Mourinho: «Se calhar o Bruno tomou decisões pouco populares...»
José Mourinho era um treinador conformado no final do play-off de acesso à fase principal da UEFA Champions League. O treinador português do Fenerbahçe reconheceu a superioridade do Benfica, destacando a experiência da equipa encarnada neste contexto, e deixou elogios às escolhas de Bruno Lage.
Que impacto teve a lesão de Nélson Semedo, muito cedo no jogo?
O Semedo é um grande jogador, com personalidade, é um daqueles jogadores que não seria afetado pela responsabilidade e pela pressão do jogo. Mas não acho que deva agarrar-me a isso para justificar uma derrota. Não quero fazer isso.
O Fenerbahçe tem o nível exigido para as competições europeias?
Eu disse que não queria considerar ninguém favorito, mas disse-o como princípio de vida, líder de um grupo. Mas perdemos com uma equipa que é melhor do que nossa. Mais experiente, com mais soluções. O Benfica é um clube que conhece este tipo de jogo. Existe a tristeza de não conseguir passar, mas a consciência perfeita de que perdemos contra uma equipa que é melhor do que a nossa. É analisar esta eliminação com coerência e tranquilidade. No primeiro jogo as duas equipas foram iguais. Neste jogo, na primeira parte, o Benfica foi muito melhor do que nós. Na segunda parte fomos melhores, mas não muito melhores. Um bocadinho melhores. No nosso momento de domínio tivemos duas grandes oportunidades, mas depois ficámos reduzidos a dez e o jogo acabou. Na globalidade passou a melhor equipa.
Qual a razão para o melhor Fenerbahçe só ter aparecido na segunda parte? Esperava a titularidade de Leandro Barreiro?
Eu tinha dito que o Benfica tem muitas soluções. Trabalhámos com todas as possíveis soluções. O Barreira era uma possibilidade. A primeira parte tem muito a ver com a experiência, com a falta de confiança, com pouco... como é que vou encontrar uma expressão sem ser muito agressivo... não era o habitat natural. A pressão que existia sobre a equipa, que eu tentei desviar um bocadinho para outro lado, não é algo a que estejam habituados. O Benfica é uma equipa de Champions, é um estádio de Champions. Na dificuldade soube acabar com o jogo. Foi tranquila, posicionou-se bem, os jogadores tomaram decisões corretas. No nosso momento difícil, na primeira parte, estivemos um bocado perdidos. 1-0 era bom, pois dava a possibilidade de reentrar na segunda parte. A expulsão com o Talisca acaba com o jogo no nosso melhor momento. Não é correto falar da lesão do Nélson como um aspeto fundamental, nem da expulsão do Talisca. Não me parece correto agarrar-me a isso. O resultado é curtinho, mas a equipa mais forte passou.
O Fenerbahçe acabou alguns erros defensivos na primeira parte, alguns deles individuais. Como é possível reagir a isto?
A partir do banco é difícil, a comunicação não é fácil. Estava contente por estar a perder um a zero ao intervalo. Deu a possibilidade de mudar, de conversar, de tentar fazer ver os problemas que existiam, a diferentes níveis, inclusive nas bolas paradas. Não sei qual foi o treinador que disse recentemente que, antes de começar a competição de grupos, seja qual for a prova europeia, é preciso definir se os bloqueios são permitidos ou não. Agora é só bloqueios, a coisa não é muito clara. A equipa que ataca tem vantagem, mas isto fora do contexto do jogo, que é muito fácil. Vou sempre chateado e frustrado quando perco, mas prefiro dizer que o adversário é mais forte. Vou menos chateado.
Tinha dito que o Benfica tinha mais opções. Foi isso que teve impacto na eliminatória? Esperava que Akturkoglu fosse titular e que fizesse a diferença?
Eu tinha dito que o Akturkoglu era jogador do Benfica. Faz o seu trabalho como profissional. Jogou lá e jogou cá, não vejo nenhuma anormalidade. É um ótimo jogador, fez um grande golo, ajudou a sua equipa a passar. Não vejo nada de estranho nisso. O Benfica tem mais opções, tem mais potencial, tem mais experiência, tem mais força física. Se olhar para Barrenechea e Ríos, e comparar com Fred e Szymanski, é completamente diferente. Mas é preciso decidir bem, não ter medo de tomar decisões. Se calhar o Bruno tomou decisões pouco populares. Se tivesse corrido mal os milhões de treinadores de bancada cairiam forte sobre ele. Mérito para ele, que teve a personalidade de tomar as decisões em que acreditava. Respeitou o Fenerbahçe, tanto fora como em casa. Senti que, naqueles 20 minutos finais, 11 contra 11, estavam um pouco assustados. Isso não dá a vitória, mas dá o feeling de que somos melhores do que fomos na primeira parte, que foi negativa da nossa parte.