A entrevista completa a Bruno Fernandes
Bruno Fernandes com o equipamento alternativo da Seleção para o Euro-2024 (Foto: FPF)

A entrevista completa a Bruno Fernandes

NACIONAL20.03.202412:00

Médio do Manchester United e da Seleção Nacional fala das expetativas para o Euro-2024, do seu clube e das críticas que lhe fazem, do Sporting e dá ainda uma verdadeira master class sobre o que deve ser um 'playmaker'

«Foi a qualificação em que me senti mais livre mesmo partindo de posição mais fixa»

Já vestido com a camisola da Seleção Nacional que irá usar na fase final do Europeu, Bruno Fernandes deu uma entrevista exclusiva a A BOLA. O médio do Manchester United falou das expetativas na Alemanha, da química que tem com Bernardo Silva e de muito mais.

- Essa camisola assenta bem a um campeão europeu ou não?

- Espero bem que sim, que assente. Vai ficar mais bonita se tiver aqui algo mais no meio, entre o nosso símbolo e a nossa marca. Seria uma honra enorme voltar a repetir esse feito que os nossos heróis conseguiram em 2016. Seria mais um sonho a ser realizado.

- Vocês já se imaginam nesses momentos? Nesta fase da época ainda é um pouco cedo, ainda faltam os encontros de preparação e acabar a temporada, mas já se veem de alguma forma nesses primeiros jogos e a pensar um bocadinho mais à frente também?

- Já se começa a ter um bocadinho daquela ansiedade, daquela vontade de jogar o Europeu. Toda a gente quer acabar a época da melhor maneira, muitos de nós têm alguns objetivos ainda importantes, mas obviamente que o Europeu está no foco de todos, que estão a fazer o máximo durante esta temporada para poderem ser chamados e estarem presentes.

- No entanto, quando se entra em campo não se pensa nisso. Há sempre aquela ideia de que pode acontecer qualquer coisa que impeça o jogador de estar numa fase final, mas nunca se levanta o pé, mete-se sempre o pé, tenta-se sempre levar até ao limite. Em Inglaterra também não é fácil tirar o pé…

- Em Inglaterra, se acabas por tirar o pé pode ser, por vezes, pior…

- Exato…

- Não, ninguém pensa muito nisso. Obviamente, quando são jogadores mais suscetíveis a lesões, por vezes podem pensar um bocadinho, mas será mais na parte muscular. Sinceramente, durante o jogo, a adrenalina tira-te um bocadinho o foco de tudo o que é o resto e deixa-te muito concentrado naquilo que é o momento.

Aquela rotação com o Bernardo não é pensada, trabalhada ou treinada

- Falando agora do que é esta Seleção com Roberto Martínez, qual foi a primeira coisa em que pensou quando o selecionador lhe disse que ia ser o primeiro organizador, uma espécie de 8?

- Em nada, porque a primeira vez que jogámos colocou uma defesa a três, com dois médios e, depois, tínhamos dois extremos por dentro, dois 10 basicamente, e ainda dois alas e um ponta de lança. Sabia que a posição onde poderia encaixar seria ou a 8 ou num dos dois lugares mais adiantados, mas obviamente depois, com o decorrer dos jogos, tive quase sempre o Bernardo à minha frente e essa foi também uma das dinâmicas que o mister gostou de ver e quis manter. Aquela troca de posições entre mim e o Bernardo, já que ambos conseguimos e sabemos o que temos de fazer em cada uma delas… Aquela rotação que por vezes acaba por acontecer naturalmente não é pensada, trabalhada ou treinada, o treinador simplesmente sabe que a podemos fazer. Entendemo-nos os dois muito bem a jogar juntos e é uma dinâmica que funciona muito bem. Mas nessa primeira vez, queria era jogar, independentemente da posição onde me colocasse. Todos nós queremos simplesmente jogar e o máximo de tempo possível. Era-me um bocadinho indiferente a posição em que me iria colocar.

- Mas, para quem já assumiu publicamente que gosta muito do último passe e da finalização e do remate, o recuo em campo não lhe tira ali um pouco da alegria de jogar? Um bocadinho só?

- Não, porque, se formos a ver, fui o jogador com mais assistências. Continuei a fazer bastantes golos, cinco ou seis, não me lembro exatamente…

- Não estava a falar concretamente da parte estatística, porque o Bruno naturalmente destaca-se, mas sim da presença em campo e se se sente de certa forma constrangido por estar mais longe da área…

