«I think I’m a special one», dizia Mourinho em 2004

No verão de 2000, já desligado do Barcelona, José Mourinho aguarda com serenidade que o telefone toque para se tornar, finalmente, treinador principal. E no final de setembro o telefone toca. Eládio Paramés, assessor de João Vale e Azevedo, então presidente do Benfica, diz-lhe que o líder encarnado o quer contratar. Mourinho avança para Lisboa. Entra no carro e, a caminho do local de encontro, ouve pela rádio que o futuro treinador do Benfica será Toni. Mourinho liga para Paramés e diz-lhe que, se é para ser adjunto, volta já para trás.

A resposta sossega-o: Mourinho segue para casa de Vale e, depois de horas de conversa, fica definido que no dia seguinte, 20 de setembro de 2000, será apresentado como treinador principal do Sport Lisboa e Benfica. «É uma grande honra e um grande orgulho estar no Benfica» são, 24 horas depois, as suas primeiras palavras. O resto da história é conhecido. No início de dezembro, o Benfica de Mourinho goleia por 3-0 o Sporting campeão nacional de Inácio e Mourinho decide fazer chantagem com Manuel Vilarinho, que ganhara as eleições do Benfica a Vale Azevedo. Quer validar o ano de opção constante no contrato. Vilarinho recusa, a ligação termina.

Pouco mais de quatro meses depois de ter abandonado o Benfica, José Mourinho regressa aos treinos: assina pela UD Leiria. As funções serão abrangentes: «Vou estar metido em muita coisa que combinei com o presidente Bartolomeu», dizia o treinador poucos dias depois de ter sido apresentado, «desde o potenciar de ativos com certo futuro do futebol jovem, ao contribuir para maior implantação do tecido local na vida do clube».

Começa a Liga com dois empates de seguida (SC Braga e Santa Clara), mas no final da primeira volta, a 20 de janeiro de 2002, a União de Leiria está na quarta posição, com 34 pontos, apenas atrás de Sporting, Boavista e Benfica e um ponto à frente do FC Porto. A manutenção estava assegurada, a Europa estava bem encaminhada e o UD Leiria tinha, à mesma 19.ª jornada, mais oito pontos que na época anterior.

José Mourinho é abordado por Manuel Vilarinho, em janeiro de 2002, para regressar ao Benfica para substituir Toni: recusa. O FC Porto volta a piscar-lhe o olho e como os dragões, orientados por Octávio Machado, estavam mal classificados, o presidente Pinto da Costa avança: fala com João Bartolomeu, presidente dos leirienses, fala com José Mourinho e, na véspera de completar 39 anos, o treinador assina pelo FC Porto. Reentra quase seis anos depois de ter saído para o Barcelona como terceiro treinador mais jovem da história dos dragões: mais novos, até então, apenas José Maria Pedroto (37 anos e 8 meses) e Artur Jorge (38 anos e meio). A primeira conferência de imprensa de José Mourinho fica célebre: «Na próxima época vamos ser, de certeza absoluta, campeões nacionais». E foi. Tal como na temporada seguinte. E ainda ganhou mais uma Taça de Portugal, uma Taça UEFA, uma Liga dos Campeões, uma Supertaça Europeia. E saiu para o Chelsea em maio de 2004.

«I think I’m a special one», afirmou José Mourinho a 2 de junho de 2004 na sala de imprensa de Stamford Bridge, dia em que foi apresentado como treinador do Chelsea. E assim ficou: Special One. Todos se espantaram com a ousadia. Mas Mourinho ganha a batalha. Envolve-se em muitas guerras: com o jogador Adrian Mutu, com o árbitro Anders Frisk, com o treinador Arsène Wenger, com a federação inglesa, com a UEFA. Mas quando sai de Inglaterra afastado por Roman Abramovich, em setembro de 2007, sai como vencedor em toda a linha: dois campeonatos, uma taça, supertaça e duas taças da liga. Antes da chegada de Mourinho, quando fora o Chelsea campeão pela última vez? Em 1954/55. Cinquenta anos depois voltava a sê-lo.