«Os jogadores, quando erram, também não vão para jarra nenhuma»
O presidente da APAF acredita que a presença de várias figuras da arbitragem na estrutura da Federação Portuguesa de Futebol pode ser importante para uma melhor defesa dos árbitros. Neste excerto da entrevista concedida a A BOLA, José Borges fala de Pedro Proença, Luciano Gonçalves, Duarte Gomes e... das famosas jarras.
— Existe, hoje em dia, um forte peso da arbitragem na Federação Portuguesa de Futebol, a começar pelo presidente Pedro Proença. Significa isto que existem condições agora para tomar medidas mais profundas em defesa do setor?
— Penso que sim. Pelo menos temos uma pessoa que dirige a Federação que é conhecedora da realidade e do que é a arbitragem. Temos de tirar proveito disso. Uma pessoa que conhece a arbitragem, sabe o que é a arbitragem, sabe o que é que é viver a arbitragem, acho que tem tudo positivo para isso.
— E dentro de uma estrutura que tem tantas figuras da arbitragem, concorda que esse pelouro esteja atribuído a Rui Caeiro, que foi dirigente de um clube, no caso o Sporting [chegou a ser anunciado como vice-presidente da FPF, mas é agora designado diretor]?
— Se, no entender da Federação e do seu presidente, esse for um posto que acrescente, nós, enquanto APAF, não temos opinião sobre o assunto. Tudo o que seja para acrescentar, estamos sempre abertos a isso, independentemente do passado das pessoas. Da parte do Conselho de Arbitragem é que têm de analisar se isso é importante para eles ou não, esse posto.
— Voltando aqui à conferência de imprensa da análise do momento da arbitragem, com Duarte Gomes e por Luciano Gonçalves, perguntava-lhe se afinal há jarra ou não? Isto, de facto, é uma gestão dos árbitros ou só uma forma mais floreada de abordar o tema?
— Não há jarra. Como foi transmitido. Não há jarra mesmo. Os árbitros não têm que ir para a jarra, como os jogadores, quando cometem erros, também não vão para jarra nenhuma. Não existe isso. O que existe é, no entender do Conselho de Arbitragem, se aquele árbitro necessita de ter uma pausa para melhorar a sua condição ou não... É uma gestão interna e tem a ver com o que os clubes fazem com os próprios jogadores. Não se vai afastar um jogador só porque ele cometeu um erro no passado. Se o treinador assim o entender, se o Conselho de Arbitragem assim o entender, faz. Se não o entender... Eu acredito que temos grandes árbitros, muito bons árbitros, e se os deixarem trabalhar em paz eles conseguem ter sempre um bom desempenho nas suas funções.
— Mas muitas vezes há logo o cuidado de passar a mensagem de que determinado árbitro vai ser punido por um erro. Aconteceu isso agora no Santa Clara-Sporting…
— Mas o árbitro vai ser punido pelo erro que cometeu. Todos os árbitros são punidos pelos erros que cometem. Os árbitros têm uma classificação anual, e qualquer erro, às vezes até aqueles que a nós, público, passam um bocadinho à margem... eles são punidos por esses pequenos erros.
— Acha que persiste uma ideia generalizada de que nada acontece aos árbitros que erram?
— Passa essa ideia, sim. E que não é, de todo, a verdade. Os árbitros são penalizados por todos os lances que cometem erros. E são penalizados consoante a gravidade até dos próprios lances. Um lance como esse que referiu, naturalmente, tem um impacto muito maior na classificação daquele árbitro assistente, do que tinha se aquilo fosse só o canto e mais nada, se ele falhasse só o canto. Porque depois tem o impacto seguinte.
— Verdade seja dita, os dados apresentados relativamente à intervenção do VAR indicam uma taxa de acerto elevada, assim como as notas dos árbitros…
— Sim, os números são números. E ninguém pode fugir a isso. Mas para nós, árbitros e APAF, o que pretendíamos seria 100 lances para decidir e 100 lances acertados. Mas não há esse ideal. Isso não é uma coisa que faz parte do jogo. Como acontece relativamente aos jogadores, às equipas, o erro faz parte. Temos que assumir os erros quando eles são cometidos e temos que trabalhar semana a semana, dia a dia, para que esses erros não se tornem a repetir.
— Que papel está a ter a APAF na criação deste Plano Nacional de Arbitragem, que ainda agora, na conferência de imprensa, foi apresentado como uma espécie de Bíblia de arbitragem?
— De momento, nenhum, além das conversas que temos tido, alguns diálogos, das comissões de trabalho, na elaboração do processo. E é por aí que passa o papel da APAF: ser ouvida, dar opiniões e sugestões na construção desse plano.
— Mas não é essencial que a APAF tenha um papel muito ativo como representante da classe dos árbitros?
— E tem que ter, porque isto vai mudar o contexto do panorama de como funciona a arbitragem.