O percurso de João Pereira no comando técnico da equipa principal do Sporting está a ser espinhoso. Após quatro jogos — uma vitória na Taça de Portugal, com o Amarante, e três derrotas, frente a Arsenal, Santa Clara e Moreirense — deixam o treinador sob escrutínio e já se levantam vozes quanto à sua continuidade no cargo. Manuel José, que foi treinador dos leões na década de 80, em declarações exclusivas a A BOLA, colocou mesmo algumas reticências em relação à escolha de Frederico Varandas na sucessão de Amorim. «Apareceu uma oportunidade para o João Pereira, que praticamente não tem passado nenhum como treinador, a não ser nos juniores e equipa B do Sporting, para dar um salto inimaginável e ser treinador da equipa principal. Uma oportunidade que não tinha moral para rejeitar, basicamente tinha obrigatoriamente de aceitar», começou por dizer. «É um ato de coragem do presidente. A lembrar aquilo que também fez com Amorim, quando o foi buscar ao SC Braga e só tinha treinado o Casa Pia. Pagou €10 milhões para ir buscar um treinador que não tinha um pingo de experiência em termos de Liga, às vezes é preciso passarmos uma série de anos para lá chegar. Foi o que aconteceu comigo, ao fim de oito anos de ser treinador na primeira divisão é que fui para o Sporting», acrescentou. Nem sequer tem à vontade ainda para enfrentar uma conferência de imprensa, ainda por cima num clube tão grande como o Sporting, que vai em primeiro lugar, imbatível, com um futebol de altíssima qualidade, necessita praticamente de apenas um ponto na Liga dos Campeões para se classificar Manuel José realçou, ainda, a capacidade de comunicação de Ruben Amorim e recordou quando o chamou aos seniores do Belenenses: «O Amorim deixou marca indelével no Sporting, ainda mais por ser um comunicador por natureza. Fui treinador dele, quando orientei o Belenenses, jogava nos juniores e chamei-o a treinar com os seniores, nessa altura já era um indivíduo extrovertido, muito bom comunicador, por isso, a forma dele comunicar não me surpreendeu.» E foi mais longe: «Isso é um pesadelo para o João. Depois de ganhar para a Taça de Portugal veio o jogo com o Santa Clara que não correu bem e digamos que ele não tem à vontade sequer ainda, como treinador, para enfrentar uma conferência de imprensa, ainda por cima num clube tão grande como o Sporting, que vai em primeiro lugar, imbatível, com um futebol de altíssima qualidade, necessita praticamente de apenas um ponto na Liga dos Campeões para se classificar. É um peso muito grande para alguém que estava confortavelmente na equipa B e agora vê-se confrontado com um gigante aos ombros.» «Melhor reconhecer o erro do que perder a época» Em relação ao que tem sido a prestação coletiva, menos positiva, o treinador tem uma explicação. «No jogo com o Arsenal, logo de início, Gonçalo Inácio entregou duas bolas à entrada da área, de bandeja, a seguir foi Diomande que deu outra dentro da área, aos cinco minutos já podiam estar a perder por três. Não percebi o estado de espírito dos jogadores ao entrarem a jogar contra uma equipa que é o segundo classificado do campeonato inglês. O Sporting ter ganho, como ganhou, ao Manchester City foi um feito e teve impacto tremendo, mas com o Arsenal entraram completamente inibidos, assustadíssimos e resultou naquilo que resultou. Fiquei de boca aberta com o estado de espírito dos jogadores. Mudou o treinador e o reflexo é que o estado anímico e psíquico deles ficou altamente afetado», realçou. Agora não é fácil virar o bico ao prego, como se costuma dizer. Mudar de discurso e despedir o treinador. É o treinador do presidente do Sporting, que é um homem mentalmente forte e parece não estar afetado Quanto ao futuro de João Pereira não tem dúvidas: «Está no fio da navalha e o presidente também, ainda por cima depois dos elogios que teceu na apresentação do novo treinador da equipa principal.» E prosseguiu: «Agora não é fácil virar o bico ao prego, como se costuma dizer. Mudar de discurso e despedir o treinador. É o treinador do presidente do Sporting, que é um homem mentalmente forte e parece não estar afetado. Mas, a decisão de manter o treinador com resultados negativos, quando parecia que o campeonato já estava a ganho, não vai ser fácil de dar a volta a esta situação. Despedi-lo é reconhecer o erro que cometeu, mas é melhor reconhecer o erro do que perder a época.»