De ensinar César Peixoto ao exemplo Amorim: a escola de línguas que dá cartas no futebol
Há mais desafios no futebol além de golos e fintas. Fora das quatro linhas, há obstáculos a driblar no caminho para o sucesso e, numa indústria mais globalizada a cada dia que passa, a língua tem cada vez mais... uma palavra a dizer. E foi daí que nasceu, há pouco mais um ano, e com uma mãozinha de César Peixoto, o projeto FutLanguage, empresa especializada no ensino de línguas aplicado ao futebol profissional.
«Sou amigo do adjunto do César Peixoto, o Rodrigo Fernandes, e eles queriam aprender inglês há cerca de três anos. Estavam sem clube e queriam aprender algumas coisas básicas», revela a A BOLA Tiago Caroço, fundador daquela que classifica como a primeira escola de línguas voltada para o futebol.
«Eu nunca tinha dado aulas antes, fui para os Estados Unidos sem falar quase nada de inglês e desenvolvi técnicas para ajudar. Senti um gosto enorme por aquilo e, além disso, era um problema a resolver no mundo do futebol. Quis criar uma escola de línguas, fiz uma página no Instagram e desenvolvi a ideia. Temos pessoas de quase todos os países, Arábia, Koweit, primeira e segunda ligas. Sou eu e mais três pessoas», começou por explicar, numa referência aos professores Manik Mané, Luca Magnanini e Tito Júnior.
Aulas sobretudo online, em várias línguas (português, inglês, francês, italiano e espanhol), simulações de cenários e rotinas, resultados em algumas semanas. É este o cartão de visita para jogadores, treinadores, clubes, SAD. E no primeiro escalão do futebol nacional há uma experiência recente para contar.
«O Israelov, jogador israelita do Estoril, falava zero português, e em 20 aulas já diz o básico. Já consegue desenrascar no dia a dia, nos treinos já sabe o que é falado e já vai começando a comunicar. Disse-me que as aulas passam a correr, que uma hora é pouco e que quer mais», partilha, explicando que as ferramentas ficam disponíveis, o que facilita o acesso: «Tinha um aluno que quando estava na fisioterapia abria aquilo e via. É fácil de aceder.»
Nem sempre é fácil motivar um jogador, um treinador é diferente
A aposta num método inovador tem-se revelado uma aposta ganha. «Queremos dar uma identidade única, senão somos mais uma escola de línguas. É tudo contextualizado, dinâmico. Porque nem sempre é fácil motivar um jogador, um treinador é mais fácil, porque precisam daquilo, mas jogadores nem sempre... No entanto, gostam das aulas, divertem-se», garante.
No caso dos treinadores, o trabalho passa, entre outras coisas, por simulações de contextos de jogo e não só. Melhorar a comunicação dentro do grupo de trabalho ao mesmo tempo em que se incentiva a equipa para o desafio seguinte é um dos objetivos. «Dizemos 'Finge que vais dar uma palestra antes do jogo, para falar do passado e do futuro'. Trabalhamos muito perguntas que os jornalistas fazem, para fazê-los pensar», detalha, acrescentando que sugere vídeos de como comunicar bem e que há referências.
«Ruben Amorim é um dos exemplos daqueles que comunicam bem em inglês. Sugerimos que vejam vídeos e que escrevam as frases que consideram mais importantes. Essa é uma das estratégias. Por exemplo, o Marco Alves [treinador de 50 anos, ex-Chaves], quando chegou ao Koweit [para treinar o Al Arabi], não tinha confiança para dar conferências de Imprensa, depois com as nossas aulas, ao fim de 15 ou 16 aulas, já dava conferências», sublinhou.
O atual treinador do Al Arabi, Blessing Lumueno, também tem história para contar, do período vivido em Trás os Montes. «Na altura em que estava no Chaves tinha muitos jogadores cuja língua principal era o francês e sentia necessidade de ter uma comunicação mais fluída com eles, precisava da prática de francês, que já não tinha há muito tempo. Porque quando falamos em inglês as palavras não têm tanto peso. Foi uma mudança radical, percebia tudo o que eles diziam. Desse ponto de vista foi perfeito», recorda em conversa com A BOLA.
«Primeiro, disse aos jogadores que ia tentar aprender com eles. Mas não têm tempo nem ferramentas, por isso disse-lhes que ia fazer o curso», conta, revelando que ao fim de cerca de 20 aulas viu os resultados virem ao de cima. «Pedi aos meus jogadores para falarem comigo em francês e que, se eu não percebesse, eles explicavam. Quando deixei de perguntar, foi giro. Eles repararam logo e disseram-me que tinham notado uma evolução muito grande.»