José Mourinho lançou partida decisiva na Johan Cruyff Arena
José Mourinho lançou partida decisiva na Johan Cruyff Arena - Foto: IMAGO

'Final' em Amesterdão, irritação com os jornalistas, Manu e Obrador: tudo o que disse Mourinho

Treinador do Benfica lançou duelo decisivo nos Países Baixos frente ao Ajax

AMESTERDÃO — José Mourinho projetou, na véspera do jogo desta terça-feira (17h45) na Johan Cruyff Arena, o duelo do Benfica nos Países Baixos ante o Ajax, a contar para a 5.ª jornada da fase de liga da UEFA Champions League.

— Frente a um adversário que está mais ou menos nas mesmas circunstâncias que o Benfica nesta Liga dos Campeões, considera que este jogo é uma autêntica final, quer para o Benfica, quer para o Ajax?

— Acho que sim. Acho que as duas equipas estão exatamente na mesma situação. Não me preocupei em perceber o calendário que o Ajax terá depois deste jogo, porque depois já não tenho grande interesse nisso, mas este jogo é fundamental para as duas equipas. Obviamente que, se calhar, nove pontos eventualmente poderiam ser suficientes — portanto, uma equipa que perca amanhã o jogo ainda eventualmente terá, matematicamente, a esperança de se poder qualificar com três vitórias nos últimos três jogos —, mas olhando para a nossa situação de um modo muito objetivo, os próximos três jogos não são propriamente jogos muito fáceis. Eu considero que amanhã é um jogo fundamental para nós ganharmos.

— Em relação à mensagem que teve no último jogo: serviu para espicaçar os jogadores de certa forma e já surtiu algum efeito?

— Relativamente à minha mensagem depois do jogo com o Atlético: tenho aqui um jogador à minha esquerda que pode perfeitamente confirmar que tudo aquilo que eu disse na imprensa, disse aos jogadores. Portanto, não vejo nenhum filme nisso, mas compreendo que vocês tenham que debater e debater. Senão, como é que conseguem ter comentadores 23 horas e meia por dia em todos os canais televisivos? Têm que debater as coisas. Mas a realidade é que, para mim e para os jogadores, a coisa acabou ali. Foi uma mensagem que eu quis passar e que já está. Se você me perguntar se os últimos treinos foram bons, eu digo que sim. O de hoje foi muito bom, o de ontem também. Mas tem sido assim desde que eu cheguei. Honestamente, relativamente aos jogadores e à maneira como eles treinam, não tenho absolutamente nada a dizer de negativo, todo o contrário. Portanto, aquilo que eu espero é que amanhã a equipa dê o seu máximo. Acho que é uma questão de ganhar para poder ter esperança de nos qualificarmos.

— Em relação à sua história: frente ao Ajax, ganhou todos os jogos que fez contra a equipa (7 em 7). Como é que traz essa dimensão internacional que sempre teve agora para uma realidade um bocadinho diferente?

— A minha história e as estatísticas, sejam elas positivas ou negativas, eu considero sempre que não têm influência absolutamente nenhuma. Eu nem sabia que tinham sido sete. Lembrava-me que joguei a Europa League com o Manchester, lembrava-me que joguei aqui com o Real Madrid, não tinha a mínima noção que tinham sido sete os jogos que eu tinha feito contra o Ajax. Não joga nada. Amanhã não tem nada a ver uma coisa com a outra. Fixo-me no potencial do Ajax que, honestamente, olhando para os jogadores individualmente, tal como nós, não são equipa para zero pontos depois de quatro jogos [nota: refere-se a jogos anteriores/fase]. Tento analisar a equipa que eles são.

— Ainda em relação a essa mensagem que teve depois do jogo com o Atlético (da Taça de Portugal). Disse que há alguns jogadores que não lhe iriam bater à porta a perguntar por que não jogam. Eu perguntava-lhe agora, diretamente, se um desses jogadores é o Ivanovic e se há alguma razão pela qual ele ainda não pegou de estaca na equipa?

