Conferência de Imprensa de João Pereira após a derrota do Sporting na Bélgica

A responsabilidade que assume, a insatisfação normal e a confiança para continuar: Tudo o que disse João Pereira

Treinador, no entanto, assume que o encontro com o Boavista é decisivo em termos de campeonato

— Que análise faz a este jogo, em que o Sporting tem uma entrada positiva, depois acaba por sofrer o empate…. Ficou satisfeito com a exibição de João Simões? E o que se passou com Gonçalo Inácio?

— Tivemos uma entrada forte, uma personalizada, com querer e os jogadores a fazerem as coisas que lhes foram pedidas, a tentarem logo, desde cedo, resolver o jogo. E fazemos um zero com todo o mérito e, sem dúvida nenhuma, que merecíamos completamente estar a ganhar naquela altura.  Jogo controlado, sem oportunidades de perigo do Brugges, a jogarmos bem, a fazermos aquilo que tínhamos preparado. E voltamos a sofrer um golo de um remate que nem vai à baliza e infelizmente desvia  num jogador nosso e traiu o guarda-redes.  Mais uma infelicidade que acontece num jogo, um golo estranho, que mexe um pouco com a equipa,  o que é normal depois de vir numa fase de três derrotas seguidas e sofrer mais um golo assim,  como já tinha sido parecido com o Moreirense. Sentimos ali um pouco, mas depois voltámos a retomar o controlo do jogo. Pareceu-me sempre que estivemos mais perto e com o jogo controlado de poder fazer o 2-1 e depois sofremos um golo através de uma bola longa, um apoio frontal e dá o segundo golo do Brugges. Há a destacar sim a exibição do Simões, jogador de 17 anos, a aproveitar a oportunidade que teve. Estava preparado e demonstra que tem caráter, tem personalidade, tem maturidade e fez um excelente jogo, como todos os jogadores.  O Gonçalo Inácio ia jogar a titular, teve um pequeno problema no aquecimento e como, também já temos alguns jogadores importantes lesionados, não queríamos estar a forçar e aumentar o nível de dor ou até inclusive uma lesão. Depois há a situação do Quaresma, mais um jogador que estava a aproveitar a oportunidade de fazer um excelente jogo,  num lance difícil, que creio que foi com o cotovelo e não com a cabeça, lesiona-se o nosso jogador e impede-o de continuar em campo. Mas, pronto, estavam outros jogadores preparados para entrar, corresponderam.  É mais uma derrota dura, uma derrota que dói, que nos deixa um pouco em baixo hoje porque hoje vai ser uma noite difícil, uma noite onde não vamos conseguir dormir,  mas temos que nos levantar rápido porque temos já um jogo para o campeonato e é isso que temos que pensar porque não podemos perder mais pontos. 

A defesa de Esgaio

— Mexeu taticamente aos 81 minutos, porque as outras substituições foram forçadas, para tirar o Maxi Araújo e pôr o Esgaio. E é por aí, se calhar foi infeliz, é por aí que também o Sporting sofre o segundo golo. Porquê que não tentou ganhar o jogo de outra maneira? 

— Na altura que faço a substituição, faço- porque o Maxi Araújo já se encontrava um pouco desgastado  pelo excelente jogo que estava a fazer, viu um cartão amarelo e estava cansado. Não o queria meter em risco, ficarmos com menos um e metemos o Esgaio, que é um excelente profissional, treina todos os dias no máximo e estava preparado para jogar e por isso teve a oportunidade para entrar. Não foi para controlar o jogo,  porque acho que estávamos por cima naquele momento, estávamos mais perto de nós de fazer o golo e não queria mexer muito na equipa porque estávamos numa boa situação e já tinha que fazer as alterações anteriormente.

—  A equipa do Sporting, os jogadores são os  mesmos de há um mês goleou o City, em casa, a mesma equipa que deu uma volta ao resultado em Braga, o que é que mudou no Sporting? 

— A única coisa que mudou no Sporting foi o treinador, os jogadores são os mesmos. Alguns com lesões que na altura não estavam lesionados, jogadores importantes como o Pedro Gonçalves ou o Nuno Santos de fora. Mas não sou treinador de arranjar desculpas, fomos condicionados também  no próprio jogo com aquilo que aconteceu, com os eventos que aconteceram, mas as desculpas deixo para outros. Eu tenho que assumir aquilo que está a acontecer. É responsabilidade minha, estou aqui para dar a cara, vou dar sempre a cara  nos jogos.  Quando ganhamos deixo os jogadores festejarem. Quando perdemos eu estou lá na frente para dar a minha cara, porque neste momento eu sou o principal responsável. 

 

Demos excelente resposta

— Antes do jogo perguntei-lhe se acreditava no Sporting confiante. Agora, após quatro derrotas, duas delas, depois de estar a vencer desde cedo, se consegue encontrar confiança, quer em si, quer na equipa? 