- Não, porque o mister dá-me bastante liberdade na forma como desempenho as minhas funções e também gosto muito de ter bola. No início da carreira, sempre fui um 8, nunca um 10. Quando fui para Itália passei a ser mais 10, embora por vezes fosse também jogando a 8, tanto que na Seleção sub-21 sempre fui 8 com o mister Rui Jorge… No famoso losango dele quase sempre fui um dos 8 e raramente um dos 10, e é uma posição em que me sinto bem. Posso pegar mais no jogo, tenho mais bola, posso mudar as dinâmicas, posso acelerar, desacelerar, chego muito à área na mesma… O treinador dá-me muita liberdade de movimento e, como referi, aquela mudança de posição com o Bernardo também me liberta muitas vezes para estar em momentos mais ofensivos. Sei também que o Bernardo gosta de baixar e ficar com bola, por isso trata-se do entendimento de dois jogadores para que se retire o melhor de cada um. Sei que posso alimentar o jogo dele com movimento com bola e enervar a equipa adversária, dado que ele tem muita qualidade para escondê-la, e isso que faz com que depois eu também esteja mais à frente. As próprias dinâmicas da equipa permitiram-me que nesta qualificação jogasse sempre muito subido e muito no último terço. Aquilo que falámos do último passe, de que gosto muito mesmo jogando mais baixo, ao termos extremos tão rápidos e alas tão abertos permite-me fazer muitos passes longos, que é algo que também gosto… E é tanto assim que no meio do jogo, logo depois de fazer um passe longo, ouço sempre a vozinha de alguém a dizer ‘até choras. Eles sabem perfeitamente que é também uma das minhas qualidades. Foi provavelmente a qualificação em que me senti mais livre posicionalmente, tendo a obrigação de partir de uma posição tão fixa.

Bruno Fernandes com o equipamento alternativo da Seleção para o Euro-2024 (Foto: FPF)

«Ganhei confiança a marcar penáltis a guarda-redes a quem revelava tudo»

Ninguém marcou tantos penáltis quantos Bruno Fernandes pelo Manchester United. O recorde é seu e a eficácia vem muito de um gesto que tem aperfeiçoado ao longo de muitos anos. Em entrevista exclusiva a A BOLA, o médio revela o momento em que percebeu que tinha encontrado a fórmula certa para os 11 metros.

- É o maior marcador de penáltis da história do Manchester United. De onde vem a inspiração para aquela meia-paradinha?

- Já contei esta história uma vez. Eu batia os penáltis de maneira diferente. Se forem a ver o meu penálti contra o Nápoles, que foi o primeiro que bati enquanto profissional numa equipa sénior, na Udinese, fazia uma paradinha a dois passos da bola. Parava e ainda tinha um, dois passos para bater na bola. Olhava para o guarda-redes muito antes. Antigamente, não se estudava tanto o batedor e, nesse jogo, bati e a bola passou por baixo do braço do guarda-redes e foi golo. Já o segundo falhei. Tive dois penáltis no mesmo jogo, contra o Nápoles. Ainda era muito jovem, senti muito a pressão de bater. Foi a primeira vez que o treinador me disse que seria eu a bater os penáltis… Tínhamos jogadores muito experientes e o treinador disse a todos antes do jogo que seria eu. Assim que o fez senti aquela pressão, de que ia ter mesmo um penálti no jogo. Continuei a bater assim, achei que não estava a ter grande sucesso e depois fui para a Sampdoria. Aí, não era eu o batedor principal e tive um treinador, o mister Lilo [ndr: Salvatore Foti], que até fez parte da equipa técnica do mister José Mourinho agora na Roma, que me disse ‘Ó Bruno, porque é que não olhas para o guarda-redes apenas no teu último passo?’. Fui treinando de maneira diferente, sem saltar, só com um passo, mas com um passo não me sentia muito confortável porque o balanço do corpo não era tão bom e o pé não ficava tanto no sítio onde queria… Quando dava o passo já estava muito perto da bola e não tinha tempo de levantar a cabeça e ver bem… A paradinha surge daí. Ele foi dando dicas e disse ‘tenta dar um pequeno salto a ver se conseguimos’. Passei a treiná-lo, aquilo começou a correr bem, até que venho para o Sporting, onde o Bas Dost também no último passo olhava para o guarda-redes. Só que o Bas tinha umas pernas maiores do que o meu corpo e, no tempo de ele de meter o pé esquerdo e de o direito chegar à bola, o guarda-redes tinha de se mexer se não nunca mais lá chegava. Fui vendo também como o Bas fazia e ele foi-me dando dicas. Aprendi na Sampdoria, aperfeiçoei no Sporting com o Bas Dost.

Hoje, tenho três formas de bater penáltis

- Em algum momento achou que ia ser tão eficaz quanto é?

