Alguns dos melhores momentos do polivalente avançado de 24 anos. Águias gostam muito do internacional argelino, Bruno Lage teria interesse em poder incluí-lo no plantel, mas o valor pedido pelo Wolfsburgo (acima de 30 milhões de euros) é, neste momento, proibitivo para os encarnados. #DAZNBundesliga

Amoura: o Rafa (para o bem e para o mal) que Lage não esquece noutro estado de evolução

Quem é o argelino, que mesmo aparentemente inacessível, não sai dos planos dos encarnados? Este é o perfil de mais um possível acelerador para o ataque das águias

Na Luz, sabe-se que é alvo caro e muito difícil, mas ninguém é capaz de o colocar de lado. Mohamed Amoura é, para a direção de Rui Costa e para o técnico Bruno Lage, uma das últimas peças, se não mesmo a última, da engrenagem que colocará o Benfica definitivamente na rota dos títulos. Se for essa a ideia, é também mais um passo na cimentação do modelo de jogo que o treinador quer impor, o de futebol de transições, em vez do tal ataque posicional que tende a querer controlar e dominar as partidas em absoluto.

O internacional argelino (32 jogos, 13 golos) conquistou na época passada os adeptos do Wolfsburgo e da Bundesliga, onde chegou por empréstimo dos belgas do Union St. Gilloise, precisamente o clube ao qual os encarnados recrutaram o avançado croata Franjo Ivanovic, tornando-se a transferência definitiva neste verão, a troco de €14,75M, uma verba bem abaixo do atual valor de mercado: €32M. Fê-lo graças à sua combinação de velocidade explosiva, drible curto e instinto na finalização.

O seu percurso começou no ES Sétif, na Argélia, onde deu os primeiros passos no futebol sénior antes de rumar à Suíça para representar o Lugano. Custou ao emblema helvético cerca de 1,2 milhões de euros. Deu imediatamente nas vistas no ataque à profundidade e na forma como, por vezes, decidia jogos em poucos toques. Em 2023, transferiu-se por €4M para o Union St. Gilloise, onde viveu uma temporada de afirmação absoluta: foi o melhor marcador da equipa, liderou em remates por 90 minutos e destacou-se como um dos jogadores mais rápidos da liga belga, atingindo picos de velocidade na ordem dos 35,58 km/h. Esse rendimento abriu-lhe as portas da Bundesliga.

Amoura é... aceleração imediata

A partir de um centro de gravidade baixo (1,70m), apresenta arranque poderoso e aceleração instantânea, que lhe permite atacar espaços curtos com rápidas mudanças de direção. Na forma como finaliza — com frieza, muitas vezes em remates colocados, ligeiramente curvados, para o poste mais distante, o que se tornou a sua assinatura —, é inevitável a comparação com o antigo internacional francês Wissam Ben Yedder, outro avançado de baixa estatura (igualmente 1,70m) letal na área e especialista em explorar qualquer deslize defensivo.

Ao mesmo tempo, o seu arranque explosivo, diagonais agressivas e capacidade de desequilibrar a partir da ala remetem para Rafa Silva (trabalhou com Bruno Lage na época do título, 2018/19, e na seguinte) — ainda que nos últimos tempos na Luz tenha sido utilizado mais em zonas centrais —, sobretudo na forma como parte em velocidade para criar ocasiões e chegar a zonas de finalização. Se a definição perante o guarda-redes é aparentemente bem melhor no argelino, por vezes, a exemplo do que acontecia com o português, tenta fazer as coisas rápidas demais, o que lhe limita o sucesso na tomada de decisão em momentos anteriores.

Amoura é também elemento de ligação e de... pressão alta

Além da velocidade, Amoura revela qualidades que o tornam mais do que um simples sprinter. Apesar da altura, é competitivo no jogo aéreo e capaz de segurar a bola de costas para a baliza, usando o peito ou a cabeça para ligar jogo com os médios. É um jogador que pressiona alto com intensidade, recuperando bolas em zonas perigosas e forçando erros adversários. Na época passada, chegou a liderar a sua equipa em ações defensivas no último terço, mostrando um compromisso notável com o trabalho sem bola.

No entanto, há áreas que precisam de evolução. Amoura é menos eficaz contra blocos baixos, onde o espaço é reduzido e o jogo exige mais paciência e construção em posse. Nessas circunstâncias, pode arriscar passes verticais de difícil execução ou tentar dribles excessivos. Além disso, é fortemente dependente do pé direito, o que limita a imprevisibilidade no um contra um, e a sua capacidade de cruzamento é reduzida, tornando-o mais eficaz como finalizador do que como criador a partir da linha.

Dados FBRef/Opta de Mohamed Amoura
Dados FBRef/Opta de Mohamed Amoura

O contexto do Wolfsburgo

No Wolfsburgo, tem beneficiado de um sistema que valoriza as transições rápidas, permitindo-lhe explorar o espaço nas costas da defesa. As estatísticas refletem isso: mantém uma média elevada de remates por 90 minutos e um rácio de conversão acima da média da Bundesliga. A sua eficácia e mobilidade permitem-lhe alternar entre jogar como extremo e segundo avançado, dando ao treinador múltiplas soluções táticas.

O próximo passo na carreira parecia apontar para contextos mais exigentes e não para uma liga portuguesa. Porque depois de uma boa primeira época de amostra, se conseguisse acrescentar maior variedade à sua tomada de decisão, utilizar mais o pé esquerdo e encontrar formas de ser influente em jogos de posse prolongada, poderia cimentar-se num patamar de elite. Se o Benfica o resgatar, como persegue, seria uma transferência com enorme potencial. Mesmo que os encarnados devessem olhar para os jogos em que têm de encontrar soluções onde não há espaço.

Conclusão

Quando se comparam jogadores, deve-se fazê-lo no sentido de dar aos leitores ou ouvintes uma imagem mais vívida das principais características daquele que queremos analisar. Por isso, acho que ninguém levará a mal se disser que Amoura é um Rafa Silva mais completo e que, ainda assim, tem os seus defeitos. E que acentuaria a força do atual modelo de Bruno Lage na vertigem, resistência à pressão e contundência perto da baliza, ainda que não solucione uma das suas grandes lacunas: a do ataque posicional.