— Sabes, quando vocês martelam sempre na mesma coisa, obviamente que não me agrada, mas é uma coisa que eu entendo. [Mas] quando vocês mentem, é uma coisa que me chateia profundamente. Se há jogador que trabalha muito, se há jogador que dá tudo, seja nos treinos, seja nos jogos — inclusive contra o Atlético posso perfeitamente dizer que a sua substituição não teve nada a ver com uma questão de atitude —, é o Ivanovic. É um rapaz extraordinário, que trabalha tanto, que as coisas não lhe estão a sair obviamente bem. Mas que é um rapaz extraordinário e intocável sob o ponto de vista do profissionalismo. Uma coisa é comentar, outra coisa é inventar. E quando se inventa relativamente a jogadores que são, por mim, queridos... custa-me e não gosto.

— Já falámos muito das suas declarações no final do último jogo, mas recentemente criticou os jogadores várias vezes depois de jogos menos conseguidos. Não tem receio que isso possa virar o balneário contra si? E, pelas mesmas razões, pergunto-lhe: sente que os jogadores do Benfica estão à altura do treinador?

— O teu pai foi sempre simpático para ti durante o teu crescimento enquanto jovem até te transformares num adulto responsável? O teu pai foi sempre simpático para ti? Há fases. Exatamente, há fases. É exatamente isso.

— Queria falar de Manu Silva, jogador que regressa à convocatória dez meses depois da lesão grave que teve. Como é que olha para este regresso do jogador e qual é o espaço que ele pode ter neste Benfica?

— Primeiro que tudo, prazer em rever-te, que já há uns anos que não te via. O Manu não tem 90 minutos. Obviamente que não começa o jogo. E mesmo os minutos que possa ter e que nos possa ajudar, tem alguns condicionamentos. Se ele está convocado, não vem para fazer turismo, não vem para estar sentado no banco só para fazer número e bater palmas. Vem porque pode jogar. Portanto, se nós tivermos necessidade que o Manu jogue, o Manu jogará. Agora, neste momento, ainda apresenta algumas limitações, não só relativamente à minutagem, mas também relativamente à intensidade do jogo, às mudanças de ritmo. Mas pode jogar. A recuperação da lesão é total, está a trabalhar bem. É um jogador do qual nós precisamos, obviamente, para termos mais equilíbrio no plantel. É bem-vindo e, como eu disse anteriormente, se está cá é porque nos pode ajudar.

— No último jogo deixou muitos elogios ao Rodrigo Rêgo. Ele, que jogou à ala esquerda no Atlético, queria perguntar-lhe como é que pensa [a posição dele]: equaciona numa linha de quatro? E, depois da experiência no Restelo, equaciona continuar com o sistema de três centrais ou se pensa voltar à linha de quatro defesas?

— O Rodrigo não pode jogar como lateral numa linha a quatro. Nunca o fez, não são as suas características. Quando os jogadores vêm de baixo para cima, para a primeira equipa, tem que haver um transfer nos comportamentos que eles adquiriram. Nunca foi lateral e, neste momento, obviamente não tem condições de o ser. No futuro, eventualmente sim, porque os jogadores quando trabalham bem taticamente vão crescendo. Mas neste momento é um ala, tanto pela direita como pela esquerda. No sistema de três defesas é um ala esquerdo, que é isso que ele tem feito ultimamente com o Veríssimo na equipa B, e bem. Jogou bem, sob o ponto de vista físico também tem essa capacidade de poder jogar a alto nível. Pode jogar amanhã. O sistema amanhã... não o quero, obviamente, dizer. O meu colega [treinador do Ajax] seguramente gostaria de ter a certeza daquilo que nós vamos fazer. E estou convencido que o António Silva está congelado, porque está um frio dos diabos lá fora.

— Gostava de continuar no último jogo, mas para falar também do Rafael Obrador. porque no último jogo apostou no Dedic no lado direito (defesa direito) e Rodrigo Rêgo no lado esquerdo. Tendo em conta isto, em que ponto de evolução está Obrador? Porque esteve na comitiva, recentemente jogou por Espanha, mas desde o início da temporada só fez dois jogos pelo Benfica. O que é que tem faltado ou o que falta para ser uma opção mais regular nas suas escolhas?

