André Villas-Boas, presidente do FC Porto, na Cimeira de Presidentes da Liga
André Villas-Boas, presidente do FC Porto, na Cimeira de Presidentes da Liga. Foto: José Coelho/Lusa

Carta do FC Porto à Liga: ataque ao Benfica e a 'estranha' ausência do Sporting

Portista enviaram missiva a Reinaldo Teixeira que A BOLA reproduz na íntegra onde fala do processo de centralização, do combate à corrupção que não teve efeitos práticos e de um possível alinhamento dos leões com os encarnados

O FC Porto enviou uma carta ao presidente da Liga, Reinaldo Teixeira, depois de o Benfica ter suspendido o seu lugar na Liga Centralização. Os dragões manifestam-se surpreendidos, «considerando o apoio anteriormente manifestado pelo Presidente do Benfica ao seu programa eleitoral e à gestão do anterior Presidente da Liga Portugal.»

«Não nos são claros os motivos desta tomada de posição, questionando-nos se decorrem de novos dados ou de alterações internas. Recordamos que o FC Porto sempre defendeu, de forma isolada, a importância de submeter os candidatos à Presidência da Liga ao escrutínio dos clubes, para avaliar estratégias sobre temas como pirataria, apostas desportivas, quadros competitivos e centralização. Infelizmente, muitos clubes optaram pelo silêncio, negligenciando um debate essencial», apontam.

Registamos igualmente, coincidência ou não, que o Sporting Clube de Portugal não compareceu à reunião da Direção da Liga Centralização

Afirma o clube que nas Cimeiras de Presidentes e eventos da Federação Portuguesa de Futebol, o FC Porto reiterou posições firmes sobre centralização, quadros competitivos e combate à corrupção. Contudo, «pouco tem sido concretizado», dando como exemplo o «atraso na centralização» e na proposta de repartição de receitas. Os portistas afirmaram que a saída do Benfica da Direção da Liga Centralização e a ausência do Sporting na última reunião agravam esta situação, reafirmando a sua disponibilidade para discutir estes temas em Assembleia Geral da Liga Portugal ou Extraordinária, com respaldo estatutário e concordância dos restantes clubes: «A anunciada saída do Sport Lisboa e Benfica da Direção da Liga Centralização pode representar mais um atraso relevante num processo fundamental para a valorização e estabilidade das Sociedades Desportivas. Solicitamos, por isso, a V. Exa. que assuma uma posição mais assertiva e objetiva sobre esta matéria. Registamos igualmente, coincidência ou não, que o Sporting Clube de Portugal não compareceu à reunião da Direção da Liga Centralização realizada ontem.»

O FC Porto tem sido uma das poucas entidades a dirigir, de forma formal, apelos à Liga Portugal, à Federação Portuguesa de Futebol e à Procuradoria-Geral da República para a adoção de medidas mais eficazes e consequentes no combate a este flagelo. Recordamos, a título de exemplo, o chamado “caso dos emails”, cujos contornos revelam práticas que o próprio Presidente do Sport Lisboa e Benfica classificou como “influências diretas ou indiretas na arbitragem”.

Sobre outros pontos da missiva do Benfica, afirma ser desproporcionada a proposta de investigação sobre ex-árbitros em estruturas futebolísticas, que levanta suspeições infundadas sobre profissionais competentes. O FC Porto defende ter apelado formalmente à adoção de medidas eficazes contra corrupção, recordando casos como o ‘caso dos emails’, cujos contornos revelam práticas que o próprio presidente do Benfica terá classificado como influências na arbitragem. «O FC Porto tem sido uma das poucas entidades a dirigir, de forma formal, apelos à Liga Portugal, à Federação Portuguesa de Futebol e à Procuradoria-Geral da República para a adoção de medidas mais eficazes e consequentes no combate a este flagelo. Recordamos, a título de exemplo, o chamado “caso dos emails”, cujos contornos revelam práticas que o próprio Presidente do Sport Lisboa e Benfica classificou como 'influências diretas ou indiretas na arbitragem'.»

