André Mosqueira do Amaral: «A luta contra a pirataria passou do discurso à ação»
André Mosqueira do Amaral: «A luta contra a pirataria passou do discurso à ação» - Foto: IMAGO

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Liga para Todos é o espaço de opinião quinzenal de André Mosqueira do Amaral, Diretor Executivo da Liga Portugal

Às portas de 2026, importa fazer um balanço sereno e exigente do caminho percorrido nos últimos meses do processo da centralização dos direitos audiovisuais e, sobretudo, do que está verdadeiramente em jogo no ano que se aproxima. Não como exercício retórico, mas como leitura estratégica de um processo que se constrói antes de se executar.

O trabalho feito até agora é substantivo. A entrega antecipada do modelo de comercialização à Autoridade da Concorrência, onze meses antes do prazo legal de junho de 2026, não foi apenas um sinal de confiança institucional. Foi, acima de tudo, uma opção deliberada por um processo colaborativo, capaz de incorporar escrutínio, ajustar soluções e alinhar o modelo com dinâmicas de mercado cada vez mais complexas e voláteis.

Em paralelo, desenvolveu-se um trabalho de campo intenso com os principais intervenientes do ecossistema audiovisual. Compradores nacionais e internacionais, novos operadores digitais, outras ligas e investidores foram ouvidos. Em simultâneo, a luta contra a pirataria passou do discurso à ação, com articulação efetiva com autoridades e legislador, reconhecendo que não há valorização sustentável do produto sem proteção dos seus ativos.

Outro pilar essencial foi o desenvolvimento, com as Sociedades Desportivas, de uma chave de distribuição. A aprovação unânime no Conselho de Administração da Liga Centralização e o consenso evidenciado na recente Cimeira de Presidentes demonstram que, quando o diálogo é estruturado, é possível convergir.

O ano de 2026 será, assim, verdadeiramente decisivo. Desde logo com a evolução do Controlo Económico e do Fair Play Financeiro, integrando contributos das Sociedades Desportivas e redesenhando um modelo de sustentabilidade mais robusto. Seguir-se-á o regulamento e a adjudicação da produção audiovisual, etapa que servirá para sinalizar ao mercado o nível de qualidade que ambicionamos, inovar tecnologicamente, aumentar eficiência e reforçar a proximidade ao adepto.

A venda dos direitos internacionais será um passo determinante na afirmação global do futebol profissional português, permitindo uma abordagem mais estratégica e diferenciada aos mercados externos. Já no plano doméstico, o objetivo será claro: atrair o maior número possível de participantes e maximizar a tensão competitiva no processo de licitação.

2026 é o ano em que se joga o primeiro ciclo de centralização. Mas convém sublinhar: a centralização é o princípio, não o fim. Integra-se num conjunto mais vasto de estratégias em curso, como o desenvolvimento da Liga TV e a produção de conteúdos próprios em articulação com as Sociedades Desportivas. É nessa visão de continuidade que se constrói valor duradouro.

PS: Que o novo ano chegue com ideias claras, espírito crítico e a saudável inquietação de quem recusa repetir caminhos fáceis. A todos os leitores e colaboradores de A BOLA, um excelente Ano Novo.