- Sim, a partir do momento em que comecei a ver que os guarda-redes que treinavam comigo tinham muitas dificuldades e eu fazia aquilo diariamente. Raramente acertavam o lado ou, quando acertavam, era muito tarde para chegarem à bola. Comecei a sentir confiança, a pensar ‘isto tem tudo para dar certo’. Se tenho três guarda-redes na equipa, todos eles iam à baliza, treinávamos todas as semanas e eles sabiam o que eu fazia, passei a sentir-me muito confortável. Dizia-lhes exatamente ‘sinto-me mais confortável a chutar para um lado’, ‘sinto-me menos confortável a chutar para o outro’, ‘se te mexeres antes…’, dizia-lhes tudo o que se passava na minha cabeça. Pensava assim: ‘Estes vão saber, mas vou para o jogo e o guarda-redes que vai defender não vai saber’. Preferia que eles treinassem a saber tudo o que pensava, e aí eu veria se era difícil ou não defender… Comecei a pensar ‘isto realmente tem um efeito…’ Há muita coisa que vai na cabeça do guarda-redes: ‘O que é que eu faço?’ ‘Ele vai saltar, saio antes?’ ‘Faço de conta de que vou para um lado e vou para o outro?’. Depois, com o passar do tempo, obviamente os guarda-redes começam a treinar, vão ser mais experientes, veem vídeos, veem a tua cara, veem os teus olhos. Hoje, há uma dinâmica muito grande para saber tudo e mais alguma coisa. E eu comecei também a adaptar-me e agora tenho três maneiras de bater. Fixo muito no momento do jogo, no guarda-redes que tenho pela frente, porque o estudo antes, mas também naquilo que sinto no momento em termos de confiança. Imaginemos que é um penálti no último minuto, vou pelo que sinto mais confiança para fazer naquele momento. Posso sentir que o salto é onde me sinto mais confiante perante aquele guarda-redes, porque é alto, tem pouca mobilidade, não é tão explosivo, por mil e uma razões… Ou que é melhor ir direito à bola com uma batida seca porque não tem tanta explosão para chegar aos cantos… Com isso, vou jogando com o guarda-redes, já que ultimamente não temos tido muitos penáltis. No entanto, há dois ou três anos, tivemos uma onda de penáltis muito grande e eu tive de me reinventar.

Bruno Fernandes com o equipamento alternativo da Seleção para o Euro-2024 (Foto: FPF)

Quer ser playmaker? Bruno Fernandes revela-lhe tudo em que tem de pensar

A propósito das dificuldades que o Manchester United tem sentido no ataque posicional, Bruno Fernandes foi desvendado a sua linha de pensamento sobre a forma de jogar da equipa e acabou por traçar diferenças para o rival da mesma cidade e até para a Seleção Nacional. Uma pérola num entrevista exclusiva a A BOLA.

- O papel de 8 que tem na Seleção não tem sido replicado no Manchester United, mesmo que algumas das críticas feitas à equipa incidam sobre as dificuldades de construção a meio-campo. Falou-se até várias vezes em jogadores que poderiam ser contratados, como o Frenkie de Jong, para ajudar a resolver essa situação. Mas com o Bruno a mostrar na Seleção o que pode valer como 8, chegou a discutir com o treinador a aplicação do mesmo modelo no clube? É que nos últimos jogos, até tem jogado ainda mais subido, ao lado do McTominay ou até sozinho na frente…

- Neste momento, estou a jogar a ponta de lança mesmo…

- A falso 9, não é?

- Não, não é a falso 9. Não faço esses movimentos. Os que faço não são de um falso 9 porque não estou muito habituado. Tento ao máximo fazer aqueles movimentos que o treinador quer. Ele também me pede para baixar, porque as minhas qualidades não são de estar ali na última linha e lutar com os centrais, embora possa e tente fazê-lo ao máximo quando é preciso e a equipa necessita. Já joguei, no entanto, sobretudo na época passada com o mister Ten Hag, mais baixo. Inclusive, contra o Everton, joguei a 6 e ainda acho que foi dos jogos mais completos que fiz, a todos os níveis. A nível do passe, da organização de jogo, defensivo, tático… Tenho um pouco na minha cabeça que vou acabar a carreira mais para trás, porque toda a gente que aí começou e passou para 10 acabou por recuar no campo no final. É uma posição que gosto, jogar mais baixo, mais de frente para o jogo. Com bola, facilita muito o meu jogo porque tenho uma visão mais ampla do jogo e ideal para aquilo que falámos do último passe… que pode, por vezes, sair de mais baixo no terreno. O jogo com o Everton foi aquele em que mais ocasiões de golo criei mesmo jogando mais baixo e não jogando como 10.

- Falávamos das dificuldades do Manchester United na construção… 

- A construção de jogo não se deve à defesa, ao meio-campo ou só ao ataque, porque é, muitas vezes, feita por várias movimentações, por várias componentes necessárias para que a equipa tenha as opções corretas para conseguir sair a jogar. Se nós temos jogadores de transição, acaba por ser difícil que se transformem em jogadores de posse de bola. As suas qualidades estão mais no contra-ataque do que no ficar com a bola. Temos de ter a noção de que na nossa equipa os extremos e pontas de lança, e excluindo provavelmente o Martial, que gosta mais de vir buscar jogo, que é um avançado mais de bola no pé, de segurar os defesas, são mais de contra-ataque, de transição ofensiva, mais de bola na profundidade do que propriamente de bola no pé. A bola no pé surge mais no último terço, de maneira a que depois consigam entrar no 1x1, outra das suas maiores qualidades.

