Antes de marcar ao Newcastle já tinha avisado: «Acredito que vou ganhar a Bola de Ouro»

«Acredito firmemente que um dia irei ganhar a Bola de Ouro», foi desta forma que Rio Ngumoha se apresentou publicamente no ano passado, quando o Liverpool o contratou ao Chelsea já como uma das maiores promessas do futebol inglês. «Quero ser considerado um dos melhores jogadores de sempre e tornar-me uma lenda deste desporto. Aprendi que é preciso ser resiliente e termos confiança em nós mesmos. Podemos ter alguns jogos maus, mas é preciso ter a convicção de que se é o melhor», acrescentou.

Foi com essa confiança que o jovem extremo de 16 anos rematou, já no tempo de compensação, para o lado esquerdo da baliza à guarda do experiente Nick Pope, entregando a vitória aos Reds em Saint James Park (2-3), num jogo que se complicou de forma surpreendente dada a vantagem numérica resultante da expulsão de Anthony Gordon ainda na primeira parte. Virgil van Dijk foi o primeiro a elogiá-lo: «Foi uma estreia de sonho para o Rio. Estou muito contente por ele. É um começo, tem de continuar a trabalhar arduamente e manter-se humilde», atirou o capitão do Liverpool.

Rio já tinha sido uma das figuras da pré-temporada do Liverpool. Brilhou na vitória por 3-1 sobre o Preston North End, abrindo caminho para um ciclo de exibições que rapidamente o colocaram debaixo dos holofotes. Dias depois, assinou o seu primeiro golo pelos seniores no triunfo por 5-0 frente ao Stoke City, um particular realizado à porta fechada no centro de treinos de Kirkby. Já em Hong Kong, diante do Milan, voltou a destacar-se com uma assistência, dribles certeiros e uma exibição cheia de confiança. Novo golo surgiu frente ao Yokohama F. Marinos, no Japão, o último de um triunfo por 3-1, e repetiu o feito, juntando-lhe uma assistência, no primeiro de dois ensaios com o Athletic Bilbao.

Cada minuto foi decisivo para convencer Slot de que merecia espaço no plantel principal. Na temporada passada, Ngumoha estreou-se oficialmente pelos seniores ao alinhar 72 minutos na goleada ao Accrington Stanley (4-0) na Taça de Inglaterra. Apesar de esse ter sido o seu único jogo oficial, esteve no banco em encontros da mesma competição e da Taça da Liga. O grosso da época foi passado nas equipas da formação, somando mais de 1900 minutos entre sub-18 e sub-21, além de representar a seleção inglesa no Europeu de sub-17.

Tecnicamente dotado, rápido e instintivo, Ngumoha destaca-se pela capacidade no um-para-um. Os números sustentam essa primeira impressão: nos sub-16 da seleção inglesa registou uma média de quase 13 dribles por jogo, com uma taxa de sucesso de 64%. Já em Merseyside manteve-se entre os jogadores mais ativos do setor ofensivo, chegando a 11 dribles por 90 minutos na UEFA Youth League, completando 60% deles — um registo acima da maioria dos seus pares.

Com 1,79m, é um extremo ágil, compacto, que combina mudanças de direção rápidas com inteligência nas decisões finais. Se ainda não traduz a sua influência em golos com regularidade, compensa criando espaços e atraindo múltiplos adversários, libertando os colegas.

Aos 16 anos, Rio Ngumoha é ainda um produto inacabado, em formação. Mas a confiança com que encara defesas experientes, a criatividade no último terço e a frieza nos duelos individuais explicam porque o Chelsea lamentou a sua saída e porque o Liverpool já sonha com um futuro grandioso. Arne Slot terá de decidir quanto espaço lhe dará nesta temporada para crescer a jogar, mas o talento, esse, já não engana ninguém.