«É preciso repensar todo o modelo de gestão»
— Há um ano, foi o primeiro dos três pré-candidatos a presidente da federação de natação a avançar. Avelino Silva entretanto desistiu. Miguel Arrobas, confirmou a candidatura e será seu adversário no próximo sábado. Porque foi o último a confirmar a candidatura e a falar?
— Fui o último porque acho que na minha posição de dirigente tinha que manter algum equilíbrio entre aquilo que é o candidato e a efetivação exatamente dos deveres como dirigente e vice-presidente da federação. Sou vice-presidente para a natação adaptada e para as águas abertas e esta atividade manteve-se. Por isso, só mais tarde, depois dos Jogos Paralímpicos, senti estar mais liberto das grandes obrigações como dirigente da federação e passei a focar-me mais naquilo que poderá ser o futuro da natação portuguesa e formalizei a candidatura.
— E porque não suspendeu o mandato de vice-presidente?
— É uma questão que cheguei a pensar, mas não vi motivos para que as coisas acontecessem dessa forma. Pensei exatamente sobre as questões éticas de continuar ou não no cargo mas, ao longo deste tempo, de forma nenhuma procurei aproveitar-me das funções de dirigente. Como podem verificar nas redes sociais, tento publicar ou republicar coisas da federação, mas aquilo que ia fazendo sempre era não tirando vantagem garantidamente delas. Continuei a ir às provas quando me convidaram, e as coisas ficaram todas definidas. A direção definiu o seu plano até dezembro, até ser eleita outra, por isso não vi como pudesse tirar vantagens.
Daquilo que sei da história das recandidaturas na federação, até agora nunca ninguém deixou de ser presidente para tentar ser reeleito. Tenho a consciência tranquila nesse aspecto.
— Não viu que tirasse vantagens, mas não achou que houvesse quem olhasse para nisso de outra forma, uma vez que continua dentro do aparelho para o qual quer ser eleito?
— Quando fui eleito para a direção, fui-o por quatro anos e, daquilo que sei da história das recandidaturas na federação, até agora nunca ninguém deixou de ser presidente para tentar ser reeleito. Tenho a consciência tranquila nesse aspecto. Sei que tenho feito o trabalho mais isento possível e, eventualmente, até posso dizer que prejudicando-me em termos do foco na candidatura para continuar a exercer a atividade como dirigente e indo de encontro àquilo que foi o plano estratégico montado até ao final de 2024.
— Está há 12 anos na federação e desde o início como vice-presidente. O que é que fez candidatar-se?
— Acho que há muito trabalho feito. O atual presidente [António José Silva] foi uma pessoa com visão estratégica, que veio a redundar com consequências positivas para a natação e sinto que há trabalho para refazer, mas também para continuar. Tendo em conta aquilo que é o conjunto dos diversos agentes da natação portuguesa, há ainda pensamento que deve ser feito relativamente à arbitragem e as disciplinas da natação no seu global. Por isso, as competências que ganhei ao longo destes 12 anos favorecerão o meu mandato e a visão estratégica que tenho para os próximos 12 anos.
Cada cabeça pensa por si e sendo eu uma pessoa que esteve sempre próxima do presidente tenho plena consciência do aparelho, daquilo que é preciso repensar e o que realmente teve muito êxito, algum êxito ou é preciso deitar fora.
— Quer dizer que há uma parte de continuidade e outra de querer modificar certas coisas?
— Garantidamente. Cada cabeça pensa por si e sendo eu uma pessoa que esteve sempre próxima do presidente tenho plena consciência do aparelho, daquilo que é preciso repensar e o que realmente teve muito êxito, algum êxito ou é preciso deitar fora. Neste período de 12 anos, em algumas ocasiões nem sempre estivemos em concordância, mas, felizmente, as coisas são assim. É por isso que a gestão destas organizações é feita por um grupo de pessoas. É daí que nasce a positividade e as soluções para as coisas.
Ficámos um bocadinho aquém daquilo que eram os objetivos, e estamos a falar nos Jogos de Paris, onde se desejava a final olímpica. Nos Jogos Paralímpicos as coisas correram bem.