Não posso pedir ao Rashford ou ao Garnacho que façam o mesmo que o Bernardo

- É uma realidade bem diferente da do Manchester City

- A identidade do Manchester United nunca foi de jogar muito futebol apoiado, é uma equipa de muita intensidade, de futebol intenso e ofensivo. Essa é a ideia do clube. Por vezes, cai-se no erro de achar que todas as equipas têm de jogar em posse de bola… Eu quero jogar em posse de bola, quero ter a bola o mais possível. É óbvio, porque os jogadores que gostam de jogar com bola querem tê-la o mais possível, mas por vezes temos de nos enquadrar no ambiente em que estamos. E não é possível jogarmos da mesma maneira que o Manchester City, porque o Manchester City tem extremos de apoio, muito bons no 1x1 também, mas futebolistas que gostam muito de jogar em apoio e também por dentro. Eu não posso pedir ao Rashford e ao Garnacho, extremos puros de linha, para jogarem por dentro da mesma maneira que outros que se calhar começaram as carreiras como médios ou como números 10 e foram caindo para as linhas. Não posso pedir ao Rashford ou ao Garnacho para fazerem o que o Bernardo faz quando joga a extremo. É uma ideia completamente errada, porque o Bernardo sabe estar entre linhas, está habituado a estar no meio e a jogar de costas e jogar de costas não é assim tão simples quanto parece. As pessoas têm por vezes essa ideia de que todos os jogadores têm de fazer o que os outros fazem. Não, temos características específicas que nos definem enquanto jogadores e fazem com que sejamos muito bons a fazer aquilo que fazemos. As pessoas têm de entender que fazemos o que potencializa a qualidade do jogador ao nosso lado. As pessoas dizem ‘o Bruno tem de ficar mais com a bola’, mas obviamente se estou a jogar na posição 10 e a bola entra entre linhas e eu rodo… e quando a bola entra entre linhas é porque a pressão estava alta… No momento em que rodo, a pressão está nas minhas costas e eu não consigo voltar para trás, porque se voltar para trás vou ao encontro da pressão. A bola vem e posso jogar de apoio ou, simplesmente, ficar com esta e ir para uma lateral. No entanto, se eu rodo e tenho os meus dois extremos a fazer o movimento em profundidade, a minha opção ou é conduzir bola, fazer parede com o meu avançado ou assistir a profundidade dos meus extremos. Se os meus extremos ficam mais abertos, o que acho eu que eles querem? Bola no pé para aproveitar o 1x1. Tenho de jogar com a qualidade que tenho ao meu lado.

[Nota do entrevistador: aqui fica tremendamente interessante e não quisemos interromper todo o raciocínio, deixámos que continuasse]

- Quando vou à Seleção não vou dar profundidade ao Bernardo. Eu sei que o Bernardo não vai correr na profundidade, nem é uma característica sua que potencializa a nossa equipa. Mas se eu pegar na bola e o Leão já estiver a correr provavelmente vou meter a bola à profundidade, porque sei que ele tem uma velocidade incrível. Ou então espero um bocadinho mais para que a defesa adversária baixe e o Leão alargue mais, e dou-lhe a bola para aquilo que ele mais gosta, que é ir no 1x1. Se jogar o Félix, então provavelmente já lhe vou dar um passe mais forte entre linhas. Se for o Jota vou dar um passe em profundidade entre central e lateral. Ao Pedro Neto tanto posso ir na profundidade na área como no pé, porque também é um jogador de 1x1. E podia continuar aqui… Se jogar o Cristiano, tanto posso jogar de parede como naqueles movimentos que ele gosta de fazer por detrás do avançado. A diagonal curta… Com o Gonçalo Ramos já é mais um movimento quando estou perto da área, ele dá a volta ao central e gosta de ver o cruzamento, ou dá a volta ao central pela frente e ataca o primeiro poste. Tenho de conhecer os jogadores que jogam comigo. Eu faço muito bem essa leitura, mas percebo que, de fora, as pessoas queiram jogar de uma determinada maneira e não percebam a leitura do jogo ou do jogador.

- Há aí tanto de treinador já, não há?

- (Risos) Não sei se é de treinador ou não, gosto de fazer a leitura, eu gosto de saber como… Porque também gosto que as pessoas que jogam comigo me potenciem ao máximo… Se um extremo vai na situação de 1x1 a atacar a área e sabe que eu estou ali ainda fora da mesma, acho que a maior parte deles sabe que gosto da bola devagarinho para trás para chutar à baliza, porque é uma das minhas maiores qualidades. Ou, por exemplo, quando o Bernardo arrasta o lateral e trava, e eu estou ali no bico da área, ele sabe que quero a bola devagarinho para meter um cruzamento. São pequenas coisas. Se nós conhecermos o jogador vamos potencializar o nosso companheiro e, ao mesmo tempo, a equipa.

Hjulmand e Morita em ação no jogo com o Moreirense (Foto: IMAGO / Avant Sports)

«Adoro o Morita e o Hjulmand»

Adepto à distância, Bruno Fernandes não tem perdido pitada sobre o que se passa no Sporting, líder da Liga portuguesa. Cauteloso, o médio lembra o que se passou recentemente com FC Porto e Benfica, que deixaram esfumar boas vantagens, mas garante que acredita no título, deixando ainda elogios bem personalizados, em entrevista exclusiva a A BOLA.

- O Sporting vai ser campeão ou não?

- Vejo isso como uma grande probabilidade e espero que sim. Tem sido a equipa mais consistente, mas nós já vimos campeonatos a serem discutidos até final mesmo depois de grandes distâncias pontuais a certa altura. Aconteceu com FC Porto e Benfica nos últimos anos. Tiveram uma grande vantagem e foram ultrapassados. No entanto, acho que pela consistência e pelas dinâmicas que apresenta, o Sporting tem tudo para ser campeão mais uma vez.

