Foram necessários 34 anos para o Benfica voltar a pisar os palcos europeus no voleibol feminino. A equipa encarnada estreou-se a ganhar e já lhes chamam «As Marias». E não, não é porque são portuguesas e este é um nome tipicamente nacional. É porque todos gostariam que fossem as herdeiras de «As Marias do Benfica», forma como ficou conhecida a equipa de voleibol feminino que durante nove anos consecutivos se sagrou campeã nacional. Sem perder um set, juram muitos, perdendo apenas um set juram outros. Isso, na realidade, pouco conta no currículo ímpar daquelas jogadoras, 11, embora 10 com mais efetividade, que tinham muito em comum: pioneiras e todas com o mesmo nome: Maria. Quatro delas juntaram-se para fazer o livro das suas memórias que não esqueceram e gostariam que fossem lembradas. Maria José Maya, Maria Margarida Leite, a capitã Maria Madalena Canha e Maria Teresa Fernandes juntaram pedaços, literalmente, da história que construíram e deitaram mãos à obra para reescrever esta parte da história do voleibol português. A Câmara Municipal de Lisboa prometeu homenageá-las há três anos. O trabalho difícil está feito, só falta entregarem as medalhas — prémio a que já estão habituadas dado que nunca ganharam nada mais do que isso, com exceção a umas faixas em 1972. «A memória existe e pode permanecer em estado de latência por longo tempo, reservando para momento oportuno a sua revelação. Aconteceu agora, talvez porque os laços que nos unem são muito fortes, porque constatámos em vários momentos haver muitas distorções dos factos, e por ser interessante fixarmo-nos em detalhes do nosso percurso que espelham a forma como a nossa equipa se posicionou no contexto nacional, como era encarado o desporto em geral e o feminino em particular e a projecção que lhe foi dada pela comunicação social. O livro que brevemente será publicado é a história de um passado que foi em si memória do que construímos e que, no nosso entender não deverá ser esquecido», explicam. «Reescrever detalhes do percurso foi um trabalho de aturada pesquisa que procura ser o mais objectivo e isento contando, também, apontamentos de muitos que connosco partilharam o quotidiano, fosse no associativismo na família ou na profissão», elogiam.