Martín Anselmi salienta que a equipa ainda tem muito para assimilar

Martín Anselmi mexeu muito, mas ficou tudo na mesma

Argentino herdou de José Tavares seis pontos de diferença para o líder da Liga, que se mantêm para Sporting e Benfica; fator casa desperdiçado (pior só há 20 anos!) e SC Braga a ameaçar; golo de Embaló denunciou problema grave no posicionamento defensivo

A crise do FC Porto na Liga ganhou contornos ainda mais claros com o empate a uma bola frente ao Vitória de Guimarães, num desafio com estádio cheio e de homenagem ao falecido presidente Pinto da Costa. Um resultado que anulou o otimismo decorrente do triunfo dos dragões por 1-0, fora, contra o Farense, que os adeptos acreditavam poder assinalar um ponto de viragem para a equipa.

Ora, nada disso aconteceu: os azuis e brancos não só não capitalizaram o empate do Sporting em Vila das Aves, como continuam sem saber o que é ganhar no Estádio do Dragão no novo ano civil – quatro empates por uma bola com Vitória, Roma, Sporting e Santa Clara e derrota por 0-1 com o Olympiakos.

Pior em casa só em 2005

Pior que este registo só na época 2004/2005, quando o FC Porto somou seis jogos sem vencer em casa. Foi uma temporada atribulada que começou com o despedimento de Luigi Del Neri antes do arranque das competições. Sucedeu-lhe Victor Fernández, que venceu a Supertaça e Taça Intercontinental, mas acabaria por sucumbir a uma série de maus resultados no campeonato. José Couceiro terminou essa campanha.

Esse ciclo negro em casa começou com um empate com o Rio Ave, a 9 de janeiro de 2005, e prolongou-se nas partidas com o SC Braga (1-3, d.), Vitória de Guimarães (0-0), Inter (1-1), Benfica (1-1) e Nacional (0-4, d.).

Eliminado no play-off de acesso aos oitavos de final da UEFA Europa League pela Roma, o FC Porto passou a ter apenas foco na Liga. Dito isto, Anselmi recebeu a equipa na 20.ª jornada, quando estava a seis pontos do Sporting, líder isolado, na altura. Com o empate frente ao Rio Ave (2-2) no final dessa jornada, a distância aumentou para oito pontos.

O clássico com os leões em casa (1-1) manteve o fosso para o rival, contudo, o empate do Sporting em Alvalade com o Arouca (2-2), próximo adversário do FC Porto, permitiu aos dragões voltarem a reduzir para seis pontos a distância, fruto da vitória no Estádio do Algarve. O jogo com o Vitória era a oportunidade de ouro para os azuis e brancos ficarem a quatro pontos dos líderes, Sporting e Benfica.

De perda em perda, Anselmi mantém, então, os mesmos seis pontos de distância que herdou do interino José Tavares, que, na prática, são sete para o Sporting, isto porque em caso de empate na classificação o FC Porto perde no confronto direto com o conjunto de Rui Borges. Os dragões ainda vão receber o Benfica na 28.ª jornada, todavia, na 1.ª volta, na Luz, perderam por 4-1. Mas não foi a única alteração de monta: na 20.ª jornada, o SC Braga estava a dois pontos do FC Porto e neste momento tem os mesmos 47 pontos que os portistas. Os dois conjuntos vão enfrentar-se na Pedreira na 28.ª ronda.  

É a segunda de duas saídas consecutivas do FC Porto. Depois de Arouca, segue-se Braga.  Se é verdade que Anselmi ainda não teve tempo de qualidade para refinar a estratégia e vender a sua ideia de jogo ao plantel, e pelo caminho perdeu dois jogadores fundamentais no mercado de inverno, Nico González e Galeno (12 golos e três assistências), o facto é que foi contratado para criar impacto imediato na equipa, e essa perspetiva de estimular o grupo esteve na base da sua escolha. Os primeiros assobios dos adeptos sinalizam a impaciência que se revelou fatal para Vítor Bruno... 

Seis segundos e Embaló na cara de Diogo Costa

O golo do Vitória, apontado por Úmaro Embaló, aos 86 minutos, é a imagem fiel da dificuldade que a equipa tem enfrentado com o novo sistema de Anselmi. O técnico argentino tem procurado uma abordagem mais ofensiva, com a equipa posicionada mais à frente no terreno.  

Djaló, Zé Pedro, Alan Varela e Otávio no meio-campo ofensivo na altura do passe de Nuno Santos (IMAGEM SPORTTV)

Esta estratégia ficou evidente durante o jogo, com 19 das 20 faltas cometidas pelo FC Porto a acontecerem no meio-campo ofensivo, demonstrando a agressividade pretendida quando a equipa perde a posse de bola.  

No entanto, o golo vitoriano expôs uma fragilidade gritante. Bastaram apenas seis segundos desde o passe de Nuno Santos até à finalização de Embaló. As imagens mostram claramente que todos os jogadores defensivos – Otávio, Djaló, Zé Pedro e até Alan Varela – se encontravam no grande círculo, mas posicionados no meio-campo ofensivo. Esta disposição abriu uma autêntica avenida, permitindo que o jogador do Vitória se isolasse e batesse Diogo Costa.