«Sou tóxico, as pessoas ficam piores por se relacionarem comigo»
Apesar do mau momento do Uruguai, a pouco mais de meio ano do Mundial 2026, Marcelo Bielsa não se demite do comando técnico da seleção sul-americana, garantiu o próprio.
O técnico argentino fez questão de marcar uma conferência de imprensa no regresso da equipa a solo uruguaio, depois da goleada sofrida frente aos Estados Unidos (5-1), num encontro de carácter particular.
Bielsa, sempre muito particular na postura, admitiu que a charrua não atravessa um bom momento, mas garante que continua com a mesma vontade de estar ao serviço da equipa uruguaia.
«Tenho a mesma força desde o primeiro dia para continuar na seleção uruguaia até ao Mundial. Se em algum momento ponderei que não devia continuar ou demitir-me, não foi agora», garantiu.
«Perder por 5-1 não é um episódio que se possa ignorar, uma pessoa sente-se envergonhada com resultados deste tipo, mas o que se faz é analisá-lo a nível pessoal e depois partilhar as questões que surgem após uma exibição tão negativa», continuou, antes de garantir: «O projeto continua como está até ao Mundial é a síntese da conversa que tive com o presidente da Associação Uruguaia de Futebol.»
O experiente treinador de 70 anos assume a responsabilidade pelo momento, mas diz que é preciso ir mais além do que apenas dizê-lo: é preciso perceber os erros que foram cometidos.
«É preciso dizer o que se fez mal para ver se a frase 'assumo a responsabilidade' tem algum peso ou não. Sempre me responsabilizei e fi-lo de forma legítima e não enganosa. Em cada oportunidade, resumi os erros que acredito ter cometido», afirmou.
Sobre si, e sempre ao seu estilo, Bielsa reconheceu que não é uma pessoa fácil de lidar e assumiu mesmo que é... tóxico.
«Digo sempre uma coisa: sou tóxico. Relacionar-se comigo piora quem o faz. Sim, tóxico. Há pessoas tóxicas que só veem o erro, que exigem, que nunca estão satisfeitas com nada», explicou.
«Vivo isto como um karma... Sabem em que se baseia essa conduta? No medo. Não se desfruta da vitória. Teme-se muito mais a derrota do que se desfruta da vitória», prosseguiu.
Sobre uma alegada insatisfação no balneário do Uruguai, que conta com Maxi Araújo (Sporting) e Rodrigo Zalazar (SC Braga), Bielsa defendeu que não pode guiar-se por rumores.
«Constroem-se rumores e a sua origem, mas também há fundamentos. No meu caso, tenho contacto com os jogadores e não me posso guiar por um rumor, seja ele credível ou não. Sempre que surge o momento propício para fazer uma liderança tropeçar, aqueles com interesses estimulam esse momento», defendeu.
«Se tenho contacto com os jogadores e parto do princípio de que eles querem que eu saia, é muito simples: vêm e dizem-me: 'olhe, Bielsa, queremos que se vá embora'. Por isso, não me posso guiar por nenhum rumor. Eu próprio tenho a possibilidade de obter informação direta dos protagonistas.»