Sporting entrou na Liga com o pé direito: uma vitória e exibição de grande nível (MIGUEL NUNES)

Leão avassalador a blindar sistema tático e... sistema nervoso (crónica)

Exibição de enorme fulgor, carregada de confiança, que afastou fantasmas de um leão que promete uma identidade renovada. Rui Borges ganhou todas as apostas e saiu reforçado de Rio Maior em todos os níveis. Trincão e Hjulmand marcaram e estiveram em grande plano, mas a noite teve muitos outros pontos altos

Tentemos imaginar o ínicio de algo perfeito: começar com o pé direito, queixo erguido, cabeça equilibrada e coração no lugar certo. Juntar tudo isto num jogo de futebol tem um grau de dificuldade enorme. Mas o Sporting conseguiu fazer um check em quase todos estes itens. Afastando fantasmas e desconfianças não só do recente desaire na Supertaça, mas, até mais importante nesta fase inicial, na renovação de identidade (assente num novo sistema tático), para trilhar novo um caminho. Ou melhor, na sua procura de uma nova forma de caminhar sem perder a linha de sucesso recente.  

Pois bem, e que forma é essa? Como desfila este leão num novo fato 4x2x3x1? Antes da resposta, ponto prévio: foi um jogo muito acima da média dos testes de pré-época. Uma das melhores exibições da era Rui Borges. Definitivamente das mais dominadoras e de maior fulgor ofensivo. Uma máquina pouco engasgada, de ritmo elevadíssimo, dominadora em todos os momentos do jogo, e muito elástica nas suas novas variantes, nomeadamente nas saídas para o ataque. A primeira parte foi demolidora. Asfixiante até. Mas os sinais positivos partiram da sua consistência defensiva, na linha de quatro bem definida, à qual se juntava uma dupla de médios muito próxima, com Hjulmand a ser muitas vezes mais um central na recuperação e ocupação dos espaços e Morita com maior liberdade para gerir e associar-se com os homens da frente.  

Luis Suárez esteve em bom plano e esteve sempre muito ligado com a equipa (MIGUEL NUNES)

Na construção, por sua vez, os velhos hábitos estiveram bem presentes. Com três defesas a construir – Fresneda, Diomande e Inácio - projetando Maxi Araújo para zonas mais adiantadas na esquerda (uma exigência física brutal para o uruguaio que acabou por sair lesionado) juntando-se a quarteto ofensivo que promete. Pela sua criatividade e movimentos constantes. Geny na direita, sempre vertical, a procurar profundidade e a tentar combinar com Fresneda, que explorava e desequilibrava nas zonas interiores. Na esquerda, o oposto. Era Maxi que andava num ‘vai e vem’ desgastante na linha e era Trincão a deambular para dentro no mesmo flanco, em busca de espaços para fazer a diferença. Mas mais perfeito, e onde poderá residir a maior força deste novo leão, será no entendimento dos dois jogadores mais criativos e talentosos no corredor central. Foi nessa dinâmica imposta por Pedro Gonçalves/Trincão, bem mais entrosados nesta nova ideia, na sua interação e inteligência da movimentação de ambos, que o Sporting brilhou e não permitiu qualquer tipo de ameaça ao Casa Pia

Faltava Luis Suárez, onde estavam colocados todos os olhares, mas o colombiano não desiludiu. Pelo contrário. Muito associativo, talentoso com a bola nos pés, sublime na leitura do jogo, fruto de capacidade técnica apuradíssima, nota positiva como se foi ligando com todos os elementos da frente.  

Hjulmand apontou o segundo golo e tranquilizou ainda mais o Sporting (SPORTING CP)

Rui Borges blindou o sistema tático mas também o... nervoso. Porque este leão nunca demonstrou ansiedade, apesar do desperdicio na primeira parte (18 remates contra 1!), duas bolas nos ferros (com Hjulmand e Maxi) e oportunidades claras de Suárez (Patrick Sequeira evitou estreia perfeita). O Sporting foi paciente e o golo, em cima do intervalo, num desenho tático perfeito iniciado por Diomande e concluído por Trincão após lance de grande entendimento com Pedro Gonçalves, era mais que justo face à superioridade leonina. E pecou por escasso. 

Na etapa final, o Sporting não tirou o pé. Com uma linha subida e um entrosamento fantástico, todos os jogadores ligados e que, nas poucas vezes em que perdiam a bola, rapidamente a recuperavam. E nem as saídas por lesão de Maxi e Diomande retiraram tranquilidade à equipa, que se foi reinventando com trunfos a saírem do banco, como Mangas (bastaram alguns treinos), Debast ou Quenda. O segundo golo, apontado pelo capitão Hjulmand, a âncora deste leão, após livre apontado por Trincão, surgiu com total naturalidade e fechou as contas. Rui Borges nunca desfez o seu 4x2x3x1 mas testou nos últimos minutos Suárez e Harder juntos. Mais uma aposta positiva que proporcionou maior acutilância e fulgor no último suspiro. O campeão voltou e jogou à campeão. A fechar dúvidas e a provar um velho ditado: um bom sistema não é aquele que se diz, mas o que faz. E o Sporting fez muito. 

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