Mundial de Doha - Objetivo: finais e medalhas
Selecionador Alberto Silva com Miguel Nascimento e Diogo Ribeiro num estágio no Rio de Janeiro Fotografia FPN

Mundial de Doha - Objetivo: finais e medalhas

NATAÇÃO07.02.202408:05

Selecionador Alberto Silva revela metas para a Seleção. Concorda que será o primeiro evento, desde março de 2023, em que Diogo Ribeiro sugirá sem contratempos. Aposta nas estafetas de 4x100 estilos para os Jogos de Paris-2024

Há sete meses, após o 20.º Mundial de Fukuoka-2023, o selecionador Alberto Silva colocou a hipótese de, para o 21.º Mundial de Doha-2024, por ser tão próximo, com um Europeu de piscina curta pelo meio, e surgir já integrado na preparação para os Jogos de Paris-2024, alguns elementos da Seleção, sobretudo os que já estivessem qualificados para os Jogos Olímpicos na capital francesa, não competirem na máxima forma. Opção que, por exemplo, a federação dos Estados Unidos, sempre candidata a terminar no topo do medalheiro, tomou para Doha.

Assim, com a competição de natação pura a arrancar domingo no Aspire Dome, quisemos saber qual foi a opção do técnico que lidera o CAR Jamor e trabalha diretamente com Diogo Ribeiro, principal figura da equipa de nove elementos que estarão em ação na segunda semana do World Aquatics, e também com o velocista Miguel Nascimento. Ambos apurados para Paris-2024. Até porque há igualmente o assumido objetivo de Portugal qualificar as estafetas masculina e feminina de 4x100 estilos. 

Os grandes objetivos

«Acho que o objetivo principal desta Seleção no Mundial é, primeiro, chegar às finais e aí poder disputar medalhas. Depois, num segundo momento, apurar as estafetas masculina e a feminina. São esses os grandes objetivos como equipa», respondeu Alberto Silva. «Individualmente, deseja-se que todos façam uma boa prova logo nas eliminatórias, acho que é importante. De uma forma geral, ninguém segue em frente se não passar na eliminatória a sentir que pode ir um pouco mais longe. Que ainda sobrou algo para a meia-final. É o que espero», completou o treinador que assumiu o cargo no verão de 2021, logo depois dos Jogos de Tóquio. 

Fotografia Luis Filipe Nunes/ASF

«É claro que o evento mais importante da temporada são os Jogos Olímpicos, mas, e neste caso respondendo apenas sobre aqueles que treino, depois de Doha terão um período de férias antes de começarem a preparação final para Paris-2024. Por isso, acredito que a maioria dos que aqui estão, se não mesmo 100 por cento, veio ao Mundial com o foco total na prova», diz.

Quando se referiu ao objetivo de finais, existe um nadador que tem essa capacidade e até lutar por medalhas: Diogo Ribeiro. Finalmente irá estar numa grande competição em que não sofreu qualquer pequena lesão, covid ou uma intoxicação alimentar. Vai o Diogo poder competir, finalmente, na máximo forma? «Vendo por essa perspetiva, acho que o Open da Madeira [março de 2023] foi a última competição em taper [preparação específica para o evento] na qual ele competiu 100 por cento em forma», recorda Alberto sobre o evento em que o nadador do Benfica carimbou o visto para os Jogos nos 50 e 100 livres e 100 mariposa.

«Não posso dizer que em Fukuoka, ou noutros eventos, ele não tenha chegado bem, mas muito próximo do final da época passada teve problemas de saúde que não conseguimos mensurar o quanto atrapalharam. Sim, desde a Madeira acredito que esta será a primeira vez na qual tivemos em pleno todas as condições para que o Diogo esteja agora no Mundial no máximo de forma», completou.

No Funchal correu tudo muito bem, Diogo Ribeiro alcançou todas as qualificações que desejava para os Jogos. Agora, em termos do que planeou, o desejo é que nade em cima desses tempos, pois eles dar-lhe-ão as tais presenças nas finais em que, então, pode aspirar a algo mais? «O objetivo será sempre, quando está em taper, tentar a melhor marca. Seja para ele ou qualquer outro. Agora, uma coisa que aprendemos ao longo dos anos é que fazer recorde pessoal é a cereja no bolo. E esse melhor tempo de carreira pode levar-nos a uma meia-final, final ou até uma medalha», salienta. 

