Catarina Costa: «Esta prata é especial»
«Epá, isto correu bem…», desabafou Catarina Costa (-48 kg) com A BOLA pouco depois de descer do pódio na Sud de France Arena, onde recebera a medalha de prata do Campeonato da Europa Montpellier-2023, perdendo apenas na final, por duplo wazari, após 1.26m de prolongamento, ante a francesa Shirne Boukli (2.ª do ranking). Embate que repetiu a discussão do título de Sófia-2022 e permitiu à olímpica da Académica (8.ª) garantir o 40.º pódio de Portugal (11+9+20) no evento.
Apesar de não ter ganho, está muito feliz. «Sim. Foi um dia muito bom em que senti a forma a subir em relação à semana passada [5.ª no Grand Slam de Abu Dhabi] e de combate para combate. Ganhei a atletas fortes, com bons resultados», diz.
«O Europeu é sempre uma competição bem disputada. Não consegui preparar-me especificamente porque fui a Abu Dhabi, mas tentámos manter o pico de forma e melhorar os pormenores que não tinham corrido tão bem. Senti-me bastante bem a competir e por isso só posso estar satisfeita», reforça.
«É claro que desejava ter vencido. Ela competia em casa e se lhe tivesse ganho seria ainda melhor. Não deu, mas não deixou de ser especial termos repetido a final do ano passado. É uma grande amiga e penso que disputámos um belo combate. Ela projetou-me primeiro [wazari logo aos 12s], mas dei a volta [wazari aos 1.06m] e acreditei até ao fim que era possível. Só que a Shirne teve um momento em que foi melhor», reconhece a olímpica em Tóquio. Ainda assim foi 1.26m de prolongamento. «Não vi… A partir do momento em que vou para o ponto de ouro nem olho. É sempre em frente. Vamos com tudo», explica, rindo-se.
Quando, na véspera, A BOLA conversara com Catarina, que esteve num Euro pela 5.ª ocasião aos 27 anos, a judoca revelara que sentira que a prata de Sófia-2022 ficara colada ao seu nome. Já ganhara muitas medalhas, mas aquela é das que as pessoas mais se recordam. «Fogo! Devia ter dito ouro…», ri-se.
«Mas ser vice-campeã também não é um mau título. Duas finais europeias seguidas mostra consistência. Os 490 pontos são bons, este resultado vai entrar para o 3.º lugar que obtive no Masters, mas o que interessa mesmo é ter sido prata. Esta medalha tão especial sabe bem», reforça.
E entre o 1.º combate (austríaca Tanzer, 27.ª) e o da final, ambos com prolongamento, qual foi o mais complicado? «O primeiro é sempre complicado. É uma regra dos judocas, mas também entrei com calma para não cometer erros e precipitar-me a atacar. Depois, no ponto de ouro, senti-me melhor e acabei por fazer ippon. Não consigo escolher entre os dois. A final foi uma boa luta e coloquei bom ritmo e aguentei-o até ela projetar-me», analisa.
Agora passou a ter mais uma medalha em Europeus do que o João Neto (treinador). «Pois, só que ele foi campeão.... Ainda me ganha. Isto é uma competição saudável que temos, mas o João também está muito feliz pelo percurso que temos feito. Tem sido recompensado», afirma. No entanto há algo que ele não tem: estar no lote dos portugueses com mais do que um pódio na prova. «Está a dar-me uma novidade. Pois, isso ele não tem… Nessa ganho-lhe», diz mais radiante.
E se dedicasse esta medalha a alguém, a quem seria? «É muito fácil: à Académica. Hoje é o aniversário [136.º] da AA Coimbra e isso torna este resultado ainda mais especial. Esta é para todos os academistas».
«A Telma desejou-me boa boa sorte e eu foquei-me na prova»
Curiosamente, quando Telma Monteiro se lesionou no joelho no tapete 4, no 1 encontrava-se simultaneamente Catarina. Quisemos saber se viu e como tentou abstrair-se disso na prova. «Por estarmos em tapetes opostos não me apercebi. Quando é mesmo ao lado pode-nos tirar algum foco, mas não aconteceu. Só quando saí é que vi que se havia magoado e estive com ela na zona de aquecimento a falar um bocadinho».
«Mas somos atletas de alta competição, ela desejou-me boa sorte e eu mantive a concentração e continuei. É pena, se calhar poderia estar ao meu lado agora também com uma medalha. Afinal é a que mais pódios tem em Europeus. É igualmente uma das mais resilientes e, independentemente do que for, encarará a questão da melhor forma. Há de voltar ainda mais forte», concluiu.