José Borges, presidente da APAF, entrevistado por A BOLA - foto: Miguel Nunes
José Borges, presidente da APAF, entrevistado por A BOLA - foto: Miguel Nunes

«Os meus pais só viram um jogo meu»

Entrevistado por A BOLA, presidente da APAF recorda carreira de árbitro

Com a arbitragem de novo no centro da tempestada do futebol português, o presidente da APAF esteve à conversa com A BOLA. Neste excerto da entrevista José Borges recorda a carreira como árbitro, que o levou ao Jamor, fala da ligação a Luciano Gonçalves - que trocou a liderança da associação dos árbitros pela do Conselho de Arbitragem -, e ainda da possível presença de João Pinheiro no Campeonato do Mundo.

José Borges está ligado à arbitragem há mais de 30 anos. Foi árbitro, filiado na Associação de Futebol de Lisboa, e como assistente chegou mesmo à primeira categoria nacional.

«Nunca tive muito jeito para jogar a bola. E então, no desporto escolar, dizia que fazia de árbitro. Foi assim que começou a nascer a paixão e a curiosidade», recorda. «Depois vi uma notícia num jornal, porventura A BOLA, para tirar o curso de árbitro da AF Lisboa. Decidi ir, mas nunca foi na intenção de ficar como árbitro, mas a arbitragem é uma coisa inexplicável», acrescenta.

José Borges recorda com orgulho o trajeto feito, e lembra que foi assistente de Jorge Coroado, Pedro Proença, Pedro Henriques e Tiago Martins. «Isto também evidencia que a minha qualidade talvez não fosse assim tão má», refere a sorrir, lembrando que ainda apanhou o tempo em que os árbitros principais de primeira categoria escolhiam os assistentes que os acompanhavam.

Agora no papel de presidente da APAF, José Borges sente que o grande desafio é recrutar jovens árbitros. «Com o caminho que estamos a viver atualmente, não é possível. Nós temos imensos casos de violência que são reflexos de muitas das coisas que se passam no topo. E nós temos de tentar combater no topo, para que isso depois não se reflita cá em baixo, na base», defende.

«Os meus pais só foram assistir a um jogo meu, em toda a minha carreira, que foi a final de uma Taça de Portugal [FC Porto 2 – Marítimo 0, em 2001]. Para os convencer a ir não foi fácil, e saíram de lá a dizer que não queriam voltar», lamenta.

«Luciano Gonçalves vai fazer um trabalho exemplar»

José Borges entrou para a APAF em 2016, como vice-presidente de Luciano Gonçalves. «Conheci-o através de um projeto que eu tinha, porque era vice-presidente de um núcleo de árbitros aqui em Lisboa. Ele gostou muito do projeto que eu estava a desenvolver, de acompanhamento aos árbitros mais jovens, e achou que seria uma oportunidade de me buscar para vir para a APAF. Fui reconhecido por isso», explica.

Candidato único à presidência da APAF nas eleições de julho, José Borges assumiu a sucessão de Luciano Gonçalves, que saiu para liderar o Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol. «Por um lado senti um orgulho enorme, porque é uma pessoa com uma capacidade tremenda e garantidamente irá fazer um trabalho exemplar, como fez também na APAF. Por outro lado era um companheiro, e quando se trabalha nove anos com uma pessoa, nunca é fácil deixá-la sair. Isso é quase como os filhos. Nós estamos com eles uma vida inteira, mas há um dia em que temos de nos separar deles. E desde que seja para uma situação boa, tudo bem. É o caminho, é o progresso, é a evolução das coisas, faz parte», afirma.

«Podemos ter discordâncias em alguns temas, como já tínhamos no passado. Eu defendo a APAF, ele agora defende os árbitros na perspetiva do Conselho de Arbitragem, mas estamos alinhados, trabalhamos em conjunto. Podemos ter divergências, mas acabamos por encontrar sempre o melhor caminho para a arbitragem», acrescenta o atual presidente da associação dos árbitros.

Já é tradição a passagem de presidentes da APAF para a liderança do Conselho de Arbitragem, mas José Borges garante que não tem esse objetivo, embora não goste de «usar a palavra nunca». «Não sei qual será o meu objetivo daqui a três anos. Não vou dizer que é para presidente do CA, se não é. Não está mesmo nisso. E não digo isto para ser diferente. O meu foco atual é o momento difícil que estamos a atravessar, arranjar uma solução para os meus árbitros e virar a página», responde.

«CA terá o cuidado de proteger João Pinheiro»

«É com orgulho» que o presidente da APAF comenta a possibilidade de ver João Pinheiro no Campeonato do Mundo, mas realça que sentirá «mais orgulho» quando essa nomeação estiver confirmada. «Já demonstrou, mesmo na última época, ser um excelente árbitro, com capacidades para representar Portugal no Mundial», refere José Borges. «Significa que nós também não estamos a trabalhar tão mal, porque somos o país da Europa com mais árbitros internacionais», sustenta, convicto de que João Pinheiro será protegido ao longo da época, a pensar nessa oportunidade.

«Tudo aquilo que se passa aqui é visto lá fora. E pode ser visto de uma forma mais positiva ou mais negativa. Tenho a certeza absoluta de que o Conselho de Arbitragem (CA) terá esse cuidado de proteger o João, neste aspeto, porque todos nós queremos que a arbitragem portuguesa esteja representada numa competição que é o Campeonato do Mundo», conclui.