Helena Pires, a nova CEO da FPF: «É o maior papel da minha vida»
No meio de um futebol tão polémico, é consensual a escolha de Helena Pires para CEO da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), tamanhos os elogios dos mais diversos quadrantes do futebol português.
— Como é que se sente como CEO da Federação Portuguesa de Futebol?
— Antes de mais quero agradecer esta conversa. É sempre muito bom falar consigo. Eu recebi este convite com muito orgulho, muita responsabilidade, muito sentido de responsabilidade e muito honrada. Aquilo que eu vou tentar fazer é não defraudar as expectativas. Isto é um caminho de continuidade e quero continuar aquilo que tenho vindo a desenvolver com a mesma calma, com o mesmo profissionalismo e a mesma assertividade. Quero agradecer, em primeira instância, ao Presidente da Federação, que continua a acreditar em mim, e depois aos elementos da direção, que de forma unânime reconheceram que seria a pessoa certa para este lugar. Quero agradecer também a todo o meio associativo, aos nossos parceiros e aos nossos clubes, porque eles é que acabaram por me trazer até o sítio onde eu agora estou.
— Quando em março falámos, naquela transição entre a Liga de Pedro Proença e a Liga de Reinaldo Teixeira, e a Helena assumiu interinamente o cargo e eu chamei-lhe a diplomata que chegou a Presidente da Liga. Passados 25 anos no futebol, o que é que ainda há daquela jovem que a 2 de agosto de 2000 chegou à Liga trabalhar nas ligações internacionais do futebol?
— Acho que ainda há muito, porque isto é um processo, como eu lhe digo, de evolução. Eu não perdi nada daquilo que tinha. A minha essência mantém-se, felizmente, decorridos estes 25 anos de futebol ao mais alto nível. Os meus valores se mantiveram inalteráveis, a minha forma de estar na vida mantém-se, o meu profissionalismo e o meu rigor. Diria que foram um bocadinho afinados, como não poderia deixar de ser, não é? Mas, na essência, continuo a ser a mesma pessoa.
— Ao que é que se deve toda essa dedicação ao futebol, Helena Pires?
— Sentido de missão. Eu estou aqui para cumprir o propósito de ver o nosso futebol crescer, evoluir, e é com orgulho e satisfação que faço parte deste crescimento e evolução. Durante estes 25 anos é fácil perceber o tanto que o nosso futebol tem mudado. Eu diria que para melhor. Ainda temos um longo percurso para fazer, mas estamos no caminho certo.
— É o maior desafio que já teve?
— É. Claro que sim.
— Quando tomou posse disse que queria contribuir para o desenvolvimento do futebol português, que vive tempos desafiantes, mas muito entusiasmantes. Para onde vai crescer a Federação?
— Quero que se potencie ainda mais, quer em termos nacionais, quer em termos internacionais. Estamos a fazer uma série de alterações procedimentais que me parece que são importantes naquilo que é o rigor e a transparência que são fundamentais para o futebol português. Ainda temos um longo caminho para trilhar, nomeadamente no âmbito daquilo que é a profissionalização de todos, potenciar aquilo que são os nossos dirigentes, agentes, jogadores, treinadores… Temos ainda um caminho para percorrer. Anda há muita coisa para fazer em termos de infraestruturas, por exemplo, e depois a nossa projeção internacional. Felizmente temos tido a sorte de já termos conquistados quatro títulos desde que chegámos, mas ainda temos muito para fazer crescer esta Federação.
— Para onde quer que a Federação vá nos próximos 10 anos?
— Quero que vá para um caminho de excelência. Apanhar a base da pirâmide, que são as nossas associações distritais, e as nossas associações de classe, e com elas em conjunto desenvolver o futebol desde a base até o topo. Olhar um bocadinho mais para baixo e perceber o que é que nós podemos melhorar para termos mais atletas, nomeadamente agora o futebol feminino, tem de ser potenciado. Temos de crescer ao nível dos praticantes e depois desenvolver os clubes e os dirigentes da base para que depois cá em cima nós, no topo da pirâmide, consigamos ter um futebol ainda mais produtivo, mais forte e de maior excelência.
