Ricardo Antunes não sabe se voltará a candidatar-se à FGP
Ricardo Antunes não sabe se voltará a candidatar-se à FGP

Ginástica: «Tinha a certeza que haveria novas eleições e a verdade viria ao cimo»

Ricardo Antunes, candidato à federação de ginástica que apresentou queixa no Tribunal Arbitral do Desporto, conversou com A BOLA dobre a decisão do TAD em anular todo o ato eleitoral anterior e marcar novas eleições; não confirma se voltará a candidatar-se devido ao desgaste dos últimos meses

Decidido por parte do Tribunal Arbitral do Desporto [TAD], na passada segunda-feira, com publicação pública na quinta, que as eleições para os órgãos sociais da Federação de Ginástica de Portugal realizadas a 15 de dezembro (1.ª volta), assim como a 11 de janeiro (2.ª) e a deliberação da Mesa da Assembleia Geral, foram anuladas, A BOLA falou com Ricardo Antunes, candidato a presidente da Lista B, que foi quem apresentou a queixa no TAD há dez meses e que concorreu às eleições para líder federativo contra Luís Arrais (Lista A), então reeleito para um segundo mandato, e António Guerreiro (Lista C).

Até porque, segundo deliberação do Colégio Arbitral do TAD, esta obriga que se realize novo acto eleitoral para todos os órgãos e que seja convocada uma assembleia geral extraordinária para o efeito - início do processo eleitoral, marcação da data, hora e local – no prazo de 15 dias após a decisão.

Decisão que, no entanto, pode ficar em suspenso caso a federação venha a recorrer para um tribunal superior, neste caso o Tribunal Central Administrativo Sul, que antecede o Supremo na hierarquia. O nosso jornal falou com o atual presidente Luís Arrais para que desse a sua opinião sobre a decisão do TAD, mas este preferiu decidir mais tarde se irá falar.

Já Ricardo Antunes não confirmou se irá recandidatar-se no próximo ato eleitoral.

 - Começando pelo tempo que levou, custou muito esperar 10 meses pela decisão do TAD?
- Foi uma caminhada, diria, solitária com uma equipa e com uma ansiedade brutal, tendo desde o primeiro minuto a certeza que estávamos a lutar pela verdade e pelo que acreditávamos e também a certeza de que o resultado iria ser este. Custou por uma parte, mas sempre com uma luz ao fundo do túnel, mas com a esperança e a certeza que o resultado seria ter de realizar novas eleições e trazer a verdade para cima da mesa.

- O que esteve em causa foi a maneira como foram contados os votos na primeira volta. Primeiro tinham considerado que havia seis nulos, mas depois só contaram alguns, não contaram outros, não é?
- Certo.

- Surpreendeu-o certamente, naquela altura, e daí ter apresentado o caso em tribunal, a decisão do Presidente da Mesa da Assembleia em levar isto para a frente. Pelos vistos, tinha razão. Mas estranhou que a Federação não tenha ligado a esse problema?
- Sim, completamente. Foi uma surpresa total. Não esperava que esse fosse o comportamento de quem lidera órgãos sociais da Federação, e aqui incluo todos, porque do outro lado também há uma equipa. Não foi só uma mesa de uma Assembleia Geral ou mesmo uma Comissão Eleitoral, ponho no bolo tudo. Isto apesar, como é claro na decisão, dos vários avisos que foram feitos pela minha parte e pela lista que encabecei, de que aquilo não era o caminho e que não deveria ser por ali porque estávamos a fazer atropelos constantes aos que são os regulamentos. Por essa razão fiquei indignado e completamente estarrecido com esta forma de gerir e tomar decisões numa federação que deve mostrar, acima de tudo, os princípios e os valores que devem reger o desporto e não desta forma que agora está à luz de todos com esta decisão.

