Nadadora, gerente de clínica e mãe: a vida multifacetada de Sofia Martiniano
Desportista já tem objetivos delineados para 2024 (Fonte: página de Instagram de Sofia Martiniano)

Nadadora, gerente de clínica e mãe: a vida multifacetada de Sofia Martiniano

NATAÇÃO29.12.202310:30

Atleta foi campeã europeia do escalão (35-39 anos) de 100 metros costas no europeu Masters Madeira; Voltou a treinar em junho de 2023, quebrando um hiato de 17 anos sem competir

Tem três filhos para educar e uma clínica dentária para gerir, que é «outro filho em termos de responsabilidade», mas os deveres não impediram Sofia Martiniano de ser campeã europeia de natação. No dia 21 de novembro, com 39 anos, venceu a prova de 100 metros costas no europeu Masters realizado na Madeira.

Dois meses antes de começar a treinar para o evento, subir aos degraus do pódio era algo inimaginável para a atleta, especialmente, se recuarmos até junho deste ano, uma vez que não competia há 17 anos.

Foi a ver a filha mais velha, Inês, com 10 anos, a participar repetidamente em competições de natação que na cabeça de Sofia Martiniano, a «loucura» tornou-se numa decisão cada vez mais apetecível. «Ver a minha filha a competir mexeu comigo. Surgiu aquela vontade e uma educação de competição muito boa, porque gosto muito desse ambiente e da adrenalina», revelou.

Assim, a nadadora relembrou os passos iniciais no Fluvial Portuense, o seu «clube de coração», no qual começou a criar um sentimento de pertença com o desporto aquático. 

«Foi um clube que, dadas as características de ter uma proeminência de desportos aquáticos, quiseram investir muito na natação. Então, na altura que eu entrei, já era um bom clube de natação e disponibilizavam carrinhas e tudo o que precisávamos para nos ir buscar a Gaia [para competir em provas no resto do país].

Agora, como gestora da clínica dentária Mint – abriu em 2016 juntamente com o marido, Eduardo -, a desportista recuperou também a fase da sua vida em que se começou a afastar da natação, coincidente com o momento em que passou a representar as cores do clube de Alvalade.

Sofia Martiniano a iniciar a prova dos 100 metros costa (Fonte: Federação Portuguesa de Natação)

«Fui para o Sporting, só que já não andava a ter a prestação que tinha no Fluvial [Portuense] e comecei a perder o foco», revelou. Mas ainda assim chegou a uma bifurcação do seu percurso que a obrigava a determinar um rumo na sua vida.

«Quando eu vim para Lisboa, tive uma proposta, porque estava muito próxima de atingir os mínimos para ir aos Jogos Olímpicos. Então, tinha a escolha de não entrar para a faculdade, o que me permitia treinar e possivelmente qualificar, ou entrava para a faculdade», disse.

Sofia, natural de Gaia, ingressou e terminou a licenciatura em Enfermagem, na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, deixando na gaveta o sonho da participação nos Jogos.

A importância da disciplina

Se parece uma tarefa impossível conciliar tantos deveres, a desportista certamente desafia as expetativas. Para tal, afirma que a chave está no planeamento rigoroso dos dias com a família e na mentalidade certa.

«Temos uma dinâmica familiar que temos tudo muito bem planeado em termos de horários, e em termos de tarefas. Há responsabilidades muito específicas aqui em casa. Nós somos uma equipa aqui em casa. Portanto, temos tudo muito oleado», garante.

Segunda, quarta e sexta-feira foram os dias da semana que escolheu para preparar a prova no Masters. Nesses dias, às 6h15 da manhã, pegava na mota e dirigia-se às piscinas para iniciar o treino madrugador. «Não gosto de treinar», revela-nos, apesar do rigoroso horário que seguia. A chave, para além dos colegas de treino, estava na mentalidade que a atleta de 38 anos tanto trabalhou e na ajuda do seu treinador pessoal, Bruno.

Nadadora voltou a treinar no Sporting, depois de uma paragem de 17 anos (Fonte: FPN)

«Eu detesto o ginásio e aulas, mas se eu tiver um compromisso com uma pessoa, com o Bruno, sei que não vou falhar àquela pessoa e, portanto, acabo por ter um compromisso comigo». Compromisso ou disciplina, que se espalha pelo respeito ao segundo das rotinas familiares, que Sofia atribuiu ao treino semanal de kickboxing, como principal fator no desenvolvimento dessa capacidade.

Durante os primeiros meses de preparação, a nadadora verificava regularmente o site da Liga Europeia da Natação (LEN), com o intuito de saber se a sua inscrição tinha sido aprovada, até que se deparou com os tempos das atletas que participaram na edição anterior.

De mira no recorde nacional

Sofia Martiniano, com 39 anos, completou os 100 metros de costa no primeiro lugar no europeu Masters do Funchal, com o tempo de 1:11.91 minutos, marca que lhe valeu o sexto lugar nos absolutos. Há 20 anos, fazia o mesmo percurso em menos três segundos (1:08m). Sem tempo para saborear a conquista, a nadadora tem já os próximos objetivos bem delineados.

Um deles seria bater o recorde nacional do escalão C – que compreende as idades dos 35 aos 39 anos -, mas, tendo em conta que em julho de 2024 completa 40 anos, significa que a partir já em janeiro sobe para o escalão D (40-44). No entanto, a desportista não se desmotivou, levando-a antes a redefinir a barreira a ultrapassar. Assim, a meta é quebrar a melhor marca entre os 40 e 44 anos, que é precisamente o tempo que lhe valeu o título europeu – 1:11:91. 

Desta forma, Sofia pretende ser a recordista já no próximo mês, e se ainda não o bateu, o certo é que já bateu a marca pessoal que conseguiu no Funchal. No torneio Gil Paes, em Torres Novas, a 17 de dezembro, conseguiu baixar o tempo para 1:11.80 minutos. 

O segundo objetivo é continuar a inspirar mulheres e mães em posição semelhante, dando seguimento às mensagens de apoio que regularmente recebe nas redes sociais. «Eu falei ao longo deste período de treino até ao Campeonato da Europa, e fui sempre falando com mulheres, mães, pessoas que até eu nem conheço», revela, antes de se debruçar sobre o que pode levar às internautas a demonstrar encorajamento. 

«Nós precisamos de reconhecimento. E precisamos desse propósito. Porque as mulheres põem-se muito em último lugar perante os filhos. Eu não prejudico os meus filhos em nada. Eles são na mesma a minha prioridade e isso é que faz sentido, mas tem de haver condições», assumiu.