Luka Modric: «Depois do Real, para onde quer que vás, é um passo abaixo»
Luka Modric abriu o livro da sua vida numa entrevista exclusiva ao programa «O (In)Sucesso dos Campeões», conduzido pelo ex-futebolista e seu antigo treinador, Slaven Bilić. O antigo capitão do Real Madrid, e atual estrela do Milan, recordou, sem filtros, o seu salto para a Premier League, a consagração na capital espanhola e o seu momento atual em Milão.
A infância e a guerra
«Apesar da guerra e das dificuldades daquela época, recordo a minha infância como feliz, porque estava rodeado de muitos amigos num hotel. Lembro-me de poucas coisas. Por exemplo, quando mataram o meu avô; situações assim marcam-te para sempre e não as consegues esquecer.»
O jogador destacou o sacrifício dos pais. «Todos diziam ao meu pai para voltarmos, que na cidade não tínhamos nada para fazer e que devíamos esquecer o futebol, mas eles queriam dar-me tudo e eu queria retribuir o seu apoio e sacrifício. Isso foi o que me guiou.»
A «espionagem» de Mourinho e a promessa de Levy
Modrić recordou a sua controversa saída do Tottenham rumo ao Real Madrid, revelando a promessa crucial do presidente Daniel Levy: «A certa altura ele disse-me – não sei porquê –: 'o único clube para o qual te deixaria ir é o Real Madrid'.»
«Por muito que acredites em ti, quando alguém te diz ‘Real Madrid’, soa a algo inalcançável, distante... é um clube especial», confessou.
A promessa materializou-se com o interesse do clube merengue: «Chega o Europeu e a concentração em Rovinj e, mesmo antes de viajar, ligam-me a dizer que o Real me quer. Fiquei paralisado.» No entanto, as negociações foram «duríssimas e longuíssimas».
A transferência arrastou-se, levando Modrić a tomar uma atitude drástica. «Já se sabe como me comportei naquela altura, custou-me imenso dar esse passo... mas eu tinha uma promessa. Ele deu-me a sua palavra e eu esperava que a cumprisse.»
«É verdade. Foi muito duro para mim, pela minha história com o clube e a minha relação com os adeptos. Não faz parte do meu caráter. Mas não via outra saída, tinha de o fazer», justificou.
A despedida do Real Madrid
Após mais de uma década de sucesso, a saída de Madrid foi um momento marcante. «Sinceramente, não foi fácil. Passei quase metade da minha vida num só clube, numa só cidade, e foi uma das épocas mais bonitas da minha vida», refletiu.
«Se alguém me tivesse dito, quando cheguei, que poderia escrever tudo o que queria alcançar, teria tido medo de escrever tudo o que consegui. Não falo apenas dos troféus, mas de permanecer 13 anos num clube assim. Cheguei com 27 e saí com quase 40... é incrível», sublinhou.
O médio admitiu que o seu plano era diferente. «O meu desejo mais sincero era retirar-me em Madrid. Mas tudo tem um princípio e um fim. Às vezes, as coisas não acontecem como queremos», lamentou. «Apesar de não se ter cumprido esse desejo, alcancei o que nunca pensei ser possível. Não me arrependo de nada.»
Depois de Madrid, o Milan
Sobre o passo seguinte na sua carreira, o croata foi pragmático ao escolher o Milan. «Depois do Real, para onde quer que vás, é um passo abaixo. Penso que vim para um clube que, pela sua história e renome, está muito perto do Real Madrid. Para mim, foi a situação ideal», explicou.
Modrić revelou a sua admiração. «Cresci a ver o futebol italiano e o Milan era o meu clube favorito. O Zvonimir Boban fez lá uma grande carreira. Quando pensei que um dia poderia não estar no Real, o Milan esteve sempre em primeiro lugar, logo a seguir.»