A cola que o Chelsea não tem
Odinheiro compra quase tudo no futebol: jogadores, treinadores, clubes, até árbitros. Não compra, porém, a cola que une talentos e transforma 11 jogadores numa equipa. Olhemos para o Chelsea. Comprou no verão os passes de Sterling, Koulibaly, Slonina, Chukwuemeka, Cucurella, Casadei, Wesley Fofana e Aubameyang e, já em janeiro adquiriu os de Badiashile, David Fofana, Andrey Santos , Mudryk, Madueke, Gusto, Enzo Fernández e Morgan. Juntou-lhes ainda os empréstimos de Zakaria no verão e João Félix no inverno. A soma das 18 contratações é quase obscena: 626 milhões de euros. Porém, nas últimas 14 jornadas da Premier League somou apenas duas vitórias e 12 pontos, tendo marcado 8 golos. Reparem: Sterling, Aubameyang e João Félix! Falta a cola que une tanto talento: alma, crença e, sobretudo, um treinador que transforme tanta grama de ouro numa peça de altíssima joalharia. Não parece o caso de Graham Potter.
MAS é o de Sérgio Conceição. O FC Porto das últimas seis épocas raramente foi uma peça de altíssima joalharia, mas foram poucas as gramas de ouro puro que o treinador teve para polir. Talvez Luis Diáz. A regularidade de Sérgio Conceição nos últimos seis anos tornam-no óbvio candidato a ser considerado melhor treinador português da atualidade. Até porque inventou a cola que uniu os talentos do FC Porto na última meia dúzia de anos. Bruno Lage e Rúben Amorim, mesmo tendo sido campeões nacionais em 2019 e 2021, ainda não podem entrar nesta corrida. Só José Mourinho, como sempre, tem mantido o nível com as conquistas de Taça da Liga, Supertaça inglesa e Liga Europa pelo Manchester United e a Liga Conferência pela Roma. Se o melhor treinador português da atualidade não é Sérgio Conceição, é José Mourinho. Se não é José Mourinho, é Sérgio Conceição.
Parece-me, no entanto, ousado dizer-se, como Vítor Baía disse, que Sérgio Conceição é um dos três melhores treinadores mundiais da atualidade. Para estar nesse lote, teria de alcançar algo ímpar na história do futebol. Duas presenças nos quartos de final da Liga dos Campeões e três Ligas portuguesas é muito bom, mas vem na linha do passado recente dos dragões (12 Ligas e seis quartos de final da Champions desde 2000). Teremos de esperar pelo final da época para concluir (ou avaliar) quem são os melhores treinadores do mundo da atualidade. Mas, claro, há diversos candidatos: Luciano Spaletti (Nápoles), Mikel Arte- ta (Arsenal) e Xavi Hernández (Barcelona), por exemplo, caso sejam campeões de Itália, Inglaterra e Espanha, respetivamente, colondo, assim, ponto final em três jejuns de diferentes dimensões. E ainda Pep Guardiola, Carlo Ancelotti e José Mourinho, não por títulos que ganhem, eventualmente mas pela aura que sempre transportam e que tem por consequên- cia que o todo seja sempre superior à soma das partes.
EVIDENTEMENTE, Sérgio Conceição estará entre o top-10 da atualidade. Ainda com Diego Simeone (Atl. Madrid), Jurgen Klopp (Liverpool), Antonio Conte (Tottenham e ex-Inter) ou Lionel Scaloni (Argentina) nesta corrida. Porém, é sempre complicado ser taxativo, como Vítor Baía foi, neste tipo de questões. Porque escolher os três melhores treinadores do mundo é mais complicado do que meter carne numa máquina sabendo que do outro lado saem salsichas. Como se avaliam os méritos de um treinador? Títulos? Beleza de jogo? Taticismo? Potenciação de jogadores? Incremento de rendimento da equipa? Talvez um pouco de tudo. Tal como escolher quem é o melhor guarda-redes português de sempre. Azevedo? Carlos Gomes? Costa Pereira? Bento? Damas? Baía? Ricardo? Ou só Rui Patrício, que ganhou o que nenhum outro português ganhou ou (muito provavelmente) ganhará?