Nandinho: «Gosto de começar um projeto. Todos os treinadores gostam»
Nandinho jogou muitos anos na elite do futebol português, em clubes como Benfica, V. Guimarães ou Gil Vicente. Depois de pendurar as chuteiras, a sua carreira tomou o rumo de treinador. Após o seu último projeto, enquanto treinador da B SAD, aceitou a proposta de rumar ao Bahrein, para treinar o Al Ahli. Quando Nandinho chegou, após a terceira jornada do campeonato, a equipa tinha apenas três pontos e vinha de uma derrota por 7-1. Desde que o português assumiu o comando, já lá vão cinco jogos na Liga do Bahrein, somou dois empates e três vitórias. É o líder do campeonato (ainda que à condição), e foi distinguido como Treinador da Semana. Agora fala a A BOLA sobre estas primeiras semanas no país árabe.
- Como está a ser a experiência no Al Ahli?
- Para já, está a ser uma experiência muito positiva. É um clube histórico, mas já não vence um troféu desde a Taça em 2016 e não é campeão desde 2012. Na época passada ficaram em sexto lugar. Vim para aqui já com o campeonato em andamento, depois de uma derrota passada. Têm aqui equipas muito fortes, que têm a hegemonia, porque também têm orçamentos maiores. Neste momento estamos no primeiro lugar e vamos jogar com o Al Riffa, que representa o Bahrein nas competições asiáticas. Ainda não temos nenhum representante na Liga dos Campeões Asiática, só na Taça Asiática, que é uma espécie de Liga Europa da Ásia.
- Depois de uma pesada derrota, sobretudo para um emblema histórico, sente que, agora, os adeptos estão com a equipa?
- Sim, sinto muito apoio da massa adepta. No primeiro jogo, empatámos na casa de um dos rivais, sofremos o empate ao minuto 90+3. Tínhamos 100 adeptos no estádio, 200 no máximo, e no último jogo já tínhamos cerca de mil adeptos a ver. Pelo que me dizem, a equipa tem controlado mais os jogos, é mais dominadora. Continuamos a ser uma das piores defesas do campeonato, fruto dessa goleada, mas temos melhorado esse capítulo. Os adeptos têm apoiado, os jogadores sentem isso. Tentamos puxá-los à terra, porque há muito tempo que não estavam em primeiro, isso cria uma euforia muito grande. Aqui perde-se dois ou três jogos e já está tudo mal, despedem-se treinadores, inclusivamente.
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— AlAhli Club Bahrain (@alahli_club_bh) December 2, 2023
- Como surgiu esta oportunidade de treinar o Al Ahli?
- Eu estava em Portugal, não tinha nenhum projeto, mas não estava a conseguir entrar no mercado português. Só entrava a meio da época, por exemplo, para evitar a despromoção na segunda liga. Gosto de começar um projeto do início, todos os treinadores gostam, mas às vezes é preciso começar a meio, porque isto também é a nossa vida. Surgiu-me esta oportunidade, até tinha propostas de outros países, mas o futebol na zona está a evoluir e os campeonatos como o da Arábia Saudita estão cada vez mais atrativos.
- Sente que há um grande choque cultural?
- Ao contrário do que se possa pensar, não. É o mais ocidental dos países árabes. Há duas religiões árabes predominantes, xiitas e sunitas, mas há muitos ocidentais aqui no Bahrein, é uma cultura mais aberta, não tão fechada como noutros países árabes, como a Arábia Saudita, por exemplo. Claro que não se pode beber álcool na rua, só em sítios específicos. Vende-se álcool em bares, podemos beber vinho nos restaurantes. De resto, as pessoas andam à vontade, não sinto marginalidade nem perigo, é um país muito ocidental, creio que o mais ocidental dos países árabes. Informei-me com outros treinadores, como o Hélio [Sousa], que treinou a seleção do Bahrein e já vinha preparado para que pudesse haver algumas diferenças, mas nós portugueses temos sempre esta enorme capacidade de adaptação. Agora está a ouvir-se o chamamento para as rezas, uma das religiões reza quatro vezes por dia, outra três. É um dos fatores culturais muito presentes, já marcámos treinos e depois tivemos de desmarcar porque é a hora da reza. É uma das questões culturais aqui, mas claro, já estávamos preparados para isso.
Ainda que à distância, tem acompanhado o futebol português?
Sim, tenho acompanhado o campeonato. Está muito equilibrado, há fases em que há uns melhores, outras vezes são outros. Neste momento, o Sporting está numa fase muito ascendente, está a praticar um bom futebol. O Porto é sempre um candidato, está sempre na luta, o Benfica tem claudicado aqui e ali, mas também está muito perto. O Braga está a jogar muito bem e está cada vez mais perto de competir pelo campeonato. Vamos ver. Acredito que vai ser um campeonato muito equilibrado. Normalmente há dois clubes que se distanciam, mas parece-me que vamos ter um campeonato até ao fim entre esses três ou quatro clubes, sendo que creio que o SC Braga vai correr um pouco atrás dos três grandes, que continuam a ser os três grandes.