José Mourinho muito crítico, apesar do apuramento do Benfica na Taça de Portugal, após vitória sobre o Atlético

Convocado para o Ajax, Ríos «importantíssimo» e recado: tudo o que disse Mourinho

Treinador do Benfica não poupou críticas ao desempenho da equipa na primeira parte, elogiou Rodrigo Rêgo e afirmou que sistema de três centrais «não foi o problema»

Que análise faz e que ilações tira deste jogo?

Parabéns ao Atlético. Uma equipa de um escalão inferior competir como competiram é bom, foi bom para o jogo e para a divisão onde jogam, discutiram o resultado durante muito tempo. Os jogadores deram tudo, mas de um modo sempre correto. Cumpriram aquilo que o treinador disse antes do jogo, que iam tentar manter a identidade deles. Fizeram o quanto foi possível para eles. Parabéns para eles. Para alguém que nasceu em 1963 tenho o desejo muito forte que o Atlético seja a equipa que foi durante a minha infância.

Na primeira parte o Benfica não jogou e pior do que não ter jogado, foi não ter entrado em campo. E pior do que não ter estado em campo, foi ter tantos jogadores com uma atitude que nem em treino é admissível. Não me consigo recordar de um único treino onde a atitude tivesse sido aquilo que nós fomos hoje. Logo desde o primeiro minuto, perdas de bola absolutamente ridículas, O Restelo é muito ventoso, principalmente nesta altura do ano e à noite e causa muitas dificuldades para quem está a jogar contra o vento, mas tivemos muitos passes errados, os médios a não se darem ao jogo, os atacantes a baixarem muito e a perder o controlo. Um jogo tão mau que me fez dizer aos jogadores ao intervalo que ia mudar quatro, que não podia mudar 5 porque não podia jogar 45 minutos sem uma substituição no bolso, mas que gostaria de mudar nove. Para na minha cabeça ter vontade de mudar nove era porque a coisa estava feia, não no sentido de estarmos em risco de ser eliminados ou de não ganhar o jogo, mas porque tenho um conceito de profissionalismo. Há coisas que me custam a entrar.

Na segunda parte, não mudámos nove, mas mudámos quatro e os quatro deram uma atitude completamente diferente à equipa. Ajudaram a equipa a ser muito mais profissional, a ser muito mais intensa, a ter mais dinâmica. A questão era o golo aparecer ao minuto 50, 60, 70 ou 80, mas que tinha que aparecer como apareceu. No fundo, uma vitória justa, nossa, vitória normal, nossa e parabéns para o Atlético, que possam voltar a ser o Atlético que nós conhecemos.

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Depois das observações que fez hoje à equipa, que resposta ter contra o Ajax [na terça-feira]?

A resposta que quiserem dar, a que acharem que devem dar. Quando critico os jogadores, critico-me, a responsabilidade é minha. Para mim foi uma surpresa porque treinámos bem, quando podemos treinar. Ontem e anteontem treinámos bem, com intensidade, concentração, foi uma surpresa negativa. Nestes jogos de Taça, a principal razão para os tomba-gigante é que o gigante adormeceu, a história está feita de gigantes adormecidos. Lembro-me do Caldas-Benfica, que foi a penáltis [2022/23]. Acontece muita vez, mas o gigante não deve adormecer. Um gigante tem uma massa adepta muito grande, ganha muito dinheiro, não pode brincar ao futebol e ter a atitude como alguns jogadores tiveram na primeira parte.

Que análise faz à estreia do Rodrigo Rêgo?

Gostei, não defraudou em nada. O meu interesse parte no Rodrigo parte dos primeiros dias depois de eu ter chegado e de ainda não ter percebido bem o potencial de cada jovem que vi, mas perceber claramente o tipo de atitude que têm. Chamou-me imediatamente à atenção, pela atitude que tem, pelos dados que tem em cada jogo e treino, tem a capacidade de repetir ações de alta intensidade, tem muito carácter. Pode jogar em sistemas diferentes, pode jogar na esquerda, pode jogar na direita. Jogando como ala num sistema de três, não tem só pernas, tem também qualidade técnica, cruzamento. Era um miúdo que tinha quase a certeza que não me ia defraudar, estou contente, por isso é que jogou os 90 minutos. Se tivesse idade para jogar na Youth League deixava-o jogar, gostamos de fazer bem na Youth League, mas não tem idade, por isso vai ficar comigo, para jogar, não sei se de início. Depois, quem não aproveita oportunidades e vê miúdos passar à frente, depois não me venham bater à porta.

Disse na flash interview que não gosta de jogadores que o traem. Esses jogadores foram os quatro que tirou ou os nove que mencionou?

Os nove.

A aposta no sistema de três centrais é para repetir?

Jogámos a três com o Rêgo e o Dedic muito altos e com o António e o Tomás a defender as alas. Jogar a três é difícil, já o fiz na Roma e no Fenerbahçe, mas depois de pré-épocas. Fi-lo com diferentes intenções, uma delas jogar com o Ivanovic com o Pavlidis, tentar replicar o que fazia com mais sucesso no Saint-Gilloise do que no Benfica. Fi-lo para testar um plantel que está magro de opções nas alas. A razão pela qual mudei, não teve a fazer com problemas do sistema, até tivemos muito boa ocupação da área que não temos quando jogamos com um. O problema não foi o sistema, foi um jogador que não foi capaz de motivar os jogadores para a responsabilidade de um jogo que, como lhes disse no início ‘se ganharmos não se passa nada e se perdermos é um desastre’...

O Benfica tem um estilo de jogo muito próprio, como o Lukebakio como um definidor de ataques. Sem esta presença de um extremo mais físico e mais rápido na frente, qual dos sistemas poderá ser melhor para colmatar a ausência?

Cada jogo é um jogo. Jogar a cinco é fácil, é dos sistemas mais fáceis de jogar, jogar a três é muito difícil e exige trabalho. Eu não gosto de jogar a cinco, só gosto quando estou a ganhar e é hora de fechar a porta. Honestamente não acredito que nós possamos, entre hoje e terça-feira, ter uma equipa sólida para interpretar o sistema num jogo de alto risco.

Ríos estreou-se a marcar era o que precisava para ganhar confiança e afirmar-se?

Tem sempre impacto na equipa, mesmo quando não faz as coisas que as pessoas esperam que façam. Mas há uma base que parece que com ele é inegociável, da entrega, da fisicalidade, da pressão, seja defensiva, seja ofensiva. Acho que tem justificado sempre, mesmo com alguns erros na confiança Não é puxada de saco ao meu presidente, mas não vamos comparar Ríos com Rui Costa, só par dar um exemplo, mas dá-nos muito. Se fazer um golo dá-lhe mais alegria e confiança, ótimo. Mas para mim, desde que cheguei, é um jogador importantíssimo.