Esquiador português treinou num 'shopping' no Dubai para chegar aos Jogos Olímpicos de Inverno
Falta um ano para os Jogos Olímpicos de Inverno, onde Portugal sonha estar com quatro atletas. O alentejano José Cabeça é um deles, que quer repetir o feito, mas agora com novos objetivos: a elite
Falta um ano para os Jogos Olímpicos de Inverno que se vão realizar em Itália (Milão-Cortina).
Neste momento, Portugal tem 12 atletas inseridos no programa de apoio à participação nos Jogos e a expetativa é que quatro consigam a qualificação. Ricardo Brancal tenta repetir a presença de há quatro anos, em esqui alpino, e José Cabeça também, no esqui de fundo.
Esqui alpino
Manuel Ramos
Ricardo Brancal
Ariana Aben Ribeiro
Emeric Guerrilot
Esqui de fundo
José Cabeça
Filipe Cabrita
Patinagem velocidade
Jéssica Rodrigues
Francisca Henriques
Afonso Silva
Patinagem artística
David Gouveia
Bobsleigh
Raphael Ribeiro/Abdel Larrinaga
Hoje vive e treina de forma profissional em Oslo, um cenário que nunca imaginou e que começou no Dubai. «O meu sonho foi sempre ser atleta, mas nunca consegui dedicar-me de corpo inteiro. Em 2020, em janeiro, fui sozinho para França para começar a praticar. Comprei uns esquis na internet e aprendi o que podia sozinho. Só quase ao fim de dois anos é que tive um treinador, quando cheguei a Oslo.»
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Mas antes desse paraíso em que agora vive, o alentejano que nasceu em Évora há 28 anos teve de dar a volta ao Mundo. E só não gastou uma fortuna por uma razão. «Não havia [risos]. Só tinha um par de esquis e qualifiquei-me para um Mundial com os esquis partidos na ponta, porque, como imagina, caí muitas vezes quando comecei a aprender a esquiar. Custaram-me 300 euros, creio», conta o olímpico. «Fiz roller skis várias vezes na Valeira, que é uma estrada que vai de Évora e Arraiolos», recorda.
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Por não ser um país de neve, os candidatos portugueses aos Jogos Olímpicos têm provas de acesso menos exigentes. Foi assim que José Cabeça se qualificou para os Jogos de 2022. Mas agora, quer entrar pela porta grande, até porque as condições são outras. «Tive um convite para ir trabalhar como personal trainer para um empresário do Dubai. Aceitei, estava sem emprego e o desporto não permitia viver disso. O senhor gostou de mim, estava lá sozinho e ajudou-me. No Dubai também não há neve [risos], mas havia um shopping que tinha uma pista e eu ia para lá treinar. Depois, esse empresário, que é o meu sponsor neste momento, arranjou forma de eu poder ir treinar antes do centro comercial abrir para não chocar com os visitantes. Outras vezes, ia para a rua com os roller skis. Era como podia», conta Cabeça.
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«Comprei material online e a primeira vez que tive acompanhamento ténico foi em dezembro de 2021, mas acreditei sempre que podia ir aos Jogos. Fui e agora que tenho todas as condições quero ir com outras ambições», revela.
«Só sou atleta profissional desde 2022, antes tinha de treinar e trabalhar, neste momento vivo num apartamento em Oslo, que não é barato, e a minha vida é acordar, comer, treinar, dormir. Treino, no mínimo três horas por dia, e tenho dois treinadores: Arild Tveiten (triatlo) e Ragnar Bragvin Andresen (esqui). É um sonho. Na Noruega o esqui é como futebol para nós em Portugal, fazem em qualquer sítio, até na rua. Aqui não faltam locais para treinar. Moro perto de um local que é uma pequena floresta, onde há pistas, centro de treinos e posso trabalhar muito», conta.
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Um sonho concretizado graças ao mecenas dos Emirados Árabes Unidos e que não tem preço. «Não faço ideia... Sei que no ano passado, durante o inverno, entre novembro e abril gastámos 40 mil euros. Sem ele era impossível», repete grato o atleta português.
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«Sou muito profissional naquilo que faço, dedico-me de corpo e alma e acredito que dentro de duas olímpiadas posso estar a lutar com os melhores. Trabalho muito, continuei a fazer triatlo e só deixei porque tive um acidente e parti uma perna. O impacto no joelho por causa da corrida, obrigou-me a parar. Agora é apenas esqui. Sei que por ser português posso ter mais facilidade em entrar nos Jogos, mas quero estar lá por mérito, pelos meus resultados», promete.
A qualificação começa em Saalsbach, Áustria, dia 26 de fevereiro e José Cabeça tem de conseguir ficar nos 10 primeiros, após os 7,5 kms, para aceder à prova principal onde terá de esquiar 10 kms e dar mais um passo no sonho.