Selecionador Alberto Silva conta tática de Diogo Ribeiro para um ouro que se pensava prata
Alberto Silva e Diogo Ribeiro (DR)

Selecionador Alberto Silva conta tática de Diogo Ribeiro para um ouro que se pensava prata

NATAÇÃO13.02.202407:27

Alberto Silva fala das emoções da prova de 50m mariposa

Além das qualidades naturais para a natação, ambição e grande capacidade de treino e velocidade de aprendizagem de Diogo Ribeiro, na base deste sucesso, a conquista do ouro nods 50m mariposa nos Mundiais de natação, está igualmente o trabalho de Alberto Silva e da sua equipa no CAR Jamor desde que assumiu o cargo de selecionador há três anos, após os Jogos de Tóquio e começou a trabalhar com o nadador que, entretanto, se transferira para o Benfica. 

WTF! Diogo Ribeiro  é campeão do mundo

13 fevereiro 2024, 06:53

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Com uma segunda metade de prova de 50m mariposa impressionante, garantiu o ouro no 21.º Mundial Doha-2024. Levou cerca de 16s para descobrir a proeza que acabara de realizar, pensava que era 2.º. Agora aponta ao recorde

À partida para o Catar, Alberto, treinador com maior palmarés da natação brasileira, com múltiplos medalhados em Jogos Olímpicos e Mundiais, contara a A BOLA que o objetivo da Seleção no Mundial de Doha seria chegar às finais e medalhas. Concordou que no último ano seria a primeira vez que o velocista competiria num grande evento sem contratempos de lesões, covid ou intoxicações alimentares. E que, a nível pessoal, continuava a ter a mesma paixão à ida para o seu 20.º/21.º Mundial como havia ido ao primeiro em Fukuoka-2001. 

Mantinha era os problemas se ansiedade quando os nadadores competem, «mas o controlo melhorou um pouco… Já não consigo é correr para a bancada e depois descer e ir até à zona de descontração tantas vezes e com a mesma agilidade», afirmou. Por isso, depois de toda a festa e do novo campeão ter saído do Aspire Dome cerca de três horas depois de disputado a final devido a ter de descontrair, cerimónia do pódio e controlo antidoping, perguntámos a Albertinho se, ao final do dia, estava tão cansado como o Diogo. 

«Não, depois da ansiedade e do êxtase vem a... quebra. Mas é um cansaço bom», responde com voz… cansada. Pareceu… 2.º lugar E como viveu este dia e aquela prova tão rápida? Ao que parece, também pensou que o Diogo tivesse sido 2.º classificado. «Não sei se reparou, mas quando os primeiros nadadores chegam e tocam na placa, acende-se uma, duas ou três luzes. O problema é que havia ali alguma coisa e a luz refletiu nessa plaquinha e pareciam duas luzes, de 2.º lugar. Ele também viu duas, como nós na bancada», contou Alberto Silva o porquê de Ribeiro ter levado tanto tempo a reagir à conquista. 

«Comemorámos na mesma a medalha, mas quando olhámos para o placard, ele era primeiro. Mas o Diogo continuava virado para a luz, a pensar que era 2.º. Queria ganhar esta prova achava que tinha capacidade para isso. Não é que tenha ficado triste, mas não ficou eufórico. Então, só quando se voltou é que também viu que tinha sido primeiro», diz recordando o momento. Apesar de ter tido o segundo tempo de reação à partida mais rápido (0,61s), no final o Diogo contou que a primeira parte não correu bem. 

O que é que pensa que depois fez a diferença para depois ir buscar os outros? «Primeiro esse de ter sido um dos detalhes que mais treinámos: o percurso subaquático e a transição para o nado, dito breakout. Treinou-se muito isso, não só na partida, mas também após as viragens e ele foi evoluindo e fez bastantes bons treinos. Havia-se adaptado». 

«Mas do lado esquerdo estava o Cameron McEvoy [Austrália], que é quase recordista do mundo dos 50 livres, e do outro lado, o Dylan Carter [Trindade e Tobago], também um especialista em partidas. Em camara lenta até se consegue ver que o Dylan parte de mais alto e entra mais forte na água. Sabíamos disso e o Diogo tentou corrigir a partida da eliminatória para a meia-final. Melhorou um pouco, mas ainda não era o que queríamos, por isso teve uma má chegada na meia-final, uma braçada a mais», recorda. 

«Assim, para a final, recomendámos que, independente se saísse bem ou mal, e do breakout, não queríamos que ficasse a pensar nisso. Só tinha de se focar na parte de nadar já que estava a fazê-lo mais rápido que os outros. Com a melhor natação, deslocamento na água, e que aí recuperaria o tempo, mas teria de conseguir uma boa chegada. Aquela abraçada final é que decidiria tudo, tal como em Fukuoka [onde foi prata], A última aproximação foi fantástica. Encaixou muito bem a última abraçada e foi decisivo», diz, satisfeito.

Vou deixá-lo dormir

Em Fukuoka, o próprio Diogo acabou por contar na entrevista a A BOLA, após ter sido vice-campeão do mundo aquilo mexeu um bocado com ele para os dias seguintes do campeonato. Nessa noite nem dormiu bem. Havia muita excitação, adrenalina… Desta vez preocuparam-se com isso para o resto do Mundial? «É lógico que é uma preocupação, tanto para o bem quanto para o mal», comenta rindo-se. «Se tivesse tido um resultado mau, podia ter ficado chateado e também ter uma má noite de sono, ou amanhã ainda estar com isso na cabeça. Sabemos que não vai ter uma noite tranquila de sono, mas é aqui que a competição se divide em duas partes», salienta Alberto. 

Fotografia Simone Castrovillari/ASF

«Não quero que me entenda mal, mas até agora foi um desafio pessoal. Uma diversão. Estamos em ano olímpico e sabemos que os 50 mariposa não fazem parte dos Jogos. Por isso focámo-nos nessa prova para aqui, trata-se de Mundial e quisemos aproveitar a oportunidade. Mas estamos com os olhos voltados para as distâncias que ele nadará em Paris [50 e 100 livres, 100 mariposa]», reforça. 

«Esta foi a sua primeira competição em Doha e amanhã não tem nada. Por isso não vale a pena estar a avisá-lo ou ele saber que tem de relaxar e tentar dormir. A adrenalina vai estar alta. Ele vai estar num estado de êxtase, por isso vou deixá-lo dormir até acordar naturalmente. Vai perder o pequeno-almoço e depois almoça e à tarde espero que volte à realidade para seguir em frente. Então, a partir de quarta-feira, começa uma outra competição, com foco nas provas individuais dos Jogos a estafeta de 4x100 estilos, para também aí fazer uma boa prova e tentar ajudar Portugal conseguir uma vaga [já só há 13 das 16] para Paris-2024», conclui.