Serenidade com pulsação a mil
Manuel Cajuda disse, um dia, que as pessoas não imaginam o que um treinador sofre no banco durante um jogo. Vítor Manuel usou um aparelho que media a pulsação e a tensão arterial durante um jogo e os números foram assustadores. José Mourinho chegou a insinuar que, se os jornalistas descessem a tribuna de imprensa e se sentassem no banco de suplentes para fazerem alterações, ficariam a tremer como varas verdes. Carlos Queiroz afirmou há muitos anos, dirigindo-se aos jornalistas, que é fácil acertar no Totobola à segunda-feira. A pressão de decidir durante um jogo é altíssima. Mas é durante. E, vá lá, imediatamente a seguir. Ter a pulsação a mil e manter a serenidade é quase impossível.
Éassim com José Mourinho, Jorge Jesus, Sérgio Conceição, Julen Lopetegui ou Vítor Pereira. E Rui Vitória. Deve ser infinitamente frustrante chegar ao 2-1 a seis minutos do final e mesmo assim, já quase no derradeiro apito, perder dois pontos. Mas a esmagadora maioria dos treinadores que tem passado pelos três maiores clubes portugueses (Nuno Espírito Santo, Leonardo Jardim, Paulo Fonseca, José Peseiro, Marco Silva, Quique Flores serão honrosas exceções na última década) acha que é intocável ao ponto de, sempre que perde pontos, houve cabalas de A, B ou C. Quase sempre o árbitro. Ou o adversário que fez demasiado antijogo. É assim com José Mourinho, Jorge Jesus, Sérgio Conceição, Julen Lopetegui ou Vítor Pereira. E Rui Vitória. O Benfica empatou com o Chaves porque o Chaves jogou muitíssimo bem. Vejam a jogada que deu origem ao 2-2 e confirmem: brilhante. O Benfica empatou em Chaves porque Pizzi foi Pizzinho. Porque Gabriel não mereceu tirar o lugar a Gedson. Porque Seferovic falhou por várias vezes o golo. Porque Jonas ainda não é Jonas. Porque houve Ghazaryan. Porque Eustáquio jogou muito. Porque Ricardo deu show. Enfim, porque o Chaves jogou muitíssimo bem.
Culpar João Capela pelo empate do Benfica em Chaves é tão grave como culpar João Capela porque os adversários do Benfica, durante jogos a fio, nem um empatezinho conseguiam arrancar. Se há culpados diretos, apontem o dedo a quem teve erros graves: os golos falhados por Seferovic, a entrada de sola de Conti, a barreira de Vlachodimos no 1-1 ou o apagão de Pizzi. E nem o muito bom jogo de Rafa (parece, finalmente, começar a juntar golo à velocidade e repentismo) salvou o Benfica do empate. Estamos já habituados a ver, desde há muito, a guerra comunicacional entre FC Porto, Sporting e Benfica. Que, infelizmente, parece ter vindo para ficar. Desolador é vermos alguns treinadores a enveredarem por esse caminho quando não têm ponta de razão. Rui Vitória (tal como Sérgio Conceição) é bom treinador, mas, como diz o povo, por vezes estica-se.