- E se o Sporting for campeão vê alguém do plantel a sair para Inglaterra?

- Há ali muitos jogadores que têm qualidade para sair…

- Até o próprio treinador…

- Sim, sim. Uma das coisas que o Sporting tem feito nos últimos anos nesta presidência e com esta direção é não vender jogadores. Em anos anteriores, o Sporting teria vendido dois, três jogadores e enfraquecido o plantel. Isso não tem vindo a acontecer. Desde o último ano em que o clube foi campeão até hoje também não houve assim tantas saídas e isso tem sido importante. Há naturalmente muitos jogadores em bom plano. O Gyokeres é um deles, tem feito muitos golos, mas acho que o Pedro Gonçalves, ao longo dos anos, vem demonstrando grandes dinâmicas. Provavelmente, esta época é aquela em que tem jogado melhor, mas como os números têm descido desde a primeira época, as pessoas… O que é normal, ele criou um padrão muito alto de golos e assistências, de tal forma que a pressão sobre ele é muito alta. No entanto, acho que o Pote tem sido mais influente no jogo da equipa agora do que foi quando o Sporting se sagrou campeão e marcou muitos golos. Tinha influência nos golos, mas no jogo da equipa ele próprio sentia que poderia ter tido mais. Obviamente que o Gyokeres, ao fazer tantos golos, faz com que ele acabe por cair um pouco no esquecimento por vezes. Também esta confiança do treinador no Trincão faz com que ele tenha voltado a ser o jogador que era quando saiu do Braga para Barcelona. O Inácio tem vindo a ter um crescimento enorme e parte deve-se a estar na Seleção e a jogar. O Coates é sempre o pêndulo daquela defesa pela experiência que tem e pela capacidade para ser tranquilo em momentos difíceis. Os dois do meio-campo… Adoro o meio-campo do Sporting. Adoro o Morita e o Hjulmand. São dois jogadores vitais naquilo que é o jogo do Sporting, principalmente quando tem de ter mais bola e de ser mais organizado taticamente.

Bruno Fernandes com o equipamento alternativo da Seleção para o Euro-2024 (Foto: FPF)

«Mau feitio? Os jogadores intensos são difíceis de entender»

Em entrevista exclusiva a A BOLA, Bruno Fernandes falou das críticas de que é alvo quando o veem gesticular em demasia com os companheiros, questionando inclusive a sua atitude enquanto capitão de equipa.

- Tem-se assistido a um crescimento seu de influência na Seleção. Sabemos que há sempre vários líderes numa equipa, mas vemo-lo cada vez mais a apontar, a gesticular, a mostrar-se como líder em campo… Um líder mais estratégico, não tendo a braçadeira.

- É um bocadinho natural. Não penso muito nessa questão. Muitas vezes cai bem, muitas outras cai mal. Há pessoas que gostam, outras que não gostam. Há pessoas que veem o apontar como esbracejar, porque para nós em campo é difícil transmitir as mensagens da maneira como estamos aqui a conversar. É praticamente impossível. Normalmente, temos de usar mais os braços, gesticular. Estamos muito longe uns dos outros para conseguirmos perceber as mensagens que queremos passar uns aos outros. É como eu digo… Sai-me um bocadinho natural, não é por querer ser mais líder. Faz parte do meu jogo. Nunca me escondi, independentemente de estar com jogadores mais velhos ou mais novos. Se achar que tenho de transmitir alguma mensagem vou sempre transmiti-la em prol da equipa e do jogador a que a estou a transmitir também.

Dei-me muito bem com Jorge Jesus porque gosto de treinadores exigentes

- Porque é que todos os grandes líderes parecem ter mau feitio?

- Vemos sempre a questão do mau feitio… Por exemplo, quando temos um treinador que é duro, exigente, muitas vezes o jogador vê isso como mau. Já eu dou-me bem com treinadores que são bastante exigentes. Dei-me muito bem com Jorge Jesus, que é um treinador de quem quase ninguém diz que é fácil de lidar. Lidei muito bem com ele, porque gosto de pessoas exigentes, gosto de pessoas que exijam de mim, porque o facto de exigirem de mim faz com que nunca esteja adormecido, nunca esteja satisfeito com aquilo que tenho. Gosto que os jogadores ao meu lado sejam também exigentes comigo, que me peçam mais, que me peçam para errar menos. Muitas vezes, isso transmite a imagem do mau feitio, porque vem da forma como vivenciamos o jogo, de como somos tão intensos…  e os jogadores intensos são difíceis de entender. Tenho essa noção de que provavelmente há muita gente a quem não cai bem certas coisas que faço, mas por todos os balneários que passo digo sempre que se algum jogador não se sentir à vontade com a maneira com que falo com ele, com a maneira como lhe transmito a mensagem, estou aberto para não o fazer ou para tentar fazê-lo de outra maneira. Que eles me digam ‘ó Bruno prefiro que, quando pare o jogo, venhas à minha beira e mo digas’, porque há jogadores que sentem muito quando, por exemplo, falham um passe e tu lhe dizes ‘não procures esse passe, procura outro’. Obviamente, para fora, se alguém me vir gesticular, pensa o quê? Está a reclamar porque o colega falhou o passe… E, muitas vezes, o público vai dizer ‘o Bruno tem razão, o colega não devia ter falhado o passe’ ou, por outro lado, dizem ‘fogo, que chato! Está a reclamar com o rapaz que falhou o passe’. Por isso, há jogadores em que tenho de ir perto deles. No fim da jogada, aproximo-me e digo ‘não vejas esse passe, vê o primeiro movimento e deixa esse movimento aparecer. Vai arrastar jogadores e joga a bola no segundo movimento’. Estou a dar um exemplo. Há jogadores a quem tem de ser dada a mensagem desta forma porque não lidam bem com a mensagem logo após o erro.