Estou aqui para cumprir o propósito de ver o nosso futebol crescer
— Na reunião em que foi nomeada CEO, foi decidido retirar a candidatura de Portugal ao Europeu Feminino de 2029. Qual a justificação?
— Esta direção reconhece a importância do futebol feminino e criámos pela primeira vez um departamento só para o feminino, para trabalhar futebol, futsal e futebol de praia. Esta direção tem uma aposta muito grande no futebol, no futsal e no futebol de praia feminino. Entendemos que, neste momento, a nossa prioridade tem de ser trazer atletas, trazer senhoras, meninas para jogar. Esse tem de ser o nosso foco e a decisão foi tomada precisamente porque entendemos que, mais importante, do que estarmos a organizar uma competição, é trabalhar internamente para termos as atletas para desenvolver o futebol feminino. Nós olhamos para os números e todos nos sentimos um bocadinho envergonhados. Temos de trabalhar a base para depois sim organizar com cabeça, tronco e membros uma competição deste gabarito.
— Na passagem da anterior direção para esta o que foi passado dessa candidatura à realização do Euro feminino?
— É um dossiê normal que foi endossado, estava preparado e chegada a altura de tomarmos a decisão, estamos a tomá-la com total consciência daquilo que estamos a fazer, porque acreditamos que é importante trabalhar primeiro bem a base.
— Tem receio que esta desistência possa ser mal interpretada pelos agentes do futebol feminino?
— Não. Todos vão compreender esta linguagem que eu estou a ter aqui de forma muito simplista. Basta olhar para os números. Os números são indicadores de tudo.
«Euro-2029? A prioridade é trazer senhoras e meninas para jogar futebol»
—Que objetivos é que gostava de concretizar enquanto CEO?
— Penso que o maior deles é garantir que a Federação continua a chegar e a alcançar os seus propósitos. Gostava muito que esta Federação continuasse a crescer, gostava muito de ver os quadros competitivos completamente reformulados, porque acho que estamos a precisar desta lufada de ar fresco. Os quadros competitivos estão a ser trabalhados numa das comissões que criámos. Estamos a aguardar que a Liga também nos diga o que é que pretende fazer com as duas principais competições profissionais. Da nossa parte, haverá uma reestruturação, porque acho que é importante e fundamental. Estamos a trabalhar e daremos novidades do modelo competitivo no congresso que faremos em janeiro. Internacionalmente, acho que temos de continuar a fazer o nosso papel. Tenho aqui o maior papel da minha vida e espero não defraudar os nossos parceiros, os nossos clubes e trabalhar com afinco para garantir que os propósitos da Federação são bem concretizados.
— Que desafios é que tem comercialmente neste mandato?
— A área comercial nunca é uma área completamente fechada. Há sempre algumas possibilidades, mas é óbvio que encontrámos várias situações contratuais que estão, de facto, fechadas e que temos de respeitar. Os compromissos são para serem respeitados, mas, evidentemente, continuamos a trabalhar para potenciar e angariar maiores patrocínios, porque é esse também o nosso desafio e é uma forma de valorizarmos a Federação e os seus parceiros.
Gostava muito de ver os quadros competitivos reformulados
— O anterior presidente renovou praticamente todos os grandes patrocinadores da FPF. Isso é uma vantagem ou um constrangimento?
— Teremos que trabalhar com aquilo que temos. Teremos de fazer a nossa magistratura de influência e tentar encontrar os parceiros certos. Tenho a certeza que com a força que esta Federação tem, e com esta equipa, vêm aí novos e bons desafios.
Nós viemos, não escondemos, para ganhar, e estamos muito confiantes para o Mundial.
— E já olhando para a participação de Portugal no próximo Mundial, pode haver abertura para outras parcerias que possam ser vantajosas para a Federação?
— Claro que sim. Nós não fechamos a porta a tudo aquilo que seja vantajoso e importante para a Federação. Em relação ao Mundial, estou mesmo muito tranquila, mais preocupada agora é garantir que a nossa Seleção tem todas as condições para chegar bem e para garantir uma boa performance. Nós viemos, não escondemos, para ganhar, e estamos muito confiantes com o Mundial. Neste momento a nossa preocupação é mesmo no sentido de dar todas as condições à seleção para fazer aquilo que todos nós estamos à espera, que é sair vencedores.