— Tenho duas perguntas por causa da sua resposta. A primeira é, o que é que acha mais urgente de continuar ou de reforçar e o que é mais urgente fazer de novo?
— Neste período que termina houve um pensamento que foi: é preciso aproximar a natação portuguesa da elite mundial. Foi feito algum trabalho, há dados que nos dão essa aproximação, mas tenho consciência que as coisas não terão corrido tão bem quanto aquilo que gostávamos. Temos um duplo campeão mundial [Diogo Ribeiro], coisa inédita, e uma campeã europeia [Camila Rebelo]. Isto pode fazer significar que a natação nacional teve um grande impacto. É verdade, são duas bandeiras muito fortes que é preciso aproveitar para, de alguma forma, promover a formação e a vinda de pessoas para a modalidade, No entanto, ficámos um bocadinho aquém daquilo que eram os objetivos, e estamos a falar nos Jogos de Paris, onde se desejava a final olímpica.
Nos Jogos Paralímpicos as coisas correram bem. Podiam ter sido melhores, mas há muito tempo que não tínhamos uma medalha nos Paralímpicos [bronze de Diogo Cancela] e, finalmente, conseguimo-la. Assim como um conjunto de diplomas que nos dão garantias de que há futuro na natação.
Éramos pessoas um bocadinho distantes de Lisboa, onde está a sede da federação, e com a vinda de novos dirigentes, com uma maior proximidade à sede, isso permitirá maior eficácia e, fundamentalmente, capacidade de resposta. Senti que a comunicação interna nem sempre funcionou bem.
— E o que é urgente mudar?
— É preciso repensar todo o modelo de gestão. Éramos pessoas um bocadinho distantes de Lisboa, onde está a sede da federação, e com a vinda de novos dirigentes, com uma maior proximidade à sede, isso permitirá maior eficácia e, fundamentalmente, capacidade de resposta. Senti que a comunicação interna nem sempre funcionou bem. Temos também de melhorar ao nível da gestão. Ainda que sabendo que o presidente esteve sempre bastante presente assim como um conjunto de dirigentes, com esta nova possível Direção, há agente mais próxima da sede. Há processos para mudar, existem novas formas de entender aquilo que é a gestão, principalmente da comunicação e de procedimentos com o exterior. Fundamentalmente com as associações e clubes, é preciso refazer isso no sentido das coisas serem mais reunívocas, de cá para lá e de lá para cá.
Admito que nem sempre as coisas possam ter acontecido muito veemente. Eventualmente agora, pela presença dele na presidência da Liga Europeia e mais ocupado, às vezes tenha tido menos tempo disponível para discutirmos alguns assuntos que necessitavam ser mais debatidos antes de grandes decisões.
— Uma vez que referiu que nem sempre concordou com o presidente, sentiu-se alguma vez limitado como vice-presidente neste último ciclo?
— Não. De uma forma geral, esta presidência do António Silva foi em comunicação, principalmente comigo, para que as coisas pudessem correr bem. Admito que nem sempre as coisas possam ter acontecido muito veemente. Eventualmente agora, pela presença dele na presidência da Liga Europeia e mais ocupado, às vezes tenha tido menos tempo disponível para discutirmos alguns assuntos que necessitavam ser mais debatidos antes de grandes decisões. Mas, de uma maneira geral, relativamente às disciplinas de que tenho responsabilidade. posso dizer que a autonomia foi praticamente absoluta.
E sendo todos corresponsáveis pelas decisões da Direção e que cada um tomava, essa lealdade existiu sempre, de parte a parte, quer com os outros diretores ou vice-presidentes ou com o presidente, de forma alguma me senti limitado relativamente a qualquer assunto.
Tinha algumas responsabilidades na transversalidade da política de alto rendimento diante da federação, mas sabendo-se que a natação pura era um elemento crucial e da responsabilidade do presidente, tornava-se difícil tentar ultrapassar alguns pensamentos e decisão que ele detinha.