«Os árbitros não querem guerras, querem paz»
A arbitragem volta a estar na ordem do dia, no futebol português, mas perante a polémica os árbitros decidiram tomar a iniciativa e apresentar medidas concretas para alterar o regulamento disciplinar. A BOLA recebeu José Borges, presidente da APAF, que neste excerto da entrevista explica as propostas apresentadas.
— Foi eleito no verão. Como é que olha para a polémica atual em torno da arbitragem? Podemos dizer que é a sua primeira tempestade como presidente da APAF?
— É a minha primeira tempestade enquanto presidente da APAF. Gostaria de não a ter, por vários motivos. Não porque não me consiga preparar para isso, estarei cá para defender os árbitros nesta batalha, ou noutras batalhas que existirem. Não pela batalha em si, porque essa é digna e merecida, mas por tudo o que envolve esta batalha é que tem sido mais difícil. Mas estarei cá para defender o que é o interesse dos árbitros e da arbitragem.
— Esteve reunido com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e com a Liga, nos últimos dias. Creio que haverá também uma reunião com o Governo, pelo menos estará pedida. Como A BOLA já noticiou, foi apresentada uma proposta concreta de alteração dos regulamentos disciplinares, que visa sobretudo aumentar as punições. Quer concretizar um pouco essas propostas e qual é, digamos, o fio condutor das mesmas?
— O que nós entendemos é que as coisas, como estão atualmente, não têm funcionado. E não têm funcionado porque são os próprios clubes que votam os regulamentos disciplinares e, como tal, parece que é um fato à medida. Esta situação não começou hoje. Desde a final da Taça de Portugal, até ao dia de hoje, temos assistido a situações de coação, de pressão sobre os árbitros, que não podemos aceitar, não queremos voltar àquilo que foi o passado. E para isso era preciso arranjar propostas de alteração. Esse foi o nosso sentimento: como não temos voto nas decisões dos regulamentos, criámos aqui um caderno com algumas propostas de alterações, que nós entendemos que deveriam ser adaptadas para um melhor crescimento, e para que os árbitros também estejam mais protegidos naquilo que fazem no seu trabalho de dia a dia.
— Um comunicado recente da APAF dizia que era o momento de dizer basta. É mesmo assim, um ponto de viragem?
— É. E quero que fique aqui clara uma coisa: a APAF e os árbitros não estão contra ninguém. Não querem guerras com ninguém. Nós queremos paz. O que nós mais queremos é paz para poder trabalhar em tranquilidade e tentar dar o nosso melhor, jogo após jogo. Isso é o nosso objetivo. E quando dizemos que é basta, é porque tem sido uma pressão enorme. Estamos a falar de junho, de maio, quando foi a final da Taça de Portugal. Tivemos o campeonato interrompido. Estamos na 11ª jornada e temos vivido um clima que não é aquele que se quer para a arbitragem. Não é este clima que se quer para o desporto nacional. Não é isto que nós somos.
— Para que as propostas entrem em vigor ainda esta época é preciso que sejam aprovadas por unanimidade. Considera isto realista, tendo em conta, como já referiu, que são os clubes que aprovam os regulamentos?
— Não sei se é realista ou não. Nós estamos a fazer o nosso trabalho, apresentámos uma proposta. Queremos que essa proposta possa entrar em vigor já esta época. Esse é um princípio dos árbitros, é que isto possa entrar em vigor esta época. Sabemos que isto vai depender de uma aprovação da Direção da Liga, que depois é apresentada em Assembleia Geral aos clubes, para votação. E temos também o compromisso da Federação Portuguesa de Futebol que, no caso de serem aprovados os regulamentos na Liga, fará uma Assembleia Geral Extraordinária para a correção desses regulamentos.
— Se for aprovada sem unanimidade, a aplicação posterior é encarada como um mal menor?
— O nosso objetivo é que seja mesmo esta época. Esse é o princípio. Nós não podemos estar à espera de mais uma época, porque as coisas, conforme estão, têm tendência a inflamar. E se nós não começarmos já a impor algumas regras diferentes, não vai ser benéfico para ninguém. Nem para os árbitros, nem para o nosso futebol.