Rugido ao cair do pano dá nova vida à pantera! (crónica)
«A única coisa que temos de temer é o próprio medo». A frase foi proferida por Stuart Baxter na véspera do desafio entre avenses e panteras e revelou-se (bastante) relevante para descrever o que se passou dentro das quatro linhas. Na primeira metade, o medo de perder sobrepôs-se à vontade de ganhar, mas na segunda vieram ao de cima as emoções. E que emoções!
O jogo, que contou com uma enchente axadrezada nas bancadas do Estádio do CD Aves, fez correr tinta antes de começar. Os da casa lamentaram o facto de não poderem vestir o equipamento tradicional, devido às cores que chocariam com o laranja do Boavista.
Escolhas de camisolas à parte, como seria de esperar face às circunstâncias, a contenda começou bastante presa e amarrada a meio-campo, com as equipas a anularem-se em todos os sentidos. Ninguém ousava arriscar um passe mais ambicioso, sacar uma finta da cartola ou um remate do meio da rua. O desejo de não sofrer e o medo de errar imperou nas duas equipas, o que contribuiu para um espetáculo manifestamente pobre nos primeiros minutos.
Ainda assim, o conjunto da casa tomou a iniciativa e foi tentando aproximar-se da baliza à guarda de Vaclik. O primeiro lance de perigo real, que causou calafrios à linha defensiva, sucedeu pouco depois do quarto de hora inicial. Uma boa jogada de envolvimento do ataque dos avenses, pela esquerda, terminou em remate por cima de Mercado.
As panteras estavam avisadas e tentaram reagir, mas a toada de domínio da turma de Rui Ferreira manteve-se a tal modo que o marcador podia ter sido inaugurado à passagem da meia hora de jogo, não fosse a intervenção extraordinária de Vaclik, a responder de forma espetacular a um cabeceamento de Devenish ao primeiro poste.
Antes de Fábio Veríssimo apitar para as equipas recolherem aos balneários, os boavisteiros tiveram finalmente motivos para aplaudir um lance, depois de Agra ter ameaçado de forma acrobática.
A precisar de vencer para igualar o emblema da Vila das Aves, o Boavista entrou na etapa complementar com outra atitude: mais agressivo, mas ambicioso e, acima de tudo, mais calmo. Nesse sentido, a formação de Stuart Baxter arregaçou as mangas e foi à luta, com várias aproximações à baliza a colocarem o conjunto da casa em sentido.
A euforia esfumou-se aos 62 minutos, quando o veterano Nenê abriu o ativo de cabeça. Aos 41 anos, o brasileiro continua a ser letal. Impressionante! Agora sim, era preciso dar tudo para chegar ao golo e... nem foi necessário esperar muito. Mas antes, Vaclik ainda impediu o golo de Piazon, com uma defesa impressionante no um para um...
Nem cinco minutos passaram até o capitão dar o exemplo e devolver a esperança às panteras. Seba Pérez encheu-se de fé e a bola só parou no fundo das redes. Respirava melhor a pantera, que ainda assim queria marcar mais um. Uma reta final imprópria para cardíacos espelhou bem o desespero dos dois lados e a tensão no estádio não podia ser mais elevada.
Com tanto em jogo, o duelo partiu e houve sustos nas duas balizas, mas o golpe de teatro estava reservado para os 89’. Bozeník apercebeu-se da desmarcação de Diaby e lançou o maliano em velocidade. Um remate colocadíssimo do extremo que chegou ao Bessa há três meses fez explodir de alegria o universo boavisteiro.
Ainda está longe de ter um lugar na elite nacional em 2025/26, mas a pantera está (bem) viva. Já os avenses desesperam e complicam as contas da luta pela permanência, que está renhida e promete aquecer no próximo fim de semana!
As notas dos jogadores do Aves SAD: Guillermo Ochoa (5); Fernando Fonseca (5), Cristian Devenish (5), Baptiste Roux (4), Eric Veiga (5); Jaume Grau (5), Gustavo Assunção (5); John Mercado (5), Piazon (5), Tunde (6); Nenê (6). Vasco Lopes (5), Gustavo Mendonça (5), Kiki Afonso (5), Zé Luís (5) e Aderllan Santos (5).
As notas dos jogadores do Boavista: Tomas Vaclik (7); Osman Kakay (5), Rodrigo Abascal (6), Sidoine Fogning (5), Filipe Ferreira (5); Seba Pérez (7), Van Ginkel (5); Salvador Agra (6), Joel Silva (5), Abdoulay Diaby (7); Robert Bozeník (6). Ariyibi (-), Ibrahima (-) e Steven Vitória (-)
As reações dos treinadores:
Rui Ferreira (Aves SAD)
Estar nesta posição ou estar como estávamos não é confortável. Não temos estado confortáveis com a nossa prestação, oito jogos sem vencer. Não temos andados confortáveis, a pressão é para todos, as três equipas têm 24 pontos, faltam dois jogos e vai ser até ao fim. Nada está decidido. Vamos acreditar que podemos sair vencedores desta disputa
Stuart Baxter (Boavista)
Fomos bravos. A grande qualidade que mostrámos esta noite foi essa: fomos bravos, daí os adeptos estarem contentes, pela emoção que mostrámos. Foi uma grande emoção ver os jogadores e os adeptos a festejar em comunhão: fantástico.