Hagi abre o livro: «Cair nos 'quartos' do Mundial custou-me a Bola de Ouro»
A prestigiada revista France Football publicou uma reportagem de sete páginas sobre Gheoghe Hagi na edição dedicada ao anúncio dos nomeados para a Bola de Ouro. prémio para em que o romeno terminou em quarto lugar em 1994, após o melhor Mundial realizado pela seleção da Roménia. «Custou-me caro ter falhado a qualificação para as meias-finais na América», disse aos franceses.
Na semana em que a France Football publicou a lista restrita de jogadores e treinadores nomeados para a edição 2024-2025 da Bola de Ouro, a conceituada revista gaulesa enviou um repórter e um fotógrafo para conversar com Hagi em Constanța, visitando-o na Roménia.
Hagi contou à France Football como cresceu na Roménia comunista, a importância que o Luceafărul teve na sua formação como futebolista, a estreia na seleção, o primeiro torneio, o Euro 1984 e a contribuição que Mircea Lucescu teve na sua carreira. «Não éramos uma família rica. A vida era difícil nos anos 80 na Roménia, mas recebi muito amor e atenção desde tenra idade. Talvez tenha tido sorte e, como era o mais novo, as minhas irmãs, Sultana e Elena, tinham uma responsabilidade: garantir que nada de mal me acontecesse», começou por dizer.
Hagi recordou as primeiras épocas no estrangeiro, começando pela sua transferência para Espanha em 1990: «O presidente do Real Madrid, Ramon Mendoza, veio a Bucareste para me encontrar, por isso não hesitei. Passei do comunismo para a liberdade. Demorei seis meses a adaptar-me e a atingir o mesmo nível dos melhores jogadores do mundo.» Depois de rumar ao Brescia, onde encontrou o «mentor» Mircea Lucescu e os compatriotas Florin Raducioiu, Dorin Mateut e Ioan Sabau, o antigo médio-ofensivo esteve perto de rumar a sul. E as pisadas não iam ser fáceis de replicar: «Em 1993, estive perto de assinar pelo Nápoles, que me queria para substituir Maradona, transferido para o Sevilha no verão anterior, mas o Brescia recusou a oferta.»
Ainda rumou a Istambul, onde liderou a conquista do Galatasaray na Taça UEFA, em 2000. «É simples. Coloquei em prática tudo o que tinha aprendido até então, baseando-me na minha experiência e personalidade. Fatih Terim e a direção do clube construíram uma equipa vencedora, combinando os melhores jogadores turcos com jogadores estrangeiros como Claudio Taffarel e Popescu», explicou Hagi.
A France Football descreveu o Mundial de 1994 como «a obra-prima de Hagi», que, na altura, era apelidado de Maradona dos Cárpatos. «É uma honra única, incomparável. O Diego era o melhor», confessou o romeno, que relembrou o Campeonato do Mundo dos Estados Unidos. «Tínhamos uma equipa muito forte na defesa e no meio-campo. E sabíamos jogar os contra-ataques na perfeição, com Dumitrescu, Răducioiu e eu na frente. Tínhamos essa técnica criativa, uma boa qualidade de remate, velocidade. A Roménia era uma grande equipa. Chegámos a este Mundial com a experiência necessária, prontos para enfrentar qualquer um olhos nos olhos. O sentimento que reinava no nosso grupo era que podíamos vencer qualquer um», explicou.
A aventura romena acabou nos quartos de final, frente à Suécia. Uma eliminação que, defende Hagi, custou a Bola de Ouro. «Até então, eu era o melhor jogador do Campeonato do Mundo, o mais decisivo (3 golos e 3 assistências). Soube que receberia a Bola de Ouro se tivéssemos vencido esse jogo. Custou-me caro não ter chegado às meias-finais, mas não me arrependo. É fenomenal para mim estar entre os melhores jogadores número 10 da história nomeados pela France Football em 2020», concluiu.