- E quando a mensagem é para si?

- Sou um jogador que com um mensagem imediata logo após o erro fica chateado, mas fico chateado comigo mesmo, porque sei que errei. Levo uma dura desnecessária porque tinha de ter feito algo de diferente, pensado melhor, decidido melhor. Todos somos diferentes, da mesma forma que todos os adeptos são diferentes. Uns vão pensar de uma maneira do Bruno, outros de outra, e tenho de aceitar ambas. Aceito isso muito bem. Não tenho problema algum de que as pessoas pensem que tenho mau feitio, porque tenho encontrado muitos adeptos, principalmente dos rivais, que acabam a dizer ‘fogo, e não é que ele é boa pessoa? Não tem nada a ver com o que é dentro do campo’. Dentro do campo são vivências, são momentos, são segundos em que as emoções estão à flor da pele, em que temos de transmitir as coisas o mais rápido possível e da maneira que achamos que é mais imediata para ter resultados.

- Mas já teve esses episódios no balneário, já foram ter consigo e lhe disseram diretamente, por exemplo, ‘não fales comigo assim’?

- Nunca tive aquele confronto do ‘não fales comigo assim’. Tive sim eu a perceção de jogadores que ficam muito em baixo se alguém falar com eles ou se eu falar com eles. Eu próprio tenho de ter essa noção de o estar a prejudicar em vez de estar a ajudá-lo, de estar a tirar menos rendimento dele do que aquilo que eu pretendo. Se está a ter o efeito contrário vou ter diretamente com a pessoa e pergunto ‘não te sentes bem com a forma como que transmito a mensagem? Preferes que o faça de outra maneira? Preferes que espere que o jogo pare ou aguarde pelo intervalo? Preferes que passe a alguém que te passe a ti a mensagem? Tenho de encontrar soluções. Coloco-me no lugar deles. Se alguém me dissesse algo que prejudicasse o meu jogo iria sentir-me mal durante o encontro, não ia ficar bem comigo mesmo. Começamos a pensar em demasiadas coisas, sobretudo quando somos mais novos. Fui aprendendo com o tempo. Quando cheguei a Itália, e os italianos são também muito duros, muito rígidos e a hierarquia é uma coisa que existe e tem de ser respeitada ao máximo, aprendi rapidamente que aqui está o treinador, aqui estão os mais velhos, aqui estão os miúdos e depois vens tu, que acabaste de subir à primeira equipa. Os miúdos ainda estão por cima de ti. Aprendi muito à maneira italiana, à maneira dura, como é que se lida com o balneário, porque também tive a sorte de ter muitos colegas experientes dentro desse balneário, que faziam esse papel de falar comigo e de tentar perceber como eu me sentia melhor, em campo e no resto. Fui aprendendo e é uma das coisas que tento fazer. Provavelmente, tenho muito a melhorar, mas vou tentando fazê-lo, a fim de retirar o máximo dos meus companheiros de equipa.

Bruno Fernandes sabe levar a multidão ao rubro (Foto: Xinhua/IMAGO)

«Já disse aos novos donos que quero ficar, com projeto que nos torne competitivos»

O Manchester United continua longe da glória que já alcançou e que o tornou num dos maiores emblemas do planeta. Bruno Fernandes, em entrevista exclusiva a A BOLA, reconhece que o momento continua aquém das expetativas e já pediu garantias aos novos donos – a INEOS, de Jim Ratcliffe – que, embora minoritários, vão controlar o futebol do clube.

- O Manchester United é um clube gigantesco, a pressão é um desafio diário?