O FC Porto foi uma das poucas entidades a assumir posições públicas firmes sobre temas como a centralização, a reformulação dos quadros competitivos e o combate à corrupção — assuntos que, pela sua natureza, mereciam debate sério e transparente entre todas as Sociedades Desportivas.

O FC Porto afirma que regulamentos das instituições do futebol português necessitam de revisão profunda. Sanções brandas, como multas por quebras de segurança ou agressões iminentes, transmitem permissividade institucional e afetam a imagem da competição, como evidenciado em «episódios recentes no Estádio da Luz». «Recordamos, a este respeito, os acontecimentos verificados no Estádio da Luz, aquando do jogo entre o Sport Lisboa e Benfica e o Sporting Clube de Portugal, que evidenciam de forma gritante essa incongruência», situam os dragões.

A carta do FC Porto ao presidente da Liga
Ex.mo Senhor Presidente da Liga Portugal, Senhor Reinaldo Teixeira Acusamos a receção da carta que nos foi remetida para conhecimento pelo Presidente do Conselho de Administração do Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD, dirigida a V. Exa., a qual mereceu a nossa melhor atenção. Foi com surpresa e estranheza que tomámos conhecimento do conteúdo dessa comunicação, sobretudo considerando que o Presidente do Conselho de Administração do Sport Lisboa e Benfica manifestou, de forma clara e inequívoca, o seu apoio às linhas mestras do seu programa eleitoral para o futebol português nas mais recentes eleições para a Presidência da Liga Portugal. Acresce ainda que havia anteriormente expressado publicamente a sua satisfação com a gestão do anterior Presidente da Liga Portugal, o Senhor Pedro Proença, que também apoiou na candidatura à Presidência da Federação Portuguesa de Futebol. Não nos são inteiramente claros os motivos que justificam o momento escolhido para esta tomada de posição. Questionamo-nos se se deve à existência de dados novos, desconhecidos do FC Porto, ou se, internamente, o signatário encontrou razões para alterar e agora verbalizar um novo posicionamento. Permito-me recordar a V. Exa. que, anteriormente à sua entrada em funções como Presidente da Liga Portugal, o FC Porto, de forma isolada e em sede de Cimeira de Presidentes, salientou a importância de submeter os candidatos à Presidência da Liga ao escrutínio dos Presidentes dos Clubes e demais Sociedades Desportivas. Acreditámos, e continuamos a acreditar, que era essencial conhecermos a sua visão estratégica para o futebol português, os caminhos para a criação de valor, e o seu posicionamento relativamente a temas estruturantes, como o combate à pirataria, as apostas desportivas, os seguros desportivos, os quadros competitivos e, naturalmente, o projeto da Liga Centralização. Infelizmente, a larga maioria dos Clubes optou pelo silêncio ou por alinhamentos estratégicos de interesse próprio, negligenciando a discussão franca e aberta que o momento exigia. Talvez tenham surgido novos elementos. No entanto, também nas mais recentes Cimeiras de Presidentes, já no decurso do seu mandato, e em múltiplos eventos organizados pela Federação Portuguesa de Futebol, o FC Porto foi uma das poucas entidades a assumir posições públicas firmes sobre temas como a centralização, a reformulação dos quadros competitivos e o combate à corrupção — assuntos que, pela sua natureza, mereciam debate sério e transparente entre todas as Sociedades Desportivas. A avaliação da clareza de posições tem sempre uma dimensão subjetiva. Já a sua tradução em ação é uma questão factual. E, de facto, pouco ou nada de substancial tem sido concretizado, apesar da aproximação das metas estabelecidas. Tomemos como exemplo a centralização e a proposta de repartição de receitas a submeter ao Governo. A anunciada saída do Sport Lisboa e Benfica da Direção da Liga Centralização pode representar mais um atraso relevante num processo fundamental para a valorização e estabilidade das Sociedades Desportivas. Solicitamos, por isso, a V. Exa. que assuma uma posição mais assertiva e objetiva sobre esta matéria. Registamos igualmente, coincidência ou não, que o Sporting Clube de Portugal não compareceu à reunião da Direção da Liga Centralização realizada ontem. Por todos os motivos expostos, reafirmamos a