— Consigo, se não encontrasse confiança em mim e nos meus jogadores, abandonava.Acredito que os jogadores mostraram outra vez uma grande personalidade de uma equipa que vem de três derrotas,  da maneira que foi entrar em campo aqui contra o Brugges, fora na Liga dos Campeões,  e entrar da maneira, tranquilos, a ter posse de  bola, a jogar, a criar a oportunidade de fazer o golo. Até ao momento em que sofremos o golo, como eu já disse aqui, não vou estar a repetir, mas sim é um momento difícil. 

— Depois do jogo, os adeptos atiraram tochas aos jogadores. Como comenta esta situação?

— Os adeptos é normal estarem insatisfeitos, quatro derrotas seguidas, há muito tempo que não acontecia, de certeza absoluta. É um momento complicado e é normal.  Se eu estou triste, se não consigo dormir, quanto mais os adeptos, muitos deles que fazem quilómetros para nos vir apoiar. Durante o jogo inteiro apoiam-nos, no final é normal mostrarem a sua insatisfação, o seu desagrado. E nós como profissionais, e eu como treinador, temos que assumir, temos que receber as críticas e temos que continuar a acreditar no nosso trabalho.

— Depois de quatro derrotas consecutivas, sente que tem condições para continuar à frente do Sporting e se vai falar com o Frederico Varandas sobre o seu futuro à frente da equipa técnica?

— Sobre o meu futuro, toda a gente sabe o tempo de contrato que tenho, não são as derrotas que nos podem avaliar. Temos que ter confiança no nosso trabalho, e eu acredito que a nossa equipa foi melhor hoje,  apesar do momento em que estamos, fomos melhores num jogo fora através da Liga dos Campeões. Demos  uma excelente resposta, e por isso estou tranquilo. 

— Face às lesões que têm acontecido, queria perguntar-lhe, honestamente,  se acha que o plantel é curto para tantas frentes neste caso ou se se lhe dá garantias, até porque agora passa a ter seis lesionados, caso o Inácio esteja de fora por lesão no próximo jogo? 

— O plantel estava feito, é assim que o Sporting trabalha. E se estava a dar resultado até eu chegar eu não tenho o porquê de me desculpar com isso. Hoje houve jogadores que antes estavam na equipa B e aproveitaram a sua oportunidade. E é isso, a formação do Sporting também é para isto era para quando houver alguns lesionados, algumas lesões, os jogadores estarem preparados para assumir um papel na equipa principal. Apesar do momento, gosto de ver o copo meio cheio,  em vez de ver o copo meio vazio, muito sinceramente. Jogámos com dois meninos de 17 anos, com muito valor, com muita personalidade, principalmente o Simões, porque foi a estreia. O Quenda já está mais habituado. O  Quaresma também a aproveitar a oportunidade que teve muito bem até ao momento em que saiu lesionado e temos de tirar as coisas boas.  É mais um jogador que, possivelmente, vai dar frutos no Sporting no futuro. 

— Já tinha visto uma tarja a pedir a sua demissão, hoje houve a tocha atirada. E outra questão, relacionada um bocado com a parte final do que sucedeu,  da tocha atirada, Até o árbitro e o Harder perguntaram o que estava a acontecer. Que isso pode ter impacto na equipa? De que forma é que também pode tentar mudar isso? E também, se no jogo com o  Boavista, tem margem de erro ainda, ou se é um jogo decisivo?

Não, no campeonato  não temos mais margem de erro,  temos de ganhar, já perdemos alguns pontos que tínhamos de vantagem,  temos de ganhar para continuar a lutar e não hipotecar as nossas hipóteses de chegar ao bicampeonato. Temos perfeita consciência da responsabilidade que temos no jogo para o campeonato. Agora vamos começar a pensar nele, porque até agora tínhamos pensado neste jogo da Champions, pois queríamos fechar as contas do play-off, as coisas estavam encaminhadas. Esta derrota não estava nos planos, mas é isto, vamos nos focar agora no jogo do campeonato. Já perguntaram muitas vezes aos jogadores também o que é que acham e toda a gente diz que estamos juntos, estamos unidos e é verdade. Sinto que eles confiam na palavra que a gente passa,  tanto que o início do jogo foi a demonstração disso mesmo, e depois, somos seres humanos, e sentimos quando estamos numa fase menos boa e conseguimos entrar bem, dar uma resposta;  começamos a acreditar é hoje, é hoje que vamos dar uma  grande resposta que vamos dar. E se sofremos mais um golo sem que o adversário fizesse um remate à baliza, a bola entra. É normal as pessoas sentirem, todos sentimos, agora temos que ser mais fortes e dar uma resposta ainda mais positiva no próximo jogo.