A Volta decide-se na Torre: espere-se luta!
Chegou o dia que todos esperavam e que muitos temiam: a etapa-rainha da Volta a Portugal, com final na mítica Torre. Aqui, não há espaço para subterfúgios, discursos cautelosos ou do que poderia ter sido... e não foi. A subida mais longa e exigente da Grandíssima vai selecionar (e eleger) os candidatos que estão efetivamente na corrida pela vitória final.
Se Jesus Peña quer realmente vestir a camisola amarela em Lisboa, tem de atacar hoje - e atacar forte: é obrigatório. O colombiano do Tavira está a oito segundos de Artem Nych, e sabe que no contrarrelógio final de 16,7 km na capital vai ter a vida complicada. O homem que chegou do WorldTour sabe que não vai ganhar um minuto inteiro em Montejunto ao russo da Anicolor, por isso a longa e dura subida desde a Covilhã é o seu bilhete dourado. Se hesitar, pode dizer adeus ao troféu. A Torre é, para ele, a última grande oportunidade de construir uma vantagem sólida e virar a classificação a seu favor.
O histórico de Artem Nych na Torre não o favorece - perdeu 3 minutos em 2024 e quase minuto e meio em 2023 -, mas este é um corredor que sabe defender-se e que chega com a sobriedade de quem já ganhou a Volta. Não vai entregar a liderança sem lutar até ao último metro. É um lutador, como se é reconhecido pelo seu diretor desportivo, Ruben Pereira. O ano passado ascendeu das trevas para uma vitória final que teve tanto de espantosa, como de merecida.
O siberiano de quase dois metros de altura chega a esta etapa com confiança e uma equipa capaz de o proteger até onde as inclinações o permitirem. A grande incógnita é se terá pernas para responder aos ataques e, sobretudo, se conseguirá limitar perdas.
Mas há mais do que Nych na equação. O seu companheiro de equipa Alexis Guerin, quarto da geral, está lá, silencioso, a apenas 18 segundos de Jesus Peña (e a 26 de Nych), e tal como o adversário colombiano é um trepador puro, muito mais à vontade nestas inclinações do que o líder da classificação geral. Sabe lidar com subidas duras e longas, e a Torre é palco em que poderá brilhar. Se Peña atacar cedo demais e se desgastar, Guerin pode acabar por ser o maior beneficiado.
Hoje, não há espaço para cálculos excessivos. Quem quiser ganhar, tem de mostrar coragem e coração. A Torre não perdoa hesitações: é o dia de arriscar tudo ou ir para casa a pensar no que poderia ter sido. E nós, espectadores, só temos de esperar que ninguém escolha a segunda opção.
Hoje não há espaço para jogos de espera. Ou se ataca na Torre, ou se volta para casa a pensar no que podia ter sido. E, para o público, é simples: prepare-se para ver quem tem coração, pernas… e coragem.