«Na Arábia Saudita têm pouca cultura desportiva e é preciso trabalhá-la»

Análise de Rui Lança, diretor desportivo das modalidades do Al Ittihad, em entrevista a A BOLA

Rui Lança, diretor desportivo das modalidades do Al Ittihad e antigo diretor desportivo das modalidades do Benfica, fala a A BOLA sobre como é a vida na Arábia Saudita. Autor de várias obras sobre a cultura organizacional no desporto, o dirigente também comenta o futebol português e a questão da centralização dos direitos televisivos.

Como chegou o convite da Arábia Saudita?

Falando agora da minha vida na Arábia Saudita: fui convidado para o Al-Ittihad para ser diretor desportivo das modalidades. O futebol cresceu muito por lá. Mas a importância das outras modalidades não cresceu na mesma proporção. Antes da chegada das estrelas, a Arábia já era presença regular em Campeonatos do Mundo, e já venceu várias vezes o Campeonato Asiático. O projeto do futebol não é só desportivo — é também turístico. A presença de grandes jogadores e treinadores é uma forma de atrair visitantes. Quanto ao resto do desporto, a Arábia pretende organizar os Jogos Olímpicos, e há necessidade de preparar o país para isso. Têm vantagens: recursos financeiros, uma população jovem — a maioria são crianças. Mas têm pouca cultura desportiva, e é preciso trabalhá-la. 

Quais são as modalidades principais?

Os desportos coletivos mais importantes são o basquetebol, andebol e, noutras zonas, o voleibol e o futsal. A seleção saudita de basquetebol, por exemplo, está próxima da portuguesa no ranking. E como jogam no continente asiático, competem com potências como Japão, China, Austrália e Nova Zelândia. A política desportiva está a apostar em modalidades individuais, onde é mais fácil alcançar resultados rápidos. Colocam atletas em academias de topo, como a do Rafael Nadal ou nos EUA. Se encontrarem talentos e os desenvolverem fora, podem ter resultados mais rapidamente.

Mas, à boa maneira da região, querem resultados imediatos. E aí pode haver choque cultural: o desporto exige tempo. Veja-se o exemplo de Londres, onde o sucesso olímpico veio após muitos anos de trabalho. Esse é o risco: impaciência e despedimentos rápidos — um problema que também conhecemos bem em Portugal.