«Ou não... Por vezes, faz-se o melhor tempo e fica-se na eliminatória ou na meia-final. Por isso, nas competições acredito que o objetivo continue a ser o máximo pessoal. Mas é importante estar competitivo dentro do evento em que se participa. O que tem diferenças. Se se vai participar no Nacional, deseja-se que você esteja competitivo no campeonato. Se comparar o Diogo, o Miguel [Nascimento], a Francisca [Martins]… todos que estão na Seleção, num Nacional não têm tanta preocupação, a não ser de estratégia na eliminatória. E mesmo não nadando para o melhor tempo, vão estar competitivos para a final e para a disputa de medalhas», analisa. 

Fotografia ASF

«Guardadas as devidas proporções, é o que espero no Mundial. Quero-os competitivos, próximo dos máximo pessoais — melhor é o desejado —, mas em condições de chegarem o mais longe que cada um possa. O quero dizer com isso? Que se o Diogo tem a perspetiva de que os recordes dele o deixam com hipóteses de ser finalista, então que nade próximo dessas marcas para lutar pelas finais». 

«O Miguel, que surge numa classificação de meia-final, que consiga ter uma performance onde realize, se não o melhor tempo, muito próximo, e que isso lhe proporcione a tal meia-final. E por aí fora com todos que vieram. Trabalhamos para melhorar os máximos pessoais. Nem sempre é possível, mas por vezes fica-se muito perto», declara Alberto Silva. 

Aposta da estafeta mantém-se

E a lesão e operação de João Costa ao ombro direito complicou o apuramento da estafeta de 4x100 estilos para os Jogos? «Se dissesse que não, estaria a ser hipócrita, pois trata-se do recordista de Portugal dos 100 costas. Não vou nem ser hipócrita nem menosprezar o resultado do João. É uma falta sentida. Mas assim como ele tem que seguir em frente, virar essa página, e dentro do que é possível procurar o melhor para que esteja bem nos Jogos [está qualificado nos 100 costas], também tivemos de procurar o mesmo». 

«Por isso reorganizámos os nadadores. Se com o João tínhamos uma perspetiva de um tempo para nos deixar entre os 16 que se qualificarão para Paris-2024, sem ele continuamos a ter essa perspetiva, só que os outros terão de trabalhar o dobro», explica o selecionador, que tem no sportinguista Francisco Quintas o homem que completa o quarteto, mas com alterações: Gabriel Lopes passa a nadar costas, Francisco bruços, mantendo-se Diogo a mariposa e Miguel a crawl. «Para o João só temos energia positiva de que recupere bem», concluiu.

«A paixão é a mesma, a saúde é que já não»

Por curiosidade, perguntámos a Alberto Silva, contando com os que foi pela seleção do Brasil, país onde é o técnico com melhor palmarés de sempre, se tinha ideia em quantos Mundiais já esteve, contando com este. «O primeiro foi em Fukuoka-2001. Não estive em Manchester-2008 porque era em piscina curta e próximo aos Jogos [Pequim], e também não estive em Gwangju-2019 por causa de um critério da federação brasileira, ainda que tivesse seis atletas, entre eles o Cesar Cielo [então recordista mundial dos 50 e 100 livres e pódio em Mundiais e Jogos], e ganhámos várias medalhas. Aliás, a estafeta masculina era minha mas, enfim, não fui contemplado». 

«Em Abu Dhabi-2021 [de 25m], já por Portugal, fiquei impedido por causa do Covid... por isso devo contar aí com uns 20/21 Campeonatos do Mundo entre piscina curta e longa», responde ainda a fazer algumas contas de cabeça. 

E continua a ter a mesma paixão, ou pelo menos tão intensa, de como viveu o primeiro? «Isso não muda. O que alterou é o controlo da ansiedade. Continuo a ficar ansioso, mas o controlo melhorou um pouco. Ainda que, em alguns momentos, como na final do Diogo no último Mundial [prata nos 50 mariposa], ou quando é um momento alto em que se pode definir uma ida à final ou uma medalha, é lógico que é difícil controlar. Mas acho que a motivação é igual. A saúde é que já não é a mesma». 

«Já não consigo correr para a bancada e depois descer e ir até à zona de descontração tantas vezes e com a mesma agilidade. Mas isso faz parte da vida», brincou, conformado, Alberto Silva.