nossa total disponibilidade para que estes e outros temas sejam amplamente discutidos em Assembleia Geral da Liga Portugal ou, caso se justifique, em Assembleia Geral Extraordinária, com o devido respaldo estatutário e a concordância dos restantes Clubes e Sociedades Desportivas. Relativamente a outros assuntos referidos na missiva do Sport Lisboa e Benfica, não podemos deixar de registar uma falta de respeito para com diversos profissionais da indústria do futebol, bem como alguma omissão seletiva de factos que envolvem direta ou indiretamente a própria Sociedade Desportiva em causa, no plano legal e jurídico. Assim, a proposta de solicitar à Federação Portuguesa de Futebol, à Liga Portugal e à Procuradoria-Geral da República a abertura de uma investigação sobre o exercício de funções por ex-árbitros em estruturas futebolísticas parece-nos profundamente desproporcionada. Tal sugestão levanta, de forma infundada, um manto de suspeição sobre figuras nacionais e internacionais que, de forma séria e competente, exercem ou exerceram funções relevantes em órgãos federativos, associativos, representações de classe ou até em clubes, onde colocam ao serviço da indústria o seu conhecimento técnico especializado. A arbitragem é parte essencial do ecossistema do futebol. A crescente profissionalização do setor justifica plenamente a contratação de técnicos especializados. Não surpreende, portanto, que ex-árbitros assumam funções de liderança em entidades como associações, federações ou confederações — realidade que, em Portugal, encontra eco em figuras como Pedro Proença e Paulo Costa, tal como sucede a nível internacional com nomes como Pierluigi Collina, Lubos Michel, Markus Merk, Howard Webb e Bjorn Kuipers. Este enquadramento contrasta fortemente com o comportamento de certos clubes que, de forma reiterada, recorrem a “especialistas em arbitragem” em painéis televisivos e meios de comunicação social, com o objetivo claro de gerar opinião pública favorável ou desfavorável, condicionando, por essa via, o julgamento do trabalho dos árbitros e afetando a sua dignidade profissional. Importa ainda sublinhar o tema da corrupção ativa e passiva. O FC Porto tem sido uma das poucas entidades a dirigir, de forma formal, apelos à Liga Portugal, à Federação Portuguesa de Futebol e à Procuradoria-Geral da República para a adoção de medidas mais eficazes e consequentes no combate a este flagelo. Recordamos, a título de exemplo, o chamado “caso dos emails”, cujos contornos revelam práticas que o próprio Presidente do Sport Lisboa e Benfica classificou como “influências diretas ou indiretas na arbitragem”. Algumas dessas práticas foram judicialmente comprovadas; outras ficaram por apurar. Ainda assim, à época, a Futebol SAD do Sport Lisboa e Benfica não acompanhou os nossos apelos nem demonstrou qualquer vontade em contribuir para uma mudança estrutural — mudança que agora, com espanto, se propõe liderar. Os regulamentos das instituições que tutelam, regulam e organizam o futebol português necessitam de uma revisão profunda, adaptada à realidade atual e com visão de futuro. A aplicação recorrente de sanções de reduzida gravidade, que não refletem a extensão ou gravidade dos comportamentos, transmite a ideia de permissividade institucional e afeta a imagem global da competição. Situações como quebras de segurança nos estádios, ou agressões iminentes à integridade física de árbitros, treinadores e jogadores, não podem continuar a ser penalizadas com meras multas. A aplicação de “atenuantes” para justificar decisões brandas apenas serve para reforçar perceções negativas. Recordamos, a este respeito, os acontecimentos verificados no Estádio da Luz, aquando do jogo entre o Sport Lisboa e Benfica e o Sporting Clube de Portugal, que evidenciam de forma gritante essa incongruência. Caro Presidente, aguardamos uma reação esclarecedora de V. Exa., que oriente com clareza e determinação o tratamento de problemas amplamente identificados no seio do futebol português. Contem com o FC Porto para discussões sérias, produtivas e para colaborar na concretização de medidas que efetivamente promovam a valorização e a credibilidade do futebol nacional. Com os melhores cumprimentos,

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