Benfica: Vieira no meio da sala
A recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica, cedo ou tarde oficial, não deixará uma pessoa indiferente no universo encarnado. Não é para menos. Vieira esteve quase 18 anos na cadeira do poder e marcou, de forma indelével, a história do clube. É o presidente do Benfica com mais troféus e o presidente do inédito tetracampeonato. Está no meio da sala e não poderá ser ignorado.
Gostem ou não gostem, queiram ou não queiram, todos terão de discutir Vieira e, com isso, mais de 20 anos de Benfica, porque Vieira entrou no clube, como gestor para o futebol, em maio de 2001, pela mão do então presidente Manuel Vilarinho, agora apoiante de João Noronha Lopes.
Vieira tem o lastro da conquista de troféus, da construção de infraestruturas como o estádio ou o centro de formação e treino do Seixal, da mobilização de sócios e adeptos, da forte liderança e da valorização dos ativos desportivos. E tem, também, o lastro dos processos judiciais, do desgaste de um estilo monopolizador de liderança ou de muitas transferências questionáveis. Terá de ser julgado pelos benfiquistas no equilíbrio do que fez bem e mal. Porque os tribunais tratarão de julgar o resto.
Num contexto de eleições, favorável a polarização, deve gozar, como qualquer cidadão, da presunção de inocência, um dos direitos que mais devemos estimar num Estado de Direito e que mais vemos menosprezado nos dias que correm. Acredito, sinceramente, que todos os candidatos respeitarão esse princípio e encontrarão motivos suficientes para se distanciarem, com propostas e ideias, do que Vieira estará preparado para prometer.
A 3 de julho, o meu camarada Ricardo Jorge Costa escreveu que tudo o que os benfiquistas têm a apontar ao presidente e à Direção em funções sobre a conotação com a vigência do antecessor, nomeadamente a pretensa continuidade, cai por terra e que as acusações de seguidismo de Rui Costa se não se esvaziam murcham muito. É uma observação muito interessante, mas também admito que muitos daqueles que pensariam em votar em Rui Costa possam agora querer votar em Luís Filipe Vieira.
Será sempre positivo, para o Benfica, discutir-se o clube e a SAD, haver várias candidatos com ideias e propostas diferentes. Já tenho mais dificuldade em aceitar que alguns se arroguem de ser os fiéis depositários dos valores do clube e de prometerem recuperá-los, mas esse mal da arrogância não é exclusivo do futebol.
Será sempre positivo, para o Benfica, que a campanha eleitoral decorra com elevação, embora não seja difícil encontrar quem pense, em várias candidaturas, que será feio em muitos momentos.
O anúncio oficial da candidatura, na perspetiva de Vieira, será sempre melhor mais tarde do que, provavelmente, alguns esperam. Não estou a ver que tenha muito a ganhar ao fazê-lo antes. Os benfiquistas conhecem-no bem e dele sabem o que esperar.
Adeus, Jorge Costa
Jorge Costa morreu na terça-feira. Para mim, como seguramente para muitos, foi um choque tomar conhecimento da notícia. Foi, porém, bonito perceber como era estimado por tantos, não apenas pelo que fez no futebol, para percebermos ainda melhor a dimensão dele como homem.
Foram bonitos os testemunhos institucionais de Benfica e Sporting, especialmente, o testemunho de Rui Costa, que perdeu um irmão, como o considerava. Jorge Costa é património nacional e, numa perspetiva egoísta, mesmo sem o ter conhecido pessoalmente, meu património. À família e amigos, apresento as mais sentidas condolências.