A África de Jorge Duarte

Líbia A África de Jorge Duarte

INTERNACIONAL12.12.202012:33

Jorge Duarte ou Miguel da Costa. Estamos a falar da mesma pessoa, um treinador português, de 39 anos, que se candidata a ser reconhecido por uma das carreiras mais insólitas, rumou a África em 2016/17, depois de treinar os seniores do São Félix da Marinha. De lá para cá, treinou o Vipers, do Uganda, o Jwaneng Galaxy, do Botsuana, encontrando-se, agora, naquele que é o grande desafio da carreira, o gigante líbio, 16 vezes campeão do país, Al Ittihad, de Tripoli, onde se formou o médio Al Musrati, do SC Braga.

Confuso e perplexo com esta ficha? Apresenta-se o técnico: «Eu apresento-me como Jorge Duarte mas é verdade que na Líbia só me conhecem por Miguel da Costa, ou até Da Costa. Nasci em Espinho, joguei na formação do FC Porto e sempre tive uma atração irresistível por futebol. Mas o sonho desfez-se com uma lesão que me impediu de continuar a jogar. O bichinho ficou e já com curso comecei a treinar nas camadas jovens do Maia Lidador», elucida, lembrando Manuel José e Pedras como dois colegas dessa geração nos azuis e brancos.

«Depois trabalhei no São Félix da Marinha. Seguia no meu trajeto na AF Porto e, por estranho que pareça, recebi uma proposta da seleção nacional do Uganda. Fui ao Uganda, estive lá só dois ou três dias mas, entretanto, as coisas não correram como o desejado e acabei por voltar. Houve uma pessoa, que na altura estava na federação, que ficou com boa impressão minha e passado ano e meio chamou-me para treinar um clube, chamado SC Vipers», contextualiza Jorge Duarte, descrevendo a forma como superou o baque inicial.

Falta de organização

Os títulos logo vieram… «O início foi um grande choque de cultura. Um meio completamente díspar, embora rodeado de pessoas muito bem dispostas mas a viverem em condições a que não estamos habituados. Para eles é normal mas para quem chega um choque. Com o tempo assimila-se a cultura, a comida e a maneira de estar. Foi um entrosamento muito positivo. No campo fomos campeões, fomos à final da Taça e aos quartos de final da CECAFA, prova para equipas da África Central e Oriental», precisa o técnico português, intrépido viajante.

«Cheguei ao Botsuana e o Jwaneng Galaxy foi campeão pela primeira vez na história e também foi nossa a Taça. Era uma equipa gerida por uma mina de diamantes do país, a maior do Botsuana. É realmente um trajeto invulgar mas também corajoso. Tenho criado o meu caminho, pautado por títulos. Isso tem-me feito crescer como treinador mas também como homem colocado em diferentes ambientes e culturas», relata, longe de casa mas perto das referências de uma vida.

«O prolongar esta aventura em África tem muito a ver com o que já disse o nosso saudoso Vítor Oliveira. ‘O treinador de futebol deve ser das profissões onde o currículo é menos importante.’ Temos gente com um currículo fantástico fora do futebol. É aqui que me compete ganhar», reage Jorge Duarte, que tem sabido vingar para lá dos impulsos e caprichos dos dirigentes.

«O grande desafio é a falta de organização, a gestão dos clubes feita ao sabor do vento. Se queremos ganhar temos de conseguir um grande elo entre a equipa técnica e os jogadores. Só dessa forma dá para sermos fortes», garante, preparado para triunfar num clube com expressão continental, o Al Ittihad.

«A Líbia não deixa de ser um grande salto, tenho condições de trabalho, um centro de treinos próprio, uma organização dentro da nossa Europa. É um grande clube com tremendos adeptos, que joga sempre para ganhar e com uma história muito rica. É o maior clube do país, estamos a disputar a Taça da Confederação, equivalente à Liga Europa [vai defrontar o Pyramids, do Egito, na próxima eliminatória]. É um projeto ambicioso», sustenta.