«É preciso avançado que marque golos»
Roger Schmidt afirmou antes do jogo com o Moreirense que a equipa estava a melhorar. Foto: Grafislab

«É preciso avançado que marque golos»

FUTEBOL04.12.202322:51

Jorge Castelo, 66 anos, treinador, analisa o momento do Benfica

— Porque continua o Benfica a sentir dificuldades e não consegue evoluir?

— Não é uma questão fácil. O Benfica, esta época, mudou de jogadores e, quando isso acontece, aparecem outras particularidades. Aqueles que saíram não são reproduzíveis neste momento, essa é a primeira questão. A segunda está relacionada com o facto de o Benfica, o ano passado, ter começado a temporada mais cedo, por causa da Liga dos Campeões e, provavelmente, criou uma estabilidade organizativa dentro da equipa que se prolongou durante vários meses. E isso não só colocou o Benfica sempre à frente do campeonato, como também surpreendeu os adversários. Este ano as equipas, claro, estão mais preparadas para entender como o Benfica joga e percebem melhor como encontrar soluções que impeçam que o Benfica possa expor todo o seu potencial. Relativamente aos jogadores, penso que não têm as mesmas particularidades ou não conseguem exprimir as mesmas coisas que alguns do ano passado conseguiam. Falamos de quê? Um ponta de lança que, no fundo, fazia golos, mas tinha também uma enorme importância na fase defensiva do jogo, esse elemento é fundamental. Talvez o Tengstedt seja o mais próximo de fazer isso e por isso tem estado a ser mais utilizado. O ano passado a equipa era mais compacta e tinha uma sincronização setorial que este ano não vemos. Ou seja, este ano, a equipa não recupera tantas vezes a bola no meio-campo adversário, recupera mais no seu próprio meio-campo. Está tudo encadeado, o facto de recuperar a bola mais longe da baliza adversária obriga a fazer mais passes, obriga a que os jogadores tenham de fazer mais situações de 1 contra 1 ou 2 contra 2, o ano passado parecia tudo mais simples porque, ao recuperar a bola mais perto a baliza adversária, utilizava menos jogadores a intervir sobre a bola e apareciam mais jogadores a criar e a finalizar mais vezes. Isto é um dominó, toca-se numa peça e tudo a seguir tem influência. As equipas agora sentem o Benfica mais frágil. Os técnicos podem dizer que estão no topo, mas não é verdade.

Jorge Castelo vê a equipa a recuperar a bola mais da área adversária. Foto: Miguel Nunes/ASF

— O que Roger Schmidt deve fazer para as coisas melhorarem?

— Ele de certa forma tem alguns… não digo problemas, mas a liderança não está a ser a mesma. Parece-me que a liderança em termos de respeito pelos conceitos de jogo não está a ser devidamente acautelada por alguns jogadores. Existem alguns que não têm tanto compromisso em termos de funções defensivas como o ano passado outros tinham. O Di María não tem essas propensões, por mais que queiramos. Não significa que seja mau jogador, não é, mas trabalha de uma forma diferente em campo. Esta coisa de elevar o Di María a um deus no Benfica tem impacto negativo nos outros jogadores, que pensam: ‘Porque é que eu vou correr tanto se depois são sempre os mesmos que são glorificados.’

— Equipa precisa de ser reforçada?

— Precisa de sangue novo. Precisa prioritariamente de um ponta de lança que marque golos. Tem lá três pontas de lança, e são opções, mas não marcam golos, essa é que é a questão. E está aqui a criar algum embaraço falar de Kokçu, pois seria um jogador-chave para colmatar alguns que não defendem tanto quanto outros que estavam na sua posição defendiam. Porque futebol é atacar e defender. E, portanto, a questão passa por, quando se ataca, tirar máximo proveito das situações de golo, e quando se defende defenderem todos, não é só alguns.

Tags: