1937-2025 Pinto da Costa e Mourinho: apaga a luz, acende a luz
Jorge Nuno Pinto da Costa morreu este sábado, aos 87 anos. Recordamos aqui histórias da vida do ex-presidente do FC Porto, muitas pelas suas próprias palavras
Chega Fernando Santos
«O António Oliveira invocou em 1998 questões familiares para não continuar e, como terminava o contrato com o FC Porto, eu nem sequer tive capacidade para o obrigar», percebeu o presidente do FC Porto após a conquista do tetracampeonato. E avançou para um quase desconhecido: «Eu apreciava muito a maneira de treinar do engenheiro Fernando Santos no Estrela da Amadora, bem como a postura dele e a forma séria como trabalhava. Entendi que ele podia enquadrar-se no FC Porto. Então, falei com ele um dia, através de um amigo dele, e disse-lhe: ‘Engenheiro, o FC Porto vai mudar de treinador e estou a falar consigo para lhe dizer o seguinte. Não o estou a convidar para treinador do FC Porto, pois isso só vai ser tornado público após a final da Taça de Portugal, mas quero-lhe dizer que o senhor é uma das hipóteses. Não é nenhum convite, portanto está à vontade, se tiver algum convite que entenda aceitar. Se depois da final, eu continuar interessado e o senhor estiver livre, telefono-lhe.’ Passados uns dias, o doutor Pimenta Machado, presidente do V. Guimarães, diz-me: ‘Ó Jorge Nuno, você convidou o Fernando Santos para o FC Porto?’. Respondi: ‘Não, então eu tenho treinador e até vai ser campeão…’ Resposta dele: ‘É que fiz-lhe um convite com condições muito melhores do que as que ele tem no Estrela e ele disse-me que não; disse que era muito cedo para pensar nisso. Para mim, ele já está comprometido com alguém.’ Respondi na brincadeira: ‘Olhe, se calhar não está para o aturar a si…’ Mal acabou a final da Taça, liguei ao Fernando Santos e disse-lhe: ‘Ainda está livre? Sim, então vamos falar.’ Fui a casa dele com o Reinaldo Teles e fechámos o acordo. Treinador excelente e pessoa extraordinária, com a qual chegámos ao penta».
Maio de 1998
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Mourinho à espera do sinal de luzes
Em meados de dezembro de 2001, Pinto da Costa recebeu um telefonema de Jorge Baidek, então agente de jogadores. «Ele disse-me: ‘Presidente, sei que gosta muito do Mourinho e que acredita nele, mas olhe que ele vai para o Benfica e não pode ir, presidente, porque ele é muito bom.’ Eu disse-lhe: ‘Mas o FC Porto tem treinador, que é o Octávio; as coisas não estão a correr bem, mas temos treinador; além disso, o Mourinho está no Leiria.’ Mais tarde, o Baidek ligou-me outra vez e disse: ‘Ele vai assinar pelo Benfica a 29 de Dezembro’. Perguntei-lhe: ‘Mas porquê no dia 29, se ainda faltam nove dias?’ Resposta do Baidek: ‘Porque o Veiga é que o leva para o Benfica e quer estar presente, mas vai passar o Natal ao Luxemburgo; quando ele vier é que assina e é apresentado.’ E eu disse: ‘Ok, pronto, traga cá o homem, mas não venha a 28 que eu faço anos e tenho gente em casa’. Então combinámos que ele vinha a 28 à noite e esperava que eu lhe desse o sinal quando já não tivesse pessoas em casa. Eles chegaram por volta das 11 da noite e eu ainda tinha lá vários amigos a jantar, mas comecei a dizer que estava cansado e a abrir a boca, mas só à uma da manhã é que eles foram embora, altura em que eu fiz o sinal combinado para eles entrarem: apagava a luz, acendia a luz, apagava a luz, acendia a luz. E então entraram o Baidek, o Mourinho e o Baltemar Brito. O Mourinho disse logo: ‘Sim, amanhã vou assinar pelo Benfica, mas gostava mesmo era do FC Porto.’ Disse-lhe: ‘Nós temos treinador, as coisas não estão a correr bem e vou fazer tudo para aguentar.’ E fizemos um acordo. Às três da manhã, telefonei ao doutor Adelino Caldeira, ele veio ter connosco e assinámos acordo para a época seguinte. Assinou nessa noite, ficando em Leiria até ao final da época. Porém, o FC Porto teve três jogos decisivos numa semana e perdemos nas Antas com SC Braga para a Taça de Portugal, no Bessa para o campeonato e empatámos em casa no último minuto com o Sporting. Três jogos decisivos e tínhamos feito um ponto. As coisas precipitaram-se e rescindimos contrato com o Octávio. Falei com o Mourinho e dá-se, então, o jantar na Mealhada com o João Bartolomeu, presidente do UD Leiria, em que se negocia a libertação do Mourinho para ir logo para o FC Porto.»
Dezembro de 2001