Macau «Nada mais vai ser igual»
Aterrou no aeroporto de Lisboa no início de março e ficou surpreendido com a tranquilidade com que a capital lidava com a pandemia. Lázaro Oliveira chegou de Macau, tal como Pedro Simões, que faz parte da sua equipa técnica, sem bilhete de regresso para o antigo território português, embora tudo indique que em maio deverá voltar para o seu apartamento localizado em Coloane, na zona costeira.
«Chegámos a 5 de março, depois de conversarmos com os responsáveis da Associação de Futebol de Macau. Estávamos apenas a fazer trabalho de gabinete e não se justificava, nesse momento, estarmos lá. Chegámos sem problema algum. Fiquei até bastante surpreendido, confesso, porque não havia qualquer controlo sanitário no aeroporto. Nem fora dele, na verdade. Como sou hipertenso fui à médica, expliquei de onde tinha vindo, mas não aconteceu nada. Cheguei do estrangeiro, zona de risco e ninguém me falou de quarentena.»
Um cenário completamente diferente daquele que deixou em Macau. O frenesim dos casinos, o luxo, o movimento noite e dia deram lugar a um território fantasma. «De um momento para o outro tudo mudou. A zona de Macau, por exemplo, onde nem se consegue andar ao fim de semana, tantos que são os turistas, tal como a Taipa, onde estão localizados os casinos, ficaram desertas. Não se via ninguém na rua. Estava tudo fechado», conta.
A chegada do Covid-19 mudou o Mundo e a vida de todos, a um ritmo mais ou menos abrupto, e até em Macau, dado como um raro exemplo de contenção da pandemia, nada ficou como antes: «Fechou tudo o que não era essencial. Fazíamos um pouco de exercício porque na zona onde vivemos há vários trilhos, mas, de cada vez que entrávamos ou saíamos do prédio, por exemplo, mediam-nos a temperatura. A maioria dos restaurantes fechou. Por acaso, o que frequentávamos, que é de um português, continuou aberto, mas poucos o fizeram. No restaurante eu não usava máscara, mas no local de trabalho era obrigatório, tal como em quase todo o lado. Quando ia ao supermercado, à farmácia, ao banco, qualquer edifício governamental. Em todos eles. Se entrar num sítio sem máscara as pessoas começou logo a olhar de lado, como que a questionar esse comportamento de risco.»
E este é um risco que os macaenses não querem voltar a correr. «Eles viveram uma situação muito grave com o SARS e aprenderam a lição. Rapidamente fecharam as fronteiras com a China e o povo acatava todas as decisões que o governo tomava. São muito disciplinados. As pessoas compravam as coisas para 14 dias e não saíam de casa. É uma cultura muito diferente da dos europeus. Por exemplo, tínhamos uma aplicação instalada no telefone que precisávamos de preencher sempre que nos deslocávamos a um qualquer edifício. As máscaras são vendidas na farmácia, em pacotes de 10, e custa um euro. Todas as semanas as pessoas vão lá, mostram o seu cartão de cidadão e adquirem o seu pacote. Não faltam máscaras, nem gel, como aqui em Portugal», destaca.
Mas em Macau, como no resto do planeta, a economia ameaça ser um pesadelo como o vírus: «Muitos dos restaurantes fecharam porque há funcionários que são filipinos e vivem na China. Quando fecharam a fronteira deixaram de poder vir trabalhar diariamente, por isso não havia alternativa dos patrões. Macau vive do jogo. Os casinos já reabriram em parte, pode ser um sinal. Nunca estive em Las Vegas, mas em Macau os casinos parecem centros comerciais, um mundo à parte. Além das salas de jogo, têm lojas das marcas mais caras e importantes. Mas nada mais vai ser igual. Nada será como antes.»
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