Festejos do Bodo/Glimt diante do Sturm Graz (IMAGO)

Bodo/Glimt: há um conto de fadas na Champions... vindo do Ártico

Noruegueses carimbaram inédito apuramento para a liga milionária. Conheça a história do clube norueguês que já deu muitas dores de cabeça a portugueses

Um conto de fadas e uma história de superação e resiliência com um feito já no bolso. O Bodo/Glimt confirmou o apuramento para a UEFA Champions League pela primeira vez na sua história. Depois de ter goleado, na Noruega, o Sturm Graz, por 5-0, perdeu na Áustria pela margem mínima (1-2) e fez a festa, dando mais um passo na excecional caminhada europeia que o clube conheceu nos últimos anos, encerrando 18 anos de jejum dos noruegueses na Champions (Rosenborg, 2007).

Fundado em 1916, o emblema norueguês está situado na cidade de Bodo, que conta com cerca de 55 mil habitantes e está a 16 horas de carro de Oslo. É um dos poucos clubes que jogam acima do Círculo Polar Ártico e um dos dois únicos do norte da Noruega que competem no primeiro escalão. Nos primeiros 100 anos andou entre a primeira, segunda e terceiras divisões e conquistou duas taças da Noruega (1993 e 1975). 

Adeptos do Bodo/Glimt no encontro com o Sturm Graz (IMAGO)

Da queda à segunda liga aos títulos

Em 2016, o Bodo/Glimt ficou em penúltimo e caiu ao segundo escalão do futebol norueguês, garantindo o regresso à elite no ano seguinte. Foi uma espécie de clique para aquele que seria a chegada aos títulos de campeão nacional.

Pandemia de Covid-19 serviu de... acelerador 

Se para muitos clubes a pandemia de Covid-19 deu muitas dores de cabeça e quebrou a sua evolução, o caso do Bodo/Glimt foi diferente. No primeiro ano orientado por Kjetil Knutsen, o emblema norueguês quase foi despromovido para o segundo escalão. Quando tudo poderia indicar que o treinador fosse despedido, eis que a direção segurou Kjetil Knutsen e não só: avançou com a renovação de contrato. 

Kjetil Knutsen, treinador do Bodo/Glimt (IMAGO)

A decisão tomada pelo Bodo/Glimt deu certo e, nos últimos cinco anos, o título de campeão só fugiu em 2022 para o Molde. De resto, foram os primeiros quatro títulos de campeão norueguês da história do clube (2020, 2021, 2023 e 2024). 

O sucesso do Bodo/Glimt não se ficou apenas pela Noruega. O nome do Bodo/Glimt é cada vez mais falado e o Aspmyra Stadion, casa do clube com capacidade para pouco mais de oito mil adeptos, enche frequentemente e cria um ambiente especial e difícil para os seus adversários... que o diga José Mourinho.

José Mourinho quando era treinador da Roma (IMAGO)

Goleada aplicada à Roma em 2021 

Se ainda havia quem nunca tivesse ouvido falar do Bodo/Glimt, tudo mudou a 21 de outubro de 2021, quando os noruegueses golearam (6-1) a Roma, na altura de José Mourinho, na fase de grupos da UEFA Conference League. Na baliza dos italianos estava Rui Patrício.  

Adeptos do Bodo/Glimt diante da Roma (IMAGO)

No onze do Bodo/Glimt estavam nove noruegueses, um islandês e um esloveno. Um dos elementos em destaque foi Ola Solbakken, que acabaria por rumar pouco tempo depois... à Roma, onde fez 15 jogos. Esta temporada deixou os giallorossi para assinar pelos dinamarqueses do Nordsjaelland.  

https://youtu.be/ES6Wy9Yqs6U?si=CGwQRsdsAp6atcdN

Ainda assim, não foi o único dissabor causado pelo Bodo/Glimt a José Mourinho. Na segunda volta da fase de grupos, a Roma não conseguiu vencer os noruegueses (2-2). O sorteio ditou que as duas equipas se voltassem a defrontar nos quartos de final. Aí, o Bodo/Glimt voltou a vencer em casa (2-1), mas foi goleado em Roma (0-4). A caminhada de José Mourinho e companhia acabou com o triunfo na final frente a um Feyenoord que contava com nomes como Orkun Kokçu e Fredrik Aursnes.  

Má memória para os portugueses 

Na época passada, o Bodo/Glimt ficou no caminho de FC Porto e SC Braga na fase de liga da UEFA Europa League.  

Logo na primeira jornada, e apesar da entrada a perder, o Bodo Glimt venceu o FC Porto, em casa, com reviravolta, por 3-2. Os noruegueses tiveram uma vantagem de dois golos, mas Deniz Gul reduziu em cima dos 90’. Na terceira ronda, em Braga, o Bodo/Glimt venceu por 2-1. O golo da vitória foi apontado por Villads Nielsen, aos 90+4’. 

O Bodo/Glimt ficou muito perto de alcançar a final da UEFA Europa League – eliminou Plzen e Lazio pelo caminho –, tendo sido afastado pelo Tottenham nas meias-finais.  

Sonho da Champions quase aí 

O conto de fadas do Bodo/Glimt está muito perto de ver escrita mais uma página dourada. Os noruegueses golearam o Sturm Graz e têm tudo para carimbar uma ida inédita para a fase de liga da prova milionária.  

O plantel do Bodo/Glimt e composto maioritariamente por jogadores noruegueses: mais de 75 por cento. O melhor marcador de 2025 é Kasper Hogh, com 24 golos em 32 jogos, acrescentando seis assistências. 

Kasper Hogh (IMAGO)

Descobrir talento e comprar barato

O Bodo/Glimt tem uma visão semelhante à utilizada pelos clubes portugueses (já foi mais). Descobrir talento local e no mercado nórdico, comprar barato e valorizar ativos. €4,8 milhões foi quanto o Bodo/Glimt pagou ao Aarhus, da Dinamarca, para contratar o médio ofensivo Albert Gronbaek. É a contratação mais cara da história do clube. Patrick Berg, médio defensivo, custou €4 milhões.  

Albert Gronbaek atualmente no Génova (IMAGO)

Em sentido inverso, o Bodo/Glimt não tem uma venda milionária, mas já encaixou um valor interessante. Em 2024/2025, o Rennes pagou €15 milhões pelo médio ofensivo Albert Gronbaek. Feitas as contas, Albert Gronbaek foi a compra e a... venda mais cara da história do clube da Noruega.  

História para o futebol norueguês