Rollheiser: do ‘batismo’ de Messi a ‘traidor’ no River Plate
Benjamín Rollheiser ao serviço das seleções jovens da Argentina, pelas quais se estreou aos 16 anos (Foto: AFLOSPORT/IMAGO)

Rollheiser: do ‘batismo’ de Messi a ‘traidor’ no River Plate

NACIONAL09.01.202422:15

Perfil do atacante argentino do Estudiantes de la Plata reservado pelo Benfica

Já teve uma lesão grave no joelho, passou de joia a traidor no River Plate, aos 17 anos recebia o batismo de Lionel Messi com a maldade dos génios e aos 22 anos conseguiu ser dono do seu destino. Benjamín Rollheiser chega ao Benfica com aquilo que na gíria se designa por bagagem.

Foi um percurso marcado por altos e baixos, mas sempre com os observadores a adivinharem-lhe um futuro auspicioso, principalmente a partir dos 14 anos, quando integrou as camadas jovens do River Plate, já depois de ter passado dois anos (2010 e 2011) nas escolas do Estudiantes de la Plata. Esquerdino de múltiplos recursos e mantendo sempre boa relação com a baliza mesmo não exercendo as funções de ponta de lança, Rollheiser foi queimando etapas a uma velocidade superior à média. 

Dois anos depois de chegar ao River foi chamado, aos 16 anos, para a seleção sub-17 que participou no campeonato sul-americano do escalão, no Chile. Fez um jogo a titular e dois como suplente, os únicos possíveis porque a equipa não passou a fase de grupos – uma geração da qual não sairia nenhum craque a pisar os relvados da Europa. Mas os sinais estavam lá e seis meses depois o atacante recebia a notícia com que todos os jovens sonham: ser chamado a treinar-se com a seleção principal, por Jorge Sampaoli. 

Tinha 17 anos e o batismo foi dado por Lionel Messi. «Aconteceu algo incrível: ele fez-me um túnel e nem percebi como ele ou a bola passaram, foi como um raio. Quando me virei começámos a rir. É um génio», contou, aos meios do River Plate.

Oito meses de baixa

O nome de Benjamín assentava-lhe bem. Porque ainda antes de fazer os 18 anos foi chamado para integrar o estágio de pré-temporada da equipa principal do River Plate, dirigido por Marcelo Gallardo. O mesmo treinador que em julho de 2019 o fez estrear-se nos millonarios, num jogo para a Taça da Argentina frente ao Gymasia y Esgrima, com um detalhe marcante: a partida foi decidida no desempate por penáltis e Rollheiser o escolhido para bater o quinto e último penálti da série. Marcou e a equipa venceu.  «Não lhe coloquei pressão, apenas mostrei que tinha muita confiança nele», justificou à data o atual técnico do Al Ittihad, da Arábia Saudita.

O futuro sorria-lhe, mas as dúvidas nasciam acerca do clube onde podia manter os elevados níveis de felicidade. Nesse mesmo ano de 2019 surgiram os primeiros sinais de uma divergência que viria a cristalizar-se mais tarde: esteve para rumar a Itália, o que obrigou o River Plate a renovar-lhe o contrato até 2022, fixando uma cláusula de rescisão de 20 milhões de dólares (25 milhões de dólares nos últimos 10 dias de mercado).

Em fevereiro de 2020 surge o primeiro grande contratempo: uma rotura de ligamentos do joelho esquerdo afastou-o da competição por um período de oito meses, interrompendo o processo de afirmação numa idade tão crítica, o primeiro ano de sénior. 

Gallardo, porém, nunca o deixou cair e no ano seguinte o esquerdino fez 29 jogos pelo River (1 golo e 1 assistência). Não sendo um titular absoluto, era já considerado uma certeza e não apenas uma promessa. Mas que nunca se materializou na hora de discutir mais uma renovação. Rollheiser terá pedido dois milhões de dólares para continuar, o que o clube recusou, consumando-se a rotura: saiu a custo zero e assinou pelo Estudiantes, mas permanecendo com 50 por cento do próprio passe. 

A decisão enfureceu os adeptos do River Plate, que pior ficaram após o tweet do irmão, Santiago Rollheiser: «Ficou com 50 por cento agora. No River seria vendido por mais dinheiro mas iria ganhar menos. Agora joga numa equipa onde tem mais liberdade criativa e que o venderá por 15 em vez de 20, mas em vez de 4 ele ficará com 7,5. Ganhou.»

Apupado no Monumental

A traição ganhou maior dimensão em 2023 na razão direta da sua época mais impactante. Sob a direção técnica de Eduardo Domínguez, Benjamin Rollheiser fez 57 jogos, marcou 12 golos e fez sete assistências, ajudando o Estudiantes a conquistar a Taça da Argentina. Em julho de 2013, quando as equipas se defrontaram no Monumental, os hinchas da equipa da casa não ou pouparam, assobiando-o desde o momento em que foi anunciado o nome dele na divulgação dos onzes.

Versátil, apresenta-se como um atacante que gosta da mobilidade em qualquer zona do último terço, embora preferindo as faixas. Com 1,72 metros e 73 quilos, tem no drible e a «capacidade no um contra um» os pontos fortes, como o próprio assumiu em diversas entrevistas. O resto dirá em campo, na tentativa de não destoar dos compatriotas que o antecederam na Luz. A herança é pesada: Di Maria, Salvio, Gaitán, Aimar, Saviola…

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