Benfica e Nice unidos pela história e por um animal
1904. Meses depois da fundação do Sport Lisboa, o Gymnaste Club de Nice iniciou atividade a 9 de julho em terras gaulesas. A casa da ginástica e do atletismo abriu a porta ao futebol em 1908, no mesmo ano em que, a 2000 quilómetros de distância, a junção entre dois clubes da capital lusa dava origem ao Sport Lisboa e Benfica.
Já sob o domínio de Olympique Gymnaste Club Nice e com o vermelho e preto como cores predominantes, a equipa da Côte d’Azur cunhou um lugar na elite do futebol francês, que viria a dominar entre 1950 e 1960. A conquista de um campeonato após partir da sétima jornada em último lugar em 1950/51 espoletou uma década de glória: quatro títulos de campeão, duas Taças de França e o primeiro bicampeonato da história do futebol gaulês.
A hegemonia não teve continuidade e deu lugar a uma seca de 38 anos sem títulos. A conquista da Taça de França diante do Guingamp em 1997 quebrou o jejum, mas precipitou outro, mascarado pelo regresso do Nice europeu.
Século XXI rima com Europa (e sofrimento)
O Nice disputou as últimas 24 edições da Ligue 1, mas não se livrou de várias batalhas até ao último dia pela manutenção no convívio dos grandes. Após duas lutas inesperadas em quatro anos (2010/11 e 2013/14), as águias francesas estabilizaram e não voltaram a terminar a Ligue 1 na segunda metade da tabela.
A ansiedade da sobrevivência deu lugar ao sonho europeu. Claude Puel construiu a base que Lucien Favre aproveitou para conduzir o Nice até à UEFA Champions League pela primeira vez em 60 anos em 2017, após terminar a Ligue 1 na terceira posição.
A derrota por 0-2 em casa no play-off selou o adeus ao sonho da fase de grupos, mas marcou a estreia do hino da prova milionária no luxuoso Stade Rivieira. Sete anos depois do segundo projeto de construção ter sido abandonado, à terceira foi de vez e o Nice inaugurou o novo recinto a 22 de setembro de 2013, diante do Valenciennes.
State Rivieira: Inovação à beira-rio com um vulto bem conhecido
O investimento de 245 milhões de euros permitiu substituir o velhinho Stade du Ray por um estádio multiusos com capacidade para pouco mais de 35 mil espetadores de futebol numa das margens do Rio Var. Além de múltiplos concertos e eventos extra-desporto, o Stade Rivieira já recebeu duelos do Euro 2016, do Campeonato do Mundo de futebol Feminino de 2019 e dos Jogos Olímpicos de 2024. Ainda assim, a primeira equipa lusa a pisar o relvado do Stade Rivieira foi a Seleção Nacional de Rugby que perdeu 8-28 diante do País de Gales no Mundial 2023.
Cada jogo em casa do Nice fica marcado por uma atmosfera tão vibrante no interior como o efeito visual da estrutura exterior, provocada pela sintonia entre a madeira e o metal. Nos minutos que antecedem o pontapé de saída, as atenções viram-se para o centro do relvado para o início de um momento... familiar para os adeptos benfiquistas.
Antes de cada partida no Stade Rivieira, Méfi, águia fémea e mascote do Nice, faz o reconhecimento do terreno de jogo para gáudio dos adeptos. Além do ano de fundação e da cor identititária, o Benfica partilha com o adversário de quarta-feira um dos maiores símbolos do clube.
Num duelo de águias dentro e fora de campo, Méfi é a primeira ave de rapina a entrar em campo, antes de passar a bola para Vitória, anfitriã da segunda mão.
Méfi 𝒂𝒗𝒆𝒄 𝒗𝒐𝒖𝒔 sur le parvis 🦅#ogcnsdr pic.twitter.com/SDFEPAyLd5
— OGC Nice (@ogcnice) May 2, 2025
Franck Haise: o antítodo para a instabilidade
Enquanto Rúben Amorim estava a dar os primeiros passos como treinador no Casa Pia, Jim Ratcliffe, atual dono do Manchester United, encabeçava a compra do Nice por parte da INEOS em 2019. Sob a batuta do grupo britânico,, as águias francesas cimentaram o estatuto europeu, apesar da pouca paciência para treinadores demonstrada pela direção.
Após ser orientado por apenas dois treinadores (Lucien Favre e Claude Puel) entre 2012 e 2018, nas últimas seis épocas o Nice contou com outros tantos técnicos, num carrossel que incluiu Francesco Farioli, atual comandante do FC Porto, em 2023/24.
A saída do técnico italiano para o Ajax antes do início da época passada abriu a porta a Franck Haise. O técnico de 54 anos será o primeiro treinador a iniciar a segunda temporada à frente do Nice desde 2019 e o início da era da INEOS.
Após conduzir o Lens à UEFA Champions League depois de terminar em segundo lugar na Ligue 1 em 2022/23, Franck Haise viajou do norte para o sul de França no ano seguinte para substituir Farioli. Conhecido como um potenciador de talentos (Openda, Kevin Danso ou Jonathan Clauss à cabeça), o técnico de 54 anos procura comandar um grupo com apenas três atletas com mais de 30 anos até à primeira fase final da prova milionária da história do clube.
Apesar da escassez de trintões, Haise conta com um braço-direito quarentão. Dante chegou à Côte D’Azur em 2016 com 33 anos, uma UEFA Champions League e mais de dez internacionalizações pelo Brasil no currículo, mas foi a tempo de construir uma segunda carreira no Nice.