Carla Santos com Rodrigo Rêgo no Beira-Mar, primeiro clube do agora jogador do Benfica
Carla Santos com Rodrigo Rêgo no Beira-Mar, primeiro clube do agora jogador do Benfica

Joia de Mourinho mandou calar o pai aos 5 anos pela «melhor treinadora do mundo»

Viagem às origens de Rodrigo Rêgo, o extremo que o treinador do Benfica fez estrear na Taça, na Champions e na Liga. No Beira-Mar, clube ao qual chegou com 4 anos, deu logo nas vistas pelo que jogava, mas sobretudo pelo carácter

De Rodrigo Rêgo ninguém espere menos do que lealdade total. E não é de agora, por jogar no Benfica e ser treinado por José Mourinho. É assim desde sempre.

Quando se fala no novo menino bonito do Benfica, Carla Santos lembra-se imediatamente daquele jogo do escalão de Traquinas, entre o Beira-Mar e o Valonguense.

«No balneário eu tinha dito que quem eu apanhasse a dar atenção aos pais ia imediatamente para o banco. Reforcei que quem mandava era a treinadora. Há uma altura em que o pai do Rodrigo o chamou e ele, com cinco anos, mandou calar o pai. Era a ordem que tinha da treinadora», partilha.

Carla Santos com Rodrigo Rêgo nos primeiros tempos de Beira-Mar do agora jogador do Benfica

Esse é apenas um dos episódios que saltam à memória quando convidamos a treinadora a falar sobre o menino que treinou quando ele tinha cinco anos e que ainda hoje lhe faz brilhar os olhos.

«Tenho 20 anos de carreira e o Rodrigo foi sem sombra de dúvida o puto mais extraordinário que treinei. Sempre disse que ia dar jogador. Tinha um pé esquerdo único. Com cinco anos eu já não tinha de lhe dizer nada porque ele sabia o que tinha de fazer. Era impressionante», garante.

Um discurso que não difere muito do de David Fernandes, o primeiro treinador do agora jogador do Benfica, quando este tinha apenas quatro anos. Já então, apesar da timidez, havia sinais da alta intensidade que Mourinho lhe elogia.

«Lembro-me como se fosse hoje do dia em que o Rodrigo chegou para fazer um treino no Beira-Mar. Era muito tímido, não queria jogar com os outros meninos, mas com calma e a ajuda dos pais conseguimos convencê-lo», começa por recordar, antes de apontar as características que o diferenciavam.

«Tinha muita energia, era rápido e tinha um bom controlo de bola com o pé esquerdo. Ele fintava toda a gente e nunca estava cansado. Fico feliz por saber que o ajudei nos primeiros passos no futebol e por ver que ele construiu o seu caminho com trabalho e dedicação», enaltece.

A primeira equipa de Rodrigo Rêgo (segundo em baixo, a contar da direita), quando este tinha apenas quatro anos e era treinado por David Fernandes, primeiro em pé do lado direito

Um caminho que continua a ser acompanhado de perto por Carla Santos, que atualmente é treinadora na Escola do Benfica de Aveiro, e que confidencia que ainda mantém ligação ao jovem extremo e à família. E até admite que o nome do camisola 67 das águias é repetido por ela muitas vezes. Sempre com carinho e admiração.

«Por mais que eu tente explicar às pessoas que aquele miúdo era tão especial, não consigo fazer jus por palavras. Tenho pena de não haver vídeos do que ele já fazia. Eu sempre falei dele como exemplo. Em todas as equipas que eu treino, quando os pais ou os miúdos vêm falar comigo, é sempre o exemplo do Rodrigo que eu dou. As pessoas dizem-me que falo dele com um brilhozinho nos olhos e é verdade porque tenho mesmo muito orgulho naquele puto», reforça.

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A profecia encarnada

O convívio de campo entre a antiga treinadora e Rodrigo Rêgo durou apenas um ano, uma vez que poucos meses depois de fazer seis anos o extremo foi recrutado pelo FC Porto, numa prova da precocidade que a treinadora lhe aponta e cujos sinais se viam em todos os comportamentos.

«Sempre foi um miúdo super-humilde, tinha um respeito do outro mundo por todos. Ele queria era aprender! E isso é a melhor coisa que pode haver num miúdo. Além disso, transpirava futebol. Tinha uma habilidade única e por isso é que aos 5 anos já jogava e se destacava no escalão acima», sublinha.

Mas apesar de os caminhos futebolísticos se terem distanciado tão cedo, o afeto permaneceu inquebrável. E mesmo sendo benfiquista, foi com muito orgulho que ela recebeu, pela altura do Natal de 2016 uma fotografia do antigo pupilo, vestido de azul e branco do FC Porto, com uma mensagem que a enche de orgulho: «Um beijinho para a melhor treinadora do Mundo!».

A fotografia autografada que Carla Santos recebeu de Rodrigo Rêgo
A fotografia autografada que Carla Santos recebeu de Rodrigo Rêgo

E até terá sido Carla a oferecer a Rodrigo o primeiro adereço do Benfica, clube pelo qual agora ele se estreou na Taça, Champions e Liga, no espaço de uma semana.

«Sempre acompanhei a carreira dele e era normal trocarmos mensagens. Em maio 2015, quando o Benfica foi campeão, decidi ir chateá-lo e ofereci-lhe um cachecol do Benfica. Ele não queria aceitar porque na altura jogava no FC Porto, mas a mãe convenceu-o. E na altura eu disse-lhe: ‘daqui a uns anos ainda te vou ver com camisola do Benfica’», lembra, sorridente, deixando-lhe um aviso: «É bom que ele ainda tenha aquele cachecol dourado da Adidas!».

Atualmente, Carla Santos é treinadora da equipa de Traquinas A da Escola de Futebol do Benfica de Aveiro

Sobre o percurso, que foi praticamente todo feito no FC Porto, entre os 6 e os 17 anos, Carla Santos realça a resiliência do miúdo que fez um ano no Famalicão antes de se mudar em 2022 para o Benfica.

«Ele nunca se deixou iludir. Soube dar um passo atrás quando tinha de dar e aproveitou a oportunidade para continuar a crescer. Vê-lo na equipa A do Benfica não é surpresa para mim. Manteve-se sempre muito focado e é como disse o mister Mourinho: dá sempre tudo. De resto, olho para ele e vejo o mesmo puto que eu conheci com 5 anos a jogar à bola. E como ser humano é qualquer coisa de muito especial», finaliza.

E qualquer treinador com quem trabalhe tem uma garantia: saber que o Rodrigo não o vai trair. Esse respeito vem-lhe desde criança.