«Jesus ligou-me quando estava no Flamengo, mas não aconteceu»
Jesus e Rodrigo celebraram vários títulos no Benfica, Foto MIGUEL NUNES/ASF

ENTREVISTA A BOLA «Jesus ligou-me quando estava no Flamengo, mas não aconteceu»

INTERNACIONAL08.01.202409:00

Em exclusivo a A BOLA, Rodrigo revela convite de «um dos treinadores que mais marcaram» a carreira e aborda também o presente no Catar, onde representa o Al Rayyan, depois de ter deixado a Premier League

— Como está a vida do Rodrigo no Catar? Imaginamos que seja bem diferente daquela que levava na Europa.

— Realmente é diferente, mas surpreendeu-me de uma maneira bem positiva, é um país que nos últimos anos vem abrindo portas ao resto do Mundo, penso que o facto de terem recebido tantas pessoas no Mundial foi muito importante para o país, mais a mais porque são pessoas que gostam de receber. Está a ser uma experiência bastante boa para mim, estou a aproveitar tanto a nível profissional como também a nível pessoal e é realmente um lugar bem bonito, que recomendo a qualquer pessoa que queira vir, o Catar vale a pena.

— E está acompanhado pela família, de forma a fazer a vida social?

— Com certeza, mas para nós, que fazemos parte do mundo do futebol, a vida não muda assim tanto de um país para o outro. Ao fim ao cabo, a rotina do dia a dia acaba por ser basicamente a mesma, a única diferença que há realmente é o facto de nos treinarmos da parte da tarde, por causa do calor. Nos meses de verão, principalmente, nós treinávamos até bem tarde, mas agora já é mais a meio do dia. É realmente a grande diferença em relação à Europa, onde costumamos treinar sobretudo de manhã. De resto, a vida é semelhante em todo o lado, logicamente há algumas diferenças ligeiras, mas a meu ver aqui é bem parecida com o que vivia na Europa.

— Rodrigo está de manga curta, quantos graus estão no Catar?

— Bom, agora estamos em pleno inverno, estão uns 25 graus [risos]. Não é o inverno como nós o conhecemos e aqui a temperatura é sempre muito agradável em quase todo o ano. É verdade que no verão há muito calor, durante o dia é quase impossível passear na rua, pois o calor é muito forte, mas a partir de meados de outubro a temperatura começa a ficar muito agradável e creio que até março, início de abril a temperatura mantém-se bem agradável.

— E Leonardo Jardim? Um treinador que já conhecia da liga portuguesa, como tem sido trabalhar com ele no Al Rayyan?

— Sim, sim, enfrentei-o em Portugal, eu estava no Benfica e ele estava a treinar o Sporting. Está a ser uma experiência muito positiva, estou a gostar muito de trabalhar com ele, vou estar sempre grato pelo facto de ele ter dado o seu ‘OK’ para eu ter vindo para o Catar. Por me ter dado a oportunidade de viver essa nova experiência, realmente têm sido meses de trabalho intensos, muito bons, é um treinador que está a ajudar-me muito.

— Aos 32 anos deixou a Premier League, também em função da despromoção do Leeds, para jogar no Catar. Porquê? Ainda está no auge da carreira.

— Bom, foi uma questão muito pessoal, surgiu essa possibilidade e apesar das circunstâncias no Leeds, a nível pessoal posso dizer que foi uma temporada positiva. Consegui terminar inclusivamente com o título da Liga das Nações ao serviço da seleção de Espanha. Mas o futebol e a vida são circunstâncias, são momentos, são oportunidades, são decisões, considerei que, dadas as circunstâncias em que me encontrava, era a melhor opção. Estava também com vontade de enfrentar essa nova experiência a nível profissional e pessoal, viver num país completamente diferente em relação ao que eu estava habituado. E tem sido bem positivo, estou muito satisfeito com o caminho e com a decisão que tomei.

— A Liga do Catar, embora sem a visibilidade da liga da Arábia Saudita, tem jogadores como Rodrigo, como Draxler, que esteve no PSG e no Benfica recentemente, ou Philippe Coutinho, ex-Liverpool e Barcelona. Há ainda jogadores bem conhecidos dos portugueses, como Rúben Semedo ou Mateus Uribe, ex-FC Porto. Não é uma liga qualquer e será agradável encontrar alguns nomes importantes do futebol europeu.

— Com certeza, é uma liga que está em crescimento, há uma visão muito interessante a médio/longo prazo, como já disse a sensação que tenho é de que o Catar se abriu ao Mundo, o Campeonato do Mundo foi um ponto de inversão na história do país, e creio que a liga tem tudo para continuar a crescer, como também a liga da Arábia Saudita. É verdade que o Catar é um país bem menor do que a Arábia Saudita, que neste momento, pelo menos de acordo com o que temos visto, tem esse plano de fazer a mesma coisa que o Catar, de conseguir o Mundial, de abrir o país pouco a pouco. São dois campeonatos emergentes, que com o passar do tempo vão continuar a crescer e serão ligas importantes.

E haverá um dia a possibilidade de estas ligas se aproximarem das melhores ligas europeias? Da Premier League? De uma competição como a Liga dos Campeões?

— Não sei, é difícil dizer, ninguém pode prever o futuro, mas pelo decurso das coisas e pelo que tem sido feito nos últimos dois anos tem tudo para serem ligas competitivas e de um nível muito forte nos próximos anos.

— Jorge Jesus está outra vez perto de si, teve oportunidade de estar com ele?

— Não, por acaso não. Desde que saí do Benfica não tive oportunidade de encontrar-me com ele, sempre estivemos em campeonatos diferentes. Nalguns momentos existiu a possibilidade de podermos reencontrar-nos profissionalmente. Na época em que ele esteve no Flamengo houve um momento em que me ligou para perguntar se existia possibilidade, mas nunca chegou a acontecer, eu estava noutro clube e estava bem também. Posso dizer que tive dois treinadores que me marcaram muito na minha evolução como jogador, Jorge Jesus e Marcelino [García Toral] no Valência. Jesus foi treinador que me marcou muito, que me ensinou muito, mas que exigiu muito também [risos]. 

Rodrigo e Jesus, nos tempos de Benfica, Foto PAULO ESTEVES/ASF

— Começou a rir, quer explicar-nos a razão?...

— O dia a dia com ele não era fácil, mas ele fazia as coisas e sabia o porquê. Porque via potencial em mim, via capacidade de crescimento e sem dúvida marcou-me muito. Foi meu treinador no início da carreira como profissional e o trabalho com ele permitiu-me chegar ao mais alto nível no mundo do futebol e vou estar-lhe sempre grato pelo que fez por mim.

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