Armand Duplantis, campeão do mundo de salto com vara, bateu o recorde mundial pela 14ª vez - Foto: IMAGO

Os segredos e a ciência por trás do recorde de Mondo Duplantis

O sueco, campeão do mundo em Tóquio, quebrou o recorde do salto com vara ao ar livre pela 14.ª vez; passou 6,30 metros

Um autocarro da Carris tem, normalmente, cerca de 3 metros de altura. E, para se ter uma ideia da força, vontade e até loucura necessárias para voar sem asas, Armand Duplantis (ou Mondo, como é conhecido) saltaria por cima de dois deles.

Fá-lo com tanta facilidade, elegância e com uma poesia de movimento e salto que parece que todos podem fazê-lo.

Aos sete anos fez o recorde atual

Começou a saltar aos sete anos, no quintal. Uns meses depois, estabeleceu um recorde para a sua idade que ainda hoje não foi batido – 2,33 metros. Aos 17 anos, já saltava 6,00 metros.

Eu era tão pequeno e frágil que não conseguia dobrar a vara, como o meu irmão e os amigos dele.

Pedi ao meu pai para me fazer uma vara especial, só para mim, para que eu pudesse treinar. Foi assim que tudo começou, no pequeno quintal atrás de casa.

O que distingue Duplantis de todos os outros? A velocidade.

Este é o fator chave que diferencia o sueco dos outros saltadores de vara de elite. A tarefa crucial no salto com vara é a produção de energia. A fórmula é simples: quanto mais rápido for, mais energia cinética produzirá.

Duplantis dá 20 passos numa pista de 40-45 metros e atinge uma velocidade máxima de 37 quilómetros por hora (10,3 metros por segundo). Em comparação, outros saltadores atingem velocidades de 33,8 a 34,9 km/h. A velocidade máxima atingida por Usain Bolt é de 44,72 km/h, e por Kylian Mbappé é de 38 km/h.

A vara tem 5,27 metros e pesa 190 gramas

Ou seja, em teoria, o futebolista do Real Madrid poderia vencer Duplantis no salto com vara... Mas o francês não corre com uma vara de 5,27 metros de comprimento e 190 gramas nas mãos, com a qual, a uma velocidade de 38 quilómetros por hora, tem de acertar perfeitamente na caixa no final da pista.

A vara utilizada por Armand Duplantis é feita de materiais compósitos, principalmente fibra de vidro e fibra de carbono. Estes materiais são leves, flexíveis e duráveis, permitindo uma elasticidade ótima e a transferência de energia no salto. Os modelos mais antigos de varas eram de bambu ou alumínio.

No salto com vara, a caixa refere-se ao recipiente metálico onde quem salta deve colocar a ponta da vara antes do salto. De acordo com as especificações da Federação Mundial de Atletismo, esse espaço tem 108,4 cm de comprimento e 60 cm de largura na parte frontal, estreitando-se para 15 cm na base. A parte superior da caixa está 14 cm abaixo da superfície da pista de corrida, e na parte de trás tem uma placa curva para fixar a vara.

Duplantis faz parecer fácil, mas não é

Não se trata apenas de baixar a vara à sua frente, onde quer que caia, mas sim de o fazer de forma controlada e com um timing perfeito. Se tudo for feito corretamente, ou seja, como Duplantis fez em Tóquio, quem salta estará na posição ideal para descolar da terra.

A maioria colocará a ponta da vara diretamente na caixa, mas o sueco deixa a vara deslizar ao longo da pista. Isso permite-lhe manter a velocidade máxima nos últimos passos. Quando salta do chão, o seu pé está cerca de 20 a 30 cm à frente da mão. Isso permite-lhe aproveitar a velocidade gerada na corrida, transferindo parte dessa energia para a vara, que começa a dobrar antes de se separar do chão. Novamente, o timing tem de ser perfeito.

Quando está no ar, a maioria dos atletas empurram a vara para a frente enquanto estão totalmente esticados. Duplantis balança as pernas através da vara e faz um pequeno círculo, permanecendo atrás da vara. A rotação rápida do atleta adiciona energia à medida que a vara se dobra. Quando a vara começa a endireitar-se, Duplantis está completamente de cabeça para baixo e roda o corpo 180 graus para ficar de costas para a pista, enquanto ainda pressiona fortemente a vara.

A vara de Duplantis tem 5,27 metros de comprimento e a sua mão mais afastada segura-a 10 a 20 cm mais abaixo. Assim, quando a fasquia é colocada a 6,30 m, como saltou em Tóquio, há mais de um metro de distância do ponto mais alto de contacto com a vara até à fasquia que tenta transpor. Toda a energia gerada no momento em que larga a vara deve deixá-lo com velocidade suficiente para continuar a mover-se para cima – alto o suficiente para transpor a fasquia.

Onde vai parar Duplantis?

Os especialistas preveem que, de 2026 a 2028, Duplantis provavelmente saltará entre 6,31 e 6,35 metros, com uma grande probabilidade de atingir 6,40 m até 2028 e os Jogos Olímpicos de Los Angeles.

O padrão de aumentar o recorde em um centímetro indica um progresso conservador, mas tudo indica que conseguiria saltar 6,35 metros em condições ideais, em pista coberta, sem vento.

Um salto de 6,50 metros ainda é difícil, mas está dentro das capacidades de Armand até ao final da década.

No início dos anos 80, ninguém acreditava que o homem voaria mais de seis metros. Sergey Bubka conseguiu-o logo a 13 de julho de 1985.

Bubka estabeleceu o seu último recorde de 6,14 metros em 1994, aos 31 anos. Duplantis ainda tem 25 anos e já ultrapassou Sergey em 16 centímetros. E os seus melhores anos ainda estão para vir.