- O TAD deliberou que, nos espaço de 15 dias, terá de ser agendada uma Assembleia Geral Extraordinária só para a marcação de novas eleições. O que significa que vai começar todo o processo eleitoral outra vez. Dado que foi quem colocou esta ação, está disposto a avançar por esse caminho novamente como candidato?
- É um caminho, mais uma vez, longo. Digo que este é o momento de agora olharmos, percebermos um caminho que foi feito e os erros que uma organização como a Federação nunca deveria ter feito. No momento da marcação das eleições estaremos em condições, eu e a equipa, de dar o passo e avaliar se ele será esse. Mas, o percurso que fizemos ao longo de 10 meses foi para literalmente mostrar na ginástica quais são os princípios, quais são os caminhos que devem ser seguidos e as regras são para cumprir.
Foi árduo, complexo, e é óbvio que isto tem sempre uma procura de um fim, mas este não é o instante dessa decisão, é o momento de esperar que a Federação cumpra o que foi determinado pelo tribunal e depois sim, chegará a altura de decidir o trilho que vamos seguir.

- No caso de decidir manter a candidatura poderá tentar juntar-se a uma das outras listas, uma vez que existiam três candidatos, ou para avançar será sempre sozinho?
- Neste momento, se essa for a decisão, fará sentido que seja o projeto Ginástica 3.0 que fez esta caminhada desde as eleições até ao processo judicial. É isso que fará sentido. E penso que é assim que a comunidade também espera que seja feito.

- A razão que o levou a apresentar a queixa em tribunal foi a eleição para dois órgãos, presidente da direção da federação e presidente da Mesa da Assembleia Geral, foi isso?
- Certo. Foi por terem aberto, decidido, repescar votos que tinham sido declarados nulos e transformá-los em válidos e isso originou que dois órgãos, o órgão da direção, e naturalmente o presidente, mais a mesa da Assembleia fossem logo eleitos na primeira volta e se escondessem de terem de ir a uma segunda volta. E foi isso que levou à nossa decisão de impugnar, porque é contra as regras. E, volto a dizer, está mais do que claro na decisão que foi contra os regulamentos e todas as regras que estão estipuladas no acto eleitoral.

- Mas não o surpreendeu, por exemplo, o TAD tenha deliberado que tenha de ser repetida as eleições para todos os órgãos sociais [6]?
- Não. Aliás, na petição inicial, isso era uma das nossas opções e uma das petições que fizemos: repetir-se tudo. Achamos que faz todo sentido limpar logo o mal pela raiz, não estarmos a fazer amputações. O processo começou mal, correu mal, e isso é um facto. Está decidido por um tribunal que houve erros crassos e graves neste acto eleitoral, é o momento de repetir tudo e fazê-lo desde o ponto zero. Só assim também acho que fica claro para a comunidade e para toda a ginástica que o processo é novo e limpo, sem deixar dúvidas para a memória futura e para a eleição. Como também legitima quem venha a ganhar essa eleição.

- Com estas datas e com os 10 meses que decorreram, isto vai atirar as eleições, possivelmente, para o princípio do ano que vem, ou até mais tarde. O que acha?
- Pois, essa é aquela pergunta que gostaria de saber e fico expectante e a aguardar qual será a decisão da Federação em relação a isso. Mas, potencialmente sim, não estou a ver, se forem marcadas numa data como dezembro, poderemos correr aqui riscos como aconteceu nas eleições passadas, de ficarmos em cima de Natal e depois em vésperas de passagem de ano e por aí a fora. São épocas muito complicadas para realizar actos eleitorais.

- Acha que foi um ano perdido?
- Acho, completamente.

- Mas existem três anos de trabalho pela frente, se for um ano perdido.
- Sou sempre daquelas pessoas que olham mais para o futuro e tenho positividade principalmente e confiança nesse futuro, mas é sempre um projeto que haviam desenhado quando nos candidatamos às eleições de 2024. Tinha um horizonte de quatro anos. Três não é a mesma coisa que quatro, mas é mais do dois. Dará de certeza para implementar e para fazer muito do que é esse projeto, mas não são quatro anos como seriam desde o início e olho para o que tem sido este ano e, infelizmente, não vejo que tenha sido um ano minimamente razoável no que é o mundo da ginástica.