— Jogou pela Espanha um jogo, salvo erro contra o Liechtenstein, e não jogou no jogo seguinte, que era o jogo mais importante e mais difícil. O Rêgo ficou comigo. Tivemos duas semanas a trabalhar. O Obrador foi embora depois do jogo com o Casa Pia e só voltou dois dias antes do jogo. Obviamente que é uma vantagem para quem fica, é uma vantagem para quem está a trabalhar cada dia. Principalmente para esta rapaziada jovem, eu preciso de os ver, preciso de os ter, preciso de perceber aquilo que me podem dar ou não dar. O Rafa é lateral a quatro. Tem que crescer sob o ponto de vista defensivo, porque ainda tem algumas lacunas. Como nós começámos o jogo no Atlético com três defesas e com alas ofensivos, o Rêgo está muito mais rotinado nisso, vinha de quatro ou cinco jogos seguidos com o Veríssimo na equipa B a fazer essa função. E também lhe quis dar a oportunidade, porque se tu não dás oportunidades aos jogadores mais jovens, nunca sabes o que é que eles podem fazer ou não fazer. É sempre uma dúvida a maneira como eles reagem perante novos cenários, seja ao nível da qualidade, seja ao nível da intensidade do jogo. Mas tu tens que os meter. Se não os metes, não sabes. E eu achei que foi uma oportunidade boa para meter o Rodrigo e para tentar perceber se ele tinha condições para continuar connosco.

Perguntas feitas em inglês

— Normalmente ganha contra equipas holandesas...

— Não é verdade. Eu sabia que vinha com essa. Não é verdade. Olhe, nas últimas três vezes que joguei na Holanda: perdi contra o Feyenoord, perdi contra o AZ e empatei contra o Twente.

— Viu como o Ajax joga neste momento? É possível vencer?

— Eles têm bons jogadores. Têm um treinador que os conhece bem de antes, não é apenas um treinador que acabou de chegar. Li as palavras dele na conferência de imprensa e ele identificou claramente itens e princípios onde quer que a equipa melhore. Eles têm bons jogadores. Não estou focado na forma como estão a jogar [neste momento], porque se eles olharem para nós em relação aos nossos resultados na Liga dos Campeões, podem sentir o mesmo [que será fácil]. Adoraria que eles pensassem que vai ser um jogo fácil para eles, mas não creio que pensem dessa forma. Acho que são realistas, acho que sabem que vai ser um jogo difícil.

— Qual será o maior desafio neste jogo contra o Ajax?

— O maior desafio é a responsabilidade de ganhar. Uma coisa é querer ganhar, outra coisa é ter de ganhar. São coisas diferentes. Para mim, pessoalmente, é o mesmo, porque digo sempre a mim mesmo "tenho de ganhar". Mas acho que esse é o desafio, tem de se ser equilibrado. Sabemos que temos de ganhar, sabemos que para chegar aos 9 pontos, talvez 10, de que precisamos para a qualificação, precisamos de ganhar amanhã. Temos de ganhar amanhã. Mas temos de jogar também com o cérebro, não apenas com o coração, não apenas com as emoções. E acho que esse é o maior desafio para nós.

— O senhor não liga muito a estatísticas, acabou de explicar, mas ganhou 6 vezes contra o Ajax [pelo Real Madrid]. Como vê isso?

— A única coisa que sei é que, como sabem, nasci em 1963. Por isso podem imaginar, para um miúdo como eu era — já não sou —, podem imaginar o que o Ajax significa para mim. O respeito que tenho pelo Ajax, pela história, pelas equipas que tiveram, pelos títulos que ganharam, pelos jogadores fenomenais que têm geração após geração. Adoro jogar contra eles. Sobre o meu tempo no Real Madrid... nós éramos muito melhores. [...] Para além disso, nem me lembro de ter jogado contra o Ajax. Joguei 6 vezes? Meu Deus. O Real Madrid com Benzema, Higuaín, Di María, Özil, Cristiano... Isso era o Real Madrid. [Era fácil ganhar].