- Sinceramente, não vejo isso como uma pressão. Simplesmente faço aquilo que gosto. Tenho a consciência tranquila de que todos os dias treino o máximo, jogo o máximo. Podem obviamente apontar-me que joguei bem ou mal, mostrei muita ou pouca qualidade, que falhei passes, errei remates, mas no que toca a tudo o resto estou sempre com a consciência tranquila. O mínimo que se exige de nós é isso, tudo o que metemos em campo, toda a intensidade, tudo aquilo que temos de fazer… e eu faço tudo. Não para ficar de consciência tranquila, mas porque faz parte do meu jogo. Essa pressão existe, obviamente, estamos num clube que provavelmente está entre os dois, três mais badalados do mundo no que diz respeito a notícias e manchetes. Temos noção, eu tenho noção disso, não vou estar aqui a enganar ninguém e a dizer ‘eu não vejo o que as pessoas falam de mim ou dizem de mim’ porque eu estou no United. Obviamente que é porque estou no United que isso acontece, porque se estivesse a jogar noutra equipa da Premier League ou de Portugal num escalão mais baixo não ia ter esta atenção. Mas também não podemos dizer que não gostamos de uma peça negativa e depois, quando falam bem de nós, gostamos de tudo e mais alguma coisa. Por isso, temos de encontrar um equilíbrio, encontrar uma linha e dizer ‘não passo desta linha’. Quando falam bem adoro, quando falam mal aprendo.

- O Bruno tem uma ação decisiva em cada 1,6 jogos pelo Manchester United. Mesmo assim, parece que quando a equipa joga mal, perde ou não tem um resultado positivo, é se calhar a primeira figura a quem apontam o dedo… Vê isso assim também ou é só uma visão nossa de fora?

- Tenho essa noção, mas faz parte, não só por ser capitão de equipa do Manchester United como também pelo padrão que criei desde que aqui cheguei. Isso é exclusivamente culpa minha pelo lado positivo, porque fiz coisas boas, sou capaz de fazer melhor e criticam-me por isso. Vejo isso pelo lado positivo. Se me estão a criticar é porque acham que sou capaz de fazer melhor. É certo que há alturas em que criticam a atitude, e que não se correu e que não se fez isto e aquilo, mas quando essas coisas vêm estou completamente tranquilo. Eles gostam muito das estatísticas e de todas essas coisas e no clube temos lá um quadrozinho com quem correu mais, quem teve a mais alta intensidade, quem fez mais sprints e o meu nome não sai lá de cima. Isso deixa-me de consciência tranquila. Não é algo que me diga que joguei bem só porque corri muito, porque não é a correr muito que se joga bem, mas a minha posição obriga-me a correr mais do que outras posições e é uma obrigação minha fazer o máximo que posso nesse sentido. Depois, se corremos bem ou mal… Isto ficou mais nos meus ombros desde que o Cris saiu daqui, o que é normal, o nome dele chamava mais atenção do que o meu. Provavelmente, caem mais nos jogadores de fora do que nos da casa. Sempre disse que em Portugal é bocadinho ao contrário, que caímos sempre um bocadinho mais no português do que no estrangeiro. Mas o que sinto aqui senti também um bocadinho em Itália. Protegem os de casa, quem é do país, e não acho que isso esteja errado. Ao mesmo tempo, sinto-me bem com essa crítica porque é uma maneira de exigirem mais de mim e de acharem que tenho capacidade para fazer mais. Obviamente, não gosto de ver o meu nome e a minha cara em manchetes negativas, mas faz parte da nossa profissão e é o que é.

- É um diabo com coração de leão?

- Isso é um bocadinho óbvio, já toda a gente sabe…

- Mas mesmo em campo, não só no sentido figurado de ligar essa imagem ao Manchester United e ao Sporting

- Sim, sim. Toda a gente sabe, porque veem o Bruno um bocadinho como o diabo, pela maneira como vivo muito o jogo, mas ao mesmo tempo sinto que também veem como um leão, porque sou uma pessoa que tem muita garra, que não vira a cara a luta, que até conseguir os seus objetivos não vai parar… Posso não conseguir todos os objetivos que tenho para a minha carreira, mas ao longo desta já alcancei muitos que não pensava alcançar.

- O Bruno é um perfecionista. Já o assumiu. Revê todos os jogos ou só as jogadas em que sente que esteve bem ou mal?

- Antigamente, revia praticamente o jogo todo, porque obviamente quando olhamos apenas a nossa jogada acaba por ser difícil ver o que está à volta. Muitas vezes quando revemos o que fazemos, seja um erro ou algo positivo… Imaginemos a coisa positiva, um passe muito bom através do qual isolei um companheiro de equipa. Apesar de ter sido excelente, provavelmente deveria ter olhado para o segundo movimento. E, se calhar, o segundo movimento teria sido mais efetivo do que o primeiro. Acho que ver uma ampliação do jogo é, por vezes, melhor do que apenas highlights. Depende muito do jogo. Quando é mais negativo, prefiro ver o encontro inteiro e entender tudo o que correu mal. Quando é positivo, tento focar nos momentos em que errei. Porque, obviamente, quando é positivo, se for ver o jogo todo vou ficar deslumbrado e vou-me esquecer de olhar para o que foi negativo. Vejo aquilo que foi negativo e digo ‘ah, fiz aquele sprint para trás porque se calhar já estava um bocadinho cansado’. Começamos a arranjar desculpas que não são muitas vezes necessárias. Há influência do cansaço na jogada, mas temos de saber lidar com isso, temos de saber lidar com aquela que não era a melhor opção e temos de escolher outra. Se estou cansado, em vez de tentar correr com a bola, tenho de encontrar o passe mais simples e deixar a equipa respirar, para eu próprio conseguir respirar um bocadinho e voltar a subir no terreno para encontrar a minha posição novamente. Quando os jogos são positivos… Nós também temos uma aplicação que o clube que nos dá todos os momentos em que tocamos na bola ou quando fazemos certos movimentos pedidos pelo treinador, então tento focar-me mais nesses highlights.

