperança por Kevin, terminou tarde e com a deceção da transferência falhada de Jota Silva e teve pelo meio a vertigem da saída de Conrad Harder para o Leipzig. E se o português não foi inscrito por um minuto em Portugal, o dinamarquês foi por um triz apresentado na Alemanha.

Ioannidis estava certo. Era só lançar o vídeo da apresentação feito na véspera e libertar para a CMVM o documento que confirmaria os valores da transferência do avançado do Panathinaikos para o Sporting: 22 milhões de euros fixos mais 3 milhões em bónus. Tudo certo. Nem era tema. Havia porém três dossiês a centrar atenções em Alvalade até à meia-noite de dia 1 de setembro.

Comecemos pelo fim, por Jota Silva. Não era um dossiê de última hora, como parece. Era uma pasta de dois meses mas que esbarrou sempre na intransigência do multimilionário e excêntrico grego dono do Nottingham Forest, Evangelos Marinakis, 58 anos — também é presidente do Olympiakos e tem participação maioritária no Rio Ave. A negociação, que chegou a estar dada praticamente por falhada, só foi desbloqueada pela administração da SAD leonina, liderada por Frederico Varandas e com Bernardo Morais Palmeiro como diretor geral do futebol, pouco depois das 23 horas.

Alcançado o acordo pelo avançado, restava pouco mais de 50 minutos para os departamentos jurídicos dos dois clubes prepararem e trocarem a documentação que entrou no TMS (Transfer Matching System), plataforma da FIFA para registo das transferências, pouco antes da meia-noite. O problema foi que o report que o sistema gera e que depois serve para o clube registar a inscrição do jogador na Liga demorou algum tempo e o mail enviado para a Liga foi rececionado um minuto depois da meia-noite. E por um minuto Jota Silva não é jogador do Sporting.

Mas a demora neste processo teve Marinakis como principal ator. O grego tinha em mente vender o avançado por 20 milhões de euros mas o Sporting, sabe A BOLA, estava tranquilo e tinha também um plano para a contratação do português e não se desviaria por nada dessa linha: a operação só aconteceria por empréstimo e com opção simples — nada de cláusulas obrigatórias ou por objetivos de dificuldade mínima. Os verdes e brancos foram até ao fim e Marinakis disse sempre não.

As conversas vinham de há dois meses mas as negociações intensificaram-se nos últimos dias do mercado. O Sporting chegou à taxa de empréstimo de €4,5 M e opção de €15 M, perto portanto dos €20 M que o grego queria mas em definitivo — o Botafogo meteu-se ao barulho com proposta de €19+4 milhões mas Jota Silva só queria o Sporting e até já tinha dito não ao Leeds também, como o Paris FC no passado tinha visto recusada possibilidade de empréstimo de €3,5 M de taxa mais €16/17 milhões de opção.

21 horas, 22 horas, 23 horas de segunda-feira e nada de Marinakis, que nessa altura continuava a dizer não aos brasileiros e já estava o filho do milionário também envolvido no processo. O pai, esse, estava igualmente melindrado com os leões pelo facto destes não terem avançado por Clyaton, do seu Rio Ave, e mais ainda por terem preferido contratar o avançado, Ioannidis, na Grécia mas ao rival do também seu Olympiakos, o Panathinaikos, deixando 22 milhões de euros nos cofres do emblema do trevo num negócio que pode chegar aos 25 milhões.

Foi então pouco depois das 23 horas que o Nottingham aceitou a proposta do leão. Havia pouco mais de 50 minutos para o processo, sempre demorado, do registo no TMS da FIFA, deste sistema gerar o já referido report e de fazer entrada de tudo na Liga. Falhou por um minuto.

O dossiê Kevin

Jota Silva foi o último capítulo do dia, Kevin o primeiro. O Sporting anda há várias janelas de mercado há procura de um extremo esquerdo de pé direito mas demora em consegui-lo, porque o quer diferenciado. E jogadores diferenciados custam dinheiro, se for para o ataque ainda mais.

Yeremay, do Corunha, era o alvo principal. O espanhol disse não a Nápoles, Como, Roma e Dortmund mas disse sim ao Sporting. Mas o Corunha não quis vender, só por uma cláusula que, garantem na Galiza, está acima dos 60 milhões. Ficou no entanto Yeremay para memória futura…

Tzolis, além de caro não queria sair do Club Brugge; Ezzalzouli do Betis também não e Konstantelias, do PAOK, a mesma coisa. Ainda havia Kevin. Ou melhor, não havia, porque o Fulham andava em cima. Mas uma brecha entre o Shakhtar e os ingleses abriu-se e no último dia o Sporting fez um esforço final e perguntou e estudou a forma de atacar o brasileiro dos ucranianos. Junto do empresário Paulo Pitombeira e do jogador recebeu ordem positiva, contactou o Shakhatar e estava até disposto a apresentar oferta milionária mas complexa que mediante bónus, prazos de pagamento dilatados e outras engenharias poderia chegar aos €40 M. Porém essa proposta nunca ganhou forma.

A brecha entre ucranianos e ingleses acabou por fechar quando o emblema londrino avançou com os 40 milhões — empréstimo com cláusula obrigatória.

O dossiê Harder

Entre Kevin e Jota Silva houve ainda Conrad Harder. O tal que esteve com um pé no Rennes, outro no Milan, ainda viu o Chelsea perguntar mas acabou no RB Leipzig. E a transferência foi registada poucos minutos, conta-nos fonte do clube alemão, antes das 20 horas locais, a hora programada para fecharem as inscrições na Bundesliga.

Até Leipzig, o avançado dinamarquês de 20 anos viu franceses e italianos desistirem do acordo que tinham de 23+3 milhões devido à demora do Sporting em encontrar o substituto, que foi Ioannidis. Mas também porque o empresário Ibrahim Tasci fez milionárias exigências de última hora que, afinal, tinha por trás o agente de… Gyokeres, Hasan Cetinkaya, que mantém com os leões má relação desde o imbróglio da saída do sueco para o Arsenal.

Já com Harder certo no RB Leipzig, por €24+6 M, houve provocação da parte de um dos elementos da agência HCM Sports Management a Frederico Varandas. Jonathan Chalkias, o funcionário que segue Gyokeres, que estava em Portugal e que o acompanhava durante o prolongamento das férias em Maiorca quando faltava aos treinos dos leões, publicou nas redes uma foto de Cetinkaya com Conrad Harder e o empresário do dinamarquês, revelando a participação direta mas sigilosa da HCM Sports Management na operação de saída do avançado. Na legenda, escreveu o nome do presidente do Sporting com dois emojis, um deles de gargalhada.

Em Alvalade, no entanto, a provocação bateu na trave: porque não houve, por parte dos verdes e brancos, pagamento de qualquer comissão nesta operação do nórdico.