Pedro Proença, presidente da Federação Portuguesa de Futebol — urge tomar decisões...
Pedro Proença, presidente da Federação Portuguesa de Futebol (Foto: Imago)

O triste espetáculo do futebol português!

'Mercado de valores' é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís

As últimas semanas têm sido marcadas por um conjunto de acontecimentos, discursos e posições que demonstram o estado em que se encontra o futebol em Portugal. Ao longo de vários anos tentaram vender-nos a ideia de que o futebol português estava unido. Jantares na Mealhada ou grandes eventos demonstravam isso mesmo! Pura falácia. O futebol português está doente, está em crise e precisa rapidamente de mudar de rumo.

Novos atores

Durante esta semana, num evento organizado pela rádio Renascença, Pedro Proença referiu o seguinte: «O futebol português entrou num novo ciclo, com novos atores, novos dirigentes, com responsabilidade única: elevar o futebol português!» Não sei quando este discurso foi feito, mas está completamente descontextualizado! Em primeiro lugar, porque, com a exceção de André Villas-Boas e Reinaldo Teixeira, todos os outros atores são os mesmos há muitos anos. Analisando os comportamentos destes novos atores, nas últimas semanas, tivemos oportunidade de presenciar vários momentos que demonstram falta de responsabilidade, pouca visão e um clima de divisão entre todos.

Para começar, tivemos um episódio em que tanto o presidente da FPF como o presidente da Liga Portugal realizaram um vídeo de apoio a um candidato a umas eleições a um clube (CD Chaves), demonstrando falta de preparação e noção. Se há algo que nunca poderá acontecer é o presidente da FPF ou da Liga quererem controlar as eleições dos clubes que os apoiam.

A final da Taça de Portugal foi mais um exemplo do ambiente que se vive no futebol português. Um erro claro e óbvio do VAR teve o condão de gerar uma enorme controvérsia. Do lado do Benfica, este erro foi utilizado como a desculpa perfeita para a época de insucessos desportivos. Se é verdade que, ao minuto 94, o Sporting estava a perder 0-1 e deveria ter ficado com um jogador a menos, também é verdade que o Benfica se deixou empatar no último minuto de uma forma infantil e com erros muito óbvios. No prolongamento, o Benfica, com melhor plantel, foi inferior e permitiu que o Sporting tivesse feito dois golos. Será que isto foi tudo culpa do VAR? Como exemplo, o Ajax, com mais um jogador em campo, sofreu um golo ao minuto 90+9 no campeonato e perdeu a liderança. Alguém tem a certeza de que o Sporting com menos um jogador em campo não empataria o jogo? Foi este facto que fez com que o Benfica perdesse a final?

Analisando do lado do Sporting, não deixa de ser incrível o orgulho em poder afirmar com toda a moralidade que o Sporting sabe ganhar e sabe estar em todos os momentos. Ora, os dirigentes do Sporting perderam uma oportunidade de o demonstrarem no caso do lance da agressão de Matheus Reis. A gravidade do lance foi tal que o Sporting deveria ter referido que aquele tipo de entradas não pode voltar a acontecer. O presidente leonino deveria ainda condenar e garantir que festejos como o «aqui nós pisa a cabeça» não seriam tolerados no Sporting. O comunicado do Benfica, as bocas de Rui Costa no Seixal e as declarações de André Villas-Boas fecham um conjunto de acontecimentos que demonstram a desunião no topo do futebol português, que é precisamente o contrário do que nos andaram a vender durante anos.

Para finalizar, gostava de deixar uma nota à expressão que Pedro Proença utilizou para referir que devemos elevar o futebol português. No final do evento em que discursou, Pedro Proença foi abordado pelos jornalistas e não respondeu a qualquer questão, afirmando apenas que «não há nada a dizer». Os grandes intervenientes devem saber falar nos bons e nos maus momentos. Quando tudo está a arder, o que se espera de um presidente da FPF é que enfrente os problemas, que tenha a capacidade de os identificar, que nos fale da realidade e que esteja disponível para responder às questões naturais dos jornalistas. Se a FPF é a casa de todos, então também deve ser a casa da comunicação social!

Novo ciclo, velhos hábitos

Ao longo dos últimos anos há uma coisa que é bem visível: as caras do futebol português (a capa) vão mudando, mas os comportamentos (conteúdo) mantêm-se! No final do campeonato, Frederico Varandas destacou os méritos da sua equipa, que são totalmente justificados. Contudo, qual foi a sua atitude e comportamento quando as coisas estavam complicadas? Falar de árbitros! Deu uma entrevista a falar de árbitros e a colocar pressão. O seu treinador pedia nas conferências de imprensa uma uniformidade nos critérios. A realidade é que quando as coisas começaram a correr bem, mais nenhum elemento do Sporting falou de arbitragem.

E do lado do Benfica? A mesma situação. As derrotas fazem com que o foco esteja nos árbitros. Porque é que isto acontece no futebol português? Porque é a forma mais fácil de desviar as atenções e de não se assumirem responsabilidades. No caso do Benfica a situação foi ainda mais crítica, porque não foram só as críticas aos árbitros ou o comunicado com um conjunto de medidas a pressionar a Liga Portugal e a FPF. No caso do Benfica foi incrível ouvir o seu presidente aos gritos a altas horas da noite no Seixal a dizer coisas como «O Sporting domina isto tudo» ou «está tudo minado», entre outras declarações surreais. As perguntas que se impõem são: Para quem é que Rui Costa estava a falar? Um presidente de uma grande instituição como o Benfica tem por hábito falar aos gritos no parque de estacionamento do Seixal? Não tem um gabinete para falar com o seu círculo de confiança? Isto tem lógica?

Conclusões

Dos relatos provenientes da Assembleia da Liga Portugal surgiram coisas muito interessantes. Villas-Boas sugeriu a redução de clubes na Liga e a extinção da Taça da Liga tendo em conta o calendário apertado dos clubes. Devo também realçar o pedido de uma auditoria às contas dos mandatos de Pedro Proença na Liga Portugal. Nesta reunião ficou a conhecer-se um desvio de 50%, ou mais €9 M, do orçamentado para a realidade na construção da sede da Liga. Será que as contas, que foram uma das suas bandeiras, ficaram tão positivas como Pedro Proença nos informou? Só uma auditoria séria nos poderá dar essa resposta. Como quem não deve não teme, parece-me lógica que a avaliação seja feita.

Por último termino parafraseando as palavras de Villas-Boas: «O futebol português está podre. Portanto, todos estes discursos de unir o futebol, de almoços e almocinhos e congressos, que optam por apontar um sentido de união do futebol português, posso garantir-vos que não é o caso e isso é evidente.»