- Há um ano, mais ou menos, disse, até em declarações ao site do Manchester United, que tinha pedido para conhecer o rumo do clube antes de renovar contrato. O seu contrato acaba em 2026, são dois anos para encontrar esse rumo?

- Sempre disse ao clube que não quero que me prometam que vamos ser campeões, porque, para qualquer clube que vá, não espero que me prometam algo que não conseguem cumprir à partida. O que sempre pedi e quero do clube é que nós sejamos competitivos. Neste ano, não o fomos e não temos de o esconder. A época tem sido abaixo das nossas expetativas, abaixo do que são as minhas expetativas, pelo menos. E acredito que do clube também, porque não está habituado a estar nestas posições. Eu quero ser competitivo, quero competir, quero ganhar. Já tive uma reunião com os novos donos. Eles querem reunir com os jogadores e já o têm feito individualmente, e foi exatamente essa a mensagem que passei. Eu quero ficar aqui, quero fazer parte de um projeto que tenha pés, pernas, tronco e cabeça, tudo o que é preciso para que possamos competir com Manchester City, Arsenal e Liverpool, que são os clubes que têm estado em melhor forma. City e Liverpool sobretudo, e o Arsenal, que nos dois, três últimos anos, também tem vindo a crescer. Após o ano passado, em que acho que fizemos uma boa época para as expetativas que existiam e para as minhas expetativas… Eu estava ciente de que não ia estar ao mesmo nível do que Liverpool e City, tinha essa consciência, mas também tinha consciência de que podíamos competir ou estar mais próximos, e estivemos mais próximos de competir com eles, chegámos a duas finais, ganhámos uma, perdemos outra, fomos até aos quartos de final da Liga Europa… Mas da época passada para esta não houve essa continuidade que deveria ter havido, que nos deixaria ainda mais competitivos, uma equipa mais em equação para estar nos lugares cimeiros.

Bruno Fernandes cumprimenta Jurgen Klopp, treinador do Liverpool (Foto: PA Images/IMAGO)

«Guardiola é o melhor do mundo, Klopp é paixão»

Bruno Fernandes é dos jogadores mais elogiados na Premier League, sobretudo pelos rivais, que nele veem a maior figura do Manchester United. O internacional português encara com natural orgulho todas as palavras de reconhecimento que recebe e não tem qualquer medo em retribuir, numa entrevista exclusiva a A BOLA.

- Vou ler-lhe uma citação: ‘Quando o Bruno tem a bola sabe-se que alguma coisa vai acontecer’. Sabe quem é que disse isto?

- Acho que foi o mister Martínez…

- Não, foi o Pep Guardiola. Foi um rival…

- Sim, sim, é verdade, já me lembro. Mas acho que o mister Martínez também disse algo parecido. Não vou mentir e dizer ‘sim, é bom’. Não, é ótimo! Estamos a falar do melhor treinador do mundo, sem sombra de dúvidas. Nos últimos anos, tem sido o melhor treinador do mundo. É provavelmente o treinador que mais mudou o futebol jogado. Hoje em dia, toda a gente quer ser Guardiola, não há que esconder isso. Todas as equipas, das segundas às primeiras divisões, toda a gente tenta jogar como o City e toda a gente tenta encontrar as dinâmicas que o City tem, porque têm resultados e sucesso. Para mim, ter elogios de um treinador como Guardiola é algo espetacular, porque, como disse, estamos a falar de um treinador que aprecio muito e que, para mim, ao dia de hoje, é o melhor treinador do mundo.

- Não é só Guardiola, o próprio Jürgen Klopp já falou bem de si, aliás colhe elogios de praticamente todos os rivais…

- Estamos a falar de um treinador que é um dos que mais aprecio, pela intensidade que coloca nos jogos e pela paixão que tem pelo futebol. Acho que o que ele fez agora é mais uma demonstração do quanto gosta de futebol. Sente que, não estando ao seu melhor nível, não está a dar o melhor de si ao jogo. E eu penso um bocadinho assim também, da mesma maneira que ele, provavelmente. É um treinador que mudou a dinâmica do Liverpool, que trouxe esperança ao clube. Se formos a ver, Klopp é o treinador que, provavelmente, menos títulos ganhou e, mesmo assim, mais conseguiu a nível da paixão do mundo do futebol, da paixão dos adeptos, da transformação que trouxe a um clube. Ganhou grandes títulos, ganhou a Premier League, a Liga dos Campeões e algumas taças, mas o maior prémio que vai retirar destes anos será a chama, a paixão e as novas dinâmicas que trouxe e que fizeram com que o Liverpool voltasse a acreditar em ser campeão, em poder lutar por títulos, em poder estar entre os melhores. Isso é algo que nunca ninguém vai tirar a Klopp. Estamos a falar de mais um treinador que marca muito aquilo que é a minha paixão pelo futebol.