Diogo Ribeiro: «Dei um beijinho à medalha de prata e depois dormi com as três»
Sem que os Jogos de Paris-2024 tenham corrido como ambicionava, Diogo Ribeiro, de 20 anos, regressou às principais competições em grande plano ao sagrar-se, no final do passado mês, campeão da Europa de sub-23 de 50 livres (recorde nacional) e 50 mariposa em Samorin. Isto depois de ter ganho a prata nos 100 mariposa logo no primeiro dia.
Momento que deixou o nadador do Benfica satisfeito, espiritual e fisicamente, até porque, no início do ano, passou a ser orientado por Samie Elias no CAR Jamor, antigo adjunto de Albertinho Silva, e por a competição na Eslováquia ser também um momento de aferição da preparação para o Mundial de Singapura (27 de julho a 3 de agosto) e por isso nem se encontrar no máximo de forma.
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Com a difícil missão de ir defender os títulos mundiais de 50 e 100 mariposa ganhos em Doha 2024 e tentar também chegar às finais dos 50 e 100 livres, Diogo seguiu diretamente da Eslováquia, onde cumpriu um estágio de 13 dias em Tenerife. Ontem, à chegada, A BOLA pediu que mostrasse as medalhas, de vidro, que estavam bem guardadas na mochila, e conversou um pouco sobre o Europeu sub23 e do que ambiciona para Singapura.
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— Regressar a casa depois de mais de 15 dias de um Europeu sub-23 de grande sucesso, chega-se com muitas saudades, cansado…?
— Um pouco dos dois. Saudades porque já não vinha a casa há três semanas e cansado porque estivemos agora em estágio, ainda por cima logo a seguir [partiram diretamente da Eslovénia], por isso estamos na fase final até ao Mundial, mais complicada ao nível do cansaço e estamos a tentar ajustar os últimos detalhes.
— Mas também vai ser só uma semana para vir a casa, lavar a roupa e ir embora, não é?
— É quase isso, visitar a família.
— E vão ainda para um estágio de adptação em Macau antes de seguirem para Singapura?
— Exato!
— Satisfeito com o que conseguiu agora no estágio em Tenerife e depois de ter sentido em que nível se encontrava no Europeu sub-23?
— Sim, estou rápido, surpreendi-me a mim mesmo no campeonato e acho que posso fazer muitas boas coisas no Mundial. Não vou falar de lugares porque não sabemos nunca como é que os outros também estão, mas acho que posso melhorar os meus tempos.
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— O Europeu sub-23, foi além daquilo que estava à espera? Logo quando ganhou a medalha de prata nos 100 mariposa ficou bastante satisfeito e viu que estava com velocidade e tudo o resto? As vitórias nos 50 livres e 50 mariposa foram para lá do que esperava, como é que foi?
— Nos 100 mariposa não fiquei tão contente, pensava que ia fazer muito melhor, mas depois comecei-me a surpreender cada vez mais. O 50 livres surpreenderam-me muito, não estava à espera. Achava que ia baixar de 22s, mas não fazer 21.67s [recorde nacional]. Surpreendeu-me bastante. Nos 50 mariposa, imaginava que iria baixar dos 23s, até porque o que tinha acontecido antes e sabia que tinha velocidade após os 50 livres, mas não aconteceu. Espero que venha a consegui-lo no Mundial e que aconteça 22s mais para baixo do que o meu tempo [22,80, recorde nacional obtido no Mundial de Fukuoka-2023].
— O título de campeão Europeu sub-23 dos 50 livres foi então ainda mais saboroso?
— Sim.
— No final do Europeu disse que tudo está bem quando o trabalho está bem, a cabeça está no lugar e o corpo também. Está a sentir-se outra vez numa boa fase, talvez como não se tenha sentido há muito tempo, ou é mesmo uma nova etapa?
— Sim, nunca tinha pesado tanto. Estou com um peso muito superior ao que, normalmente, costumo competir, mas vimos que correu bem. Também trabalhámos mais no ginásio, demos maior prioridade a ganhar força para as provas de velocidade [50m] e acho que não perdemos para as de 100 metros. É uma coisa que os nadadores estão cada vez a fazer mais, crescer em termos físicos e penso que estou a fazer isso bem. Acho que temos de continuar assim e que como estou posso fazer grandes resultados.
— Quando diz que está a pesar mais e que nunca pesou tanto é a nível muscular?
— Sim, sim...
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— E também referiu que sentiu que estava a puxar bem a água quando ganhou o segundo título de campeão da Europa [50 mariposa]. Foi também isso que sentiu?
— Creio que antes preocupava-me muito nas provas de 50 metros com a fase fora de água e agora estou muito mais concentrado com a parte de dentro. Em puxar mesmo a água e o movimento exterior fluir um bocado e com isso poupo um bocado de energia nesse movimento e estou a conseguir chegar, não ao nado do Cameron McEvoy [australiano especialista em livres e que também nada mariposa quatro vezes medalhado olímpico e nove em Mundiais], mas ao que ele refere muito: aplicar a força onde faz sentido, na água. Nunca tinha pensado nisso dessa maneira, nem executado dessa forma, mas está a correr muito bem esse trabalho e estamos a chegar lá.
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— Depois dos Jogos de Paris 2024 e agora com este Europeu sub-23, este Campeonato do Mundo de Singapura é também uma nova fase? Mudou de treinador, tudo isto também é uma nova etapa em relação a isso?
— Sim, o método de treino é parecido, porque o Samie Elias era o adjunto do Albertinho Silve e agora é o treinador principal. O Samie aprendeu bastante com o Albertino e agora está a executar. Não diferencia muito, mas também ouve-me bastante. Ouve muito aquilo que sinto e acho que esse trabalho está a correr bem. E, como disse há bocado, também estamos a treinar muito fora de água e a conseguir conciliar bem as coisas. Está a correr muito bem o trabalho.
— Quando costuma ganhar medalhas, depois gosta de dormir com elas. Já dormiu com essas três?
— Dormi!
— Ainda durante o Europeu ou agora no estágio em Tenerife?
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— Ainda no Europeu, no estágio não. No estágio estiveram sempre na mesinha de cabeceira, estendidas, mas nunca dormi com elas.
— E porquê? Porque era para inspirar durante o estágio?
— Primeiro porque estas medalhas também são de vidro e é preciso ter mais cuidado, mas a primeira que ganhei, que foi a de prata, dei-lhe um beijinho, assim como para dar carinho e querer mais. E depois dormi com as três no último dia.
— O que é que será para si um bom Mundial para regressar satisfeito?
— Quero fazer o que não fiz nos Jogos Olímpicos. Desejo melhorar os meus tempos, voltar às minhas melhores marcas. Nos 50 livres já consegui fazer isso este ano, agora pretendo ver se também consigo aos 100 livres [47,98s], o que seria muito bom. Nos 100 mariposa será baixar dos 51 segundos, pois a minha melhor marca [51,17s] não foge muito disso, e aos 50 mariposas também fazer o meu melhor tempo. O que ando a procurar agora é muito isso, melhorar os meus tempos, porque sei que cada vez mais o consiga começo a chegar a outros patamares e pode dar sempre alguma medalha, finais, ou estar sempre em cima disso.
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— Tal como havia feito no Campeonato do Mundo de Juniores em Lima-2022 [ouro nos 50 livres, 50 e 100 mariposa] no último dia abdicou dos 100 livres, para apostar tudo nos 50 mariposa. No Europeu sub-23, voltou a fazê-lo. Se as provas não fossem tão em cima uma da outra e no mesmo dia, teria ido às duas? E será sempre uma aposta que irá fazer ou custou não ter ido aos 100 livres?
— Acho que o programa ainda está muito aquém para nós, atletas que nadamos mariposa e crawl, Ainda está tudo em cima umas coisas das outras. Há pontos a melhorar nisso, mas sim, a partir do momento em que tenho pouco tempo e é na mesma sessão, fica sempre a dúvida. Conversamos sempre sobre isso. Temos também de ver que não ia ter uma final qualquer, ia ser uma final contra o campeão do mundo de 50 livres [o ucraniano Vladyslav Bukhov]. Na véspera ele havia ficado com um sabor agridoce na boca quando perdeu os 50 livres comigo [foi prata, e nessa prova no Mundial de Doha-2025 Diogo nem passou às meias-finais ao ser 18.º], por isso sabia que tinha de ir a uma delas a 100 por cento. Também não ficou muito longe de mim nos 50 mariposa, por isso fizemos a melhor escolha e a melhor opção, não sei se não teria acabado com a medalha de prata caso tivesse ido aos 